Tema 2 - Gaivota Azul
Aromas de ervas mil enchem o ar.
Faz tempo que não cozinho. Sempre ajudou a clarear ideias.
Instintivamente reúno os ingredientes que irei necessitar.
Não preciso medir ou pesar, a mão não me falha.
Anos a fio em torno do fogão fizeram de nós cúmplices.
Lamurias, lamentos, dúvidas, esperanças e lembranças, tudo partilhámos.
Hoje olhei a imagem refletida no espelho e não me reconheci.
Acenei-lhe e ela sorriu-me de volta.
Vislumbres de uma vida preenchida, de uma vida feliz!
Imagens tão nítidas que negaria terem-se passado sessenta anos.
Abracei-me. Ainda vivo em mim!
Ocasionalmente passeio-me pelo passado.
Ultimamente agarro-me ao Aqui e Agora.
Tudo é efémero! A começar por mim.
Recuso-me a aceitar a noite eterna.
Obstinada, regresso ao comando daquele que sempre me pertenceu.
Frequentemente dou por mim a divagar. Resisto.
Organizo mentalmente os próximos passos.
Gestos rotineiros ensaiados e repetidos até à perfeição (ou exaustão)
Alguém bate à porta. É novamente a Saudade a chegar.
Oiço o que tem para contar. Algo me diz que desta vez veio para ficar.
Gaivota Azul escreve aqui.