Tema #2.5 - Joana Rita Sousa
- A questão é saber se chegas a ter consciência disso. Ou se achas natural.
- Acho natural o quê? – perguntou ele.
- Pronto. – disse ela – Já percebi que não tens consciência.
- Mas consciência do quê? – insistiu nele.
Ela sacou de um cigarro. Negro, com cheiro a baunilha. Nem se percebia bem que era um cigarro, dada a ausência do cheiro a tabaco.
- Não gosto nada de ter que te explicar isto. És um falso. Apregoas aos sete ventos uma coisa que não és. Ainda não percebi se te queres proteger ou se isso é uma forma de ataque.
Ele olhou-a. Sentia-se transparente.
- E não olhes para mim assim. Nem imaginas como me custa ter-te aqui e dizer-te isto na cara. Custa-me tanto saber que és outro. Nem imaginas como isso me chega a irritar. E afasta-me de ti. Só penso em formas de estar longe de ti. Mil e uma ginásticas.
O cigarro estava a chegar ao fim. Era tarde e a alma – que pesava toneladas - pedia descanso. A dela. Já a dele pairava algures naquele quarto a tentar compreender o sentido daquilo que tinha ouvido.
Era (cada vez mais) tarde. Ela puxou o cobertor e o lençol. Apagou a luz. Ele permaneceu sem resposta, com o olhar fixo na escuridão, que era o reflexo da sua própria falta de luz. No outro dia, pela manhã, ele não estava lá. Um bilhete na mesa de cabeceira a dizer "adeus". Ela respirou fundo: realizou-se o que há muito desejava.
Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia
Joana Rita Sousa escreve aqui
Acompanha todos os posts deste desafio aqui