Tema 1 - Ana de Deus
";Foi o que ouv" - Com base nesta frase, desenvolve um texto onde a mesma esteja implícita
David e Francisca queriam viver juntos mas, sem casamento, não tinham o apoio dos pais e muito menos dos avós! mas que escandaleira! imaginem quando voltassem de férias para a aldeia o tititi com que seriam recebidos! a vergonha com que a ausência de casamento difamaria a honra da família. nem pensar! já imaginavam o chocalhar de ossos no túmulo dos antepassados. uma tragédia grega fustigaria as gerações futuras.
cansados do drama, acederam à boda. mas só com notário! estavam determinados. o lugar do pároco era apenas na lista de convidados. os pais nem tentaram negociar e os avós contentaram-se. mas o vestido tinha de ser bem cingido, avisaram as comadres, para não haver dúvida que a noiva não está grávida. Francisca revirava os olhos perante as "tradições". por cada imposição que lhes faziam os dois jovens devolviam na mesma moeda.
o vestido seria branco e cingido mas com uma racha até à coxa, para abrirem o baile com um tango. David vestiria smoking preto e branco, com uma rosa vermelha na lapela. Francisca levaria presa ao cabelo uma rosa vermelha, que segurava um véu preto, em malha larga, que ficava pelo nariz. tinham-se conhecido nas danças de salão, que adoravam, o professor dissera que tinham uma química especial, desde então eram o par um do outro.
nenhum dos dois estava interessado em provar os menús propostos pelas avós pois ambos eram vegetarianos, tal como a maioria dos seus amigos. com desapego convidaram os amigos para testarem o seu serviço de catering preferido, reservando uma das salas do restaurante só para eles. e, durante a sobremesa, disseram que aquele serão era a maneira deles os convidarem para a boda, mas que nenhum era obrigado a aceitar. a maioria disse logo que sim.
todos faziam questão de estar presentes, só para verem a aldeia boquiaberta. é verdade que vão inaugurar o baile com um tango? como sabem!? Francisca e David estavam felizes por poderem partilhar aquele dia com a sua família de afectos. na manhã seguinte, logo ao raiar do dia, ligaram às comadres para estas acrescentarem mesas para mais sessenta convidados e contratarem uma educadora de infância para cuidar das crianças.
as mães disseram que as raparigas da aldeia o podiam fazer. Francisca disse que sim, que poderiam dar apoio à educadora de infância que elas iam contratar e despediu-se. não era negociável. não podiam ser amigas suas pois seria uma maldade convidá-las para a boda para se divertirem, só que não, e ocupar-lhes o tempo com trabalho. perguntou às amigas com crianças quem é que costumavam contratar para as festas.
de seguida ligou à mãe com os contactos de duas palhaços que eram educadoras de infância que tinham encontrado um nicho em que se sentiam realizadas. mãe e filha gostaram da ideia até David dizer, em alta voz, para recusar o número de pirotecnia. a mãe riu e desligou a chamada. onde é que ouviste semelhante disparate!? Francisca indagou estupefacta. David limitou-se a encolher os ombros.
A Ana de Deus escreve aqui.