Tema #6 José da Xã
Estava tão embrenhado na revisão dos textos que acabara de escrever para o jornal, que nem deu pelo telemóvel tocar, principalmente por aquele estar sem som. Eram quase 22 horas de uma sexta-feira invernosa.
Lá fora a chuva, sempre tão escassa, caía em torrentes quase diluvianas e o vento ajudava ao temporal. Um sopro sibilino, de alguma janela mal fechada, escutava-se…
Quando Malquíades descolou finalmente o olhar do monitor e o endossou para o aparelho telefónico que jazia a seu lado na secretária, percebeu que alguém lhe estava a tentar ligar.
Pegou nele e leu: Beatriz!
- Olá!
- Olá? Está tudo bem contigo?
- Sim.
- Pronto era só para saber…
Malquíades percebeu na voz da interlocutora algo que se assemelhava a um sarcasmo. Achou profundamente estranho, já que não era costume. Porém e sem saber muito bem porquê perguntou:
- Passa-se alguma coisa?
- Oh não, nada… Estás a trabalhar, não é?
- Sim.
Os monossílabos a imporem-se no diálogo de Malquíades… Como sempre!
- Vá fica bem e até amanhã.
- Até amanhã… - todavia a forma fria distante como do outro lado da linha se despediu denotava que algo estaria errado. Não percebia bem o que seria.
Beatriz desligou a chamada e Malquíades acabou de rever os textos. Ergueu-se por fim, espreguiçou-se, saiu calmamente do escritório e dirigiu-se à cozinha para recarregar a garrafa de água que sempre o acompanhava.
Recordou naqueles breves metros toda a história com a namorada. O seu olhar quase viperino que desconstruíra o coração da jovem, a paixão arrebatadora, depois transformada em amor profundo. O pedido estúpido e idiota que fizera a Andrelino para falar com ela, pedindo-lhe namoro por ele. Aquela tarde à beira-mar quando o sol se escondia por entre nuvens, céu e mar e onde ambos fizeram juras, tal qual os romances de cordel de um amor e uma cabana. Os segredos trocados ou melhor os segredos que Beatriz confessou perante o silêncio permanente do rapaz.
Encheu a garrafa virou as costas ao lava-loiça e reparou que na porta do frigorífico na parede oposta havia algo estranho. Aproximou-se devagar. Preso com um daqueles ímans trazidos do estrangeiro por um qualquer amigo, encontrou um papel escrito. Leu-o:
- Sexta-feira, 20 horas jantar com a Beatriz.
O seu coração quase explodiu. Procurou as horas de forma apressada no telemóvel e concluiu:
- Xiiiiiiiiii… grande bronca, esqueci-me completamente do jantar!
Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"
José da Xã escreve aqui
Acompanha todos os posts deste desafio aqui