Tema #16 Silvana
Amélia e a eterna adolescência
Amélia sentiu o aperto forte na sua mão, não queria abrir os olhos para que eles não se cruzassem com o olhar sofredor daquele cujas lágrimas caiam. O sofrimento dele era mudo, o dela era histriónico. Ele recolhia-se na sua concha, ela era o vendaval que destruía tudo por onde passava.
− Sei que me estás ouvir, Amélia! Abre os olhos, por favor.
Amélia inspirou profundamente e, continuando de olhos fechados disse:
− Para que é que queres que eu abra os olhos? Para o quanto sofrem os teus?
Ele bufou de exasperação.
− Quando é que vais crescer Amélia?
− Acho que não passarei mais do meu metro e sessenta e cinco.
Largou-lhe a mão com brusquidão, arrastou a cadeira para longe da cama, levantou-se e foi até à janela.
− Sabes onde te encontraram? Sabes em que condições estavas quando te trouxe para casa já de madrugada?
Amélia abriu os olhos e, finalmente encarou-o. Viu tristeza e algo pior. Naqueles olhos, que tanto amor já lhe deram viu a derrota. Ele estava a desistir dela.
− Desculpa, Óscar. – Amélia começou a chorar de forma intensa e com soluços que lhe descompassavam a respiração.
Ele não se moveu para a consolar. Preferiu virar os olhos para o jardim morto. Morto como a vida que ele tinha sonhado para ele e para Amélia. Sem vida, e sem maturidade como o olhar de Amélia.
− Estou cansado, Amélia! Cansado de te obrigar a crescer. Cansado de te tentar orientar. – Voltou a encarar a mulher vazia que jazia na cama e com o choro mais controlado. – O que queres da vida? Continuar a fugir do trabalho para passares o dia a andar nos carrosséis? A andar nos baloiços do parque? A fumar ganzas com os adolescentes do secundário?
Amélia não tinha resposta para aquilo. Havia algo que a impedia de ter uma vida ajustada a uma pessoa adulta. Para ela, a felicidade emergia da vida daquelas miúdas que não tinham medo de nada, que não viviam reprimidas pelo conservadorismo e religiosidade dos pais… Ela queria sentir aquela liberdade inconsequente.
Óscar voltou para junto da cama. Desta vez não lhe deu a mão. Suspirou, sentia-se abatido e sem energia.
− Não és uma adolescente, Amélia. Precisas de ajuda de um profissional. Precisas de encontrar um propósito para a tua vida.
−Eu sei… Ajudas-me?
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
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