Tema #2.2 - Fatia
Ela voltou a sentar-se, limpou as lágrimas delicadamente com as pontas dos dedos. Sou um cavalheiro. Tirei o meu lenço do bolso, lavado, passado e dobrado pela minha senhoria, e estendo-lho. Aceita-o com alguma delicadeza e desfaz-se dele rapidamente.
- Se sabe quem sou, então saberá o que está em risco. Se isto se espalha pela comunicação social é o meu fim.
As suas palavras são sinceras. Está visivelmente transtornada mas o meu instinto continua a insistir que algo não está bem naquele aparato todo. A começar porque fui eu o escolhido.
- Muito bem. Mas antes de sabermos ao que vamos, preciso de saber porque resolveu recorrer aos meus serviços...
- Não resolvi... - diz timidamente - confesso que nem sequer sei o seu nome.
A plausibilidade de todo aquele aparato caiu por terra. Ergo-me da cadeira, pronto a mandá-la sair, mas a curiosidade queimava-me os lábios. Ela estava suspensa nas palavras que apenas ousava pensar.
- Joaquim Pedrosa. Quim. Pode tratar-me por Quim. Fui inspector durante quinze anos até que... - hesitei - até que achei que precisava mudar de carreira. Sou investigador privado. Mas isso já a senhora sabe. O que eu preciso mesmo de saber, agora, é o que quer de mim.
Fita-me longamente.
- Preciso que descubra a origem destas... ameaças. Eu não tenho este dinheiro todo e não me posso arriscar que isto - e aponta para o telemóvel que jaz sobre a mesa - venha a lume.
- Para isso preciso que me diga tudo. Sem qualquer pejo.
- O que precisa de saber é que envolve um médico de renome. Cirurgião plástico. Dr. Francisco Santo e Barbosa.
O nome congelou-me. A cor da minha cara esmaeceu ao ponto de ficar translúcido.
- Sente-se bem inspector Joaquim?
- Quim. Só Quim. - afirmei enquanto me dirigia para a estante onde guardava o whiskey - Com médicos, sabe, nunca fiando - respondi-lhe enquanto emborcava a medida de um trago só.
(continua)
Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando
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