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Desafio de Escrita

Tema #2.1 Pedro Vorph Valknut

06
Fev20

Deito-me, à manhã, atrasado. Debruço-me ao espelho do fundo da rua e inquieto-me numa indecência risonha. Meço o dia num estremecimento em sombra. Vogando à toa, velo por mim, e vejo, da ré, a vida de dó. "Viver é esquecer" lembro-me. A luz, mortiça, fia-me, em cotão, memórias de ocaso. Poucas, minhas, muitas outras, alugadas. Tanto faz. O que vivi, vivi, umas vezes só, outras sozinho, sentado, desbaratando-me, num sem crer. Tudo passou, em eterna repetição. Pus-me no jeito que a vida me deu. Um meio debruçado-fodido de belo efeito. Troco-me, ao passar de página, e nos pés, leio uma sina de asco. És tu, isto? À cabeceira poiso, em náusea, uns dentes baratos. Na boca, ninguém. A solidão, estoirou-me, na certa, o miolo. Enrolo-me no quarto, como nascente, apartado de tudo, apertado num quase nada, total, à espera do tiro acidental, fatal. O corpo estremece mole, sem tesão, ou tensão. Sangro absolutamente morto, sonhando estar no nascer de novo, a fuga....coisas novas e sérias, teria. E eu, por elas, um outro coiso seria. Com sorte, talvez, um gelado lambido, uma côdea mordida, tanto faria. Queria apenas ser capaz desse amor espiado em outros...mas não resta nada, nem nesse copo jogado, agora, à sorte, para uma certeza de perto. Estou falido, gastado. Em tudo o que é novo vejo, somente, quinquilharia caiada. "Pára miolo, deixa-me marinar no marimbando". Sendo, ergo-me, a custo de pulso, só, até à retrete e Acho Que A Coisa Não Vai Correr Bem... mas se ela passar que me embarque, do largo, até ao muito longe. Pudesse eu ter, quem não fui.

 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Pedro Vorph Valknut escreve aqui

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