Tema #2.3 - Pedro Vorph Valknut
Engodei o amor com os restos da vida, esgotado o manual para iniciar relacionamentos. Inteirei-me ao avesso, imaginando ouvir no não, consentimento, sentindo no Prelúdio, somente, o frio punhal do Final. A nada dei começo. Vivi viciado no fingimento do real. Por amar demais, muito cedo, no final, nada ficou. Guindado num desamor desorientado, pulsei de uma ninharia para outra, sem jeito nenhum. Se fui feliz, fingindo? Mas que outra coisa há, na vida, senão dissimulação, sendo a consciência a sua mais perfeita fabricação? Iludidos, por ela, fizemos excepcional o ordinário, do sexo ferino, o amor-beato, do interesse egoísta, a glorificada amizade (dos amigos exigimos sacrifício). Espanto, porquê? Reservemos as tredices para o bufão. Como somas nulas foram todas as minhas adições. A paixão teve em mim a densidão de uma ideia aérea. Um ser-amado, um amor rimado, foram-me, meramente, nascedouros de desilusão. Sempre houve mais afectividade simulada do que estima concretizada. Ainda criança, deitei ao Mar das Sensações essas ocas ideias, como balelas de salvação, na toa ilusão de um conhecimento que, pensado profundo, foi sabido à tona, no marejar da corrente inata da ficção (a realidade de hoje é somente um sonho bem lembrado). Que é isto tudo, estas verdades, nestas veredas, senão mentiras acordadas? E depois, há uns instantes, como os de agora, que emprenham o pensar, dando-me à luz num outro, que me dita: "sem darmos fé, dar-nos-emos ao deus a quilómetros de nada."
Tema da semana: Manual para iniciar relacionamentos
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