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Desafio de Escrita

Tema #6 3ª face

25
Nov19

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Só agora consigo reconhecer que a traição do Tomás e da Beatriz sentenciou a minha incapacidade para amar.

Depois de tantos anos, continuo a deixar que a desconfiança vença alguns rasgos de paixão.

Não nasci para ser feliz.

É um fado como qualquer outro.

Ou talvez a vingança da vida pelo nome que me deram!

 

Prometo-me que não volto a apaixonar-me. A sonhar com alguém que oiça os meus silêncios e não desista de mim, quando me arranca do meio dos meus demónios.

 

Só voltei a ter namorado aos 18 anos.

Lindo e capaz de absorver a vida com ânimo.

Não sei o que viu em mim…mas sei que me amou. Provou-o tantas vezes!

Acreditei que o Rui me arrancaria dos fantasmas e decidi ir viver com ele, assim que falou nisso.

Eu acabara a escola e não tinha trabalho.

Ele começara um estágio mal pago.

Uma prima emigrada emprestou-nos o T1 desocupado, num quinto andar e lá vivemos seis meses, até que, no meio de uma discussão, o Rui  teve que me agarrar, já eu de pé.

No parapeito da janela…

 

Existiam segredos que ele ainda não sabia mas desconfio que os meus avós lhe terão contado pouco depois…

Ao fim de uma semana, anunciou que tinha arrendado uma pequena casa, junto ao rio, romântica e perfeita para nós.

- O amor e uma cabana, como nos contos de fadas – disse-me a sorrir, sem confessar que fora o pânico que o obrigou a encontrar uma casa rasteira.

 

Passei lá dois meses.

Eu não sou de viver junto ao chão, de onde emergem os monstros do passado.

E uma noite, bati à porta dos meus avós com a mala da roupa.

- O que aconteceu, minha querida? Saíste de casa ou foi ele?

- A culpa foi do frigorífico. E a conversa está congelada, não se fala mais nisso!

 

Não tive coragem para lhes contar que o Rui, nessa noite, cedeu!

Em lágrimas, reconheceu que não conseguia viver comigo, apesar de me amar.

Que precisa de uma mulher que se entregue, que lhe retribua a paixão. Que sente que me encolho cada vez que as suas carícias rogam por um pouco de prazer.

-És fria como um frigorífico. E eu dei tudo para tentar derreter o gelo que te envolve o coração - confessou.

 

Nos contos de fadas, não cabem três: o amor, uma cabana…e um frigorífico!

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

3ª Face escreve aqui

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Tema #6 Candeias

28
Out19

O Amor, uma cabana… e um frigorífico é tudo o que uma mulher precisa!

O amor-próprio é o primeiro, o imprescindível e o mais necessário de todos os amores. Depois desse vem o amor ao próximo!

O amor a um familiar, o amor a um vizinho, a um amigo e o amor onde se juntam, finalmente, as duas metades de uma laranja. Quando se juntam as duas metades da laranja é importante ter uma cabana...feita em cimento (que nem tudo são rosas) é que um dia se fosse feita a cabana em madeira podia ir tudo pelos ares.

Foi assim que Ana e Manuel decidiram unir-se: amor não lhes faltava, a cabana lá estava mas...nos momentos mortos havia que encher a barriguinha! Compraram então um frigorífico. Um belo dia começaram a cultivar a sua horta: deu alfaces, espinafres, endividas e tantas outras coisas e era com elas que enchiam o frigorífico. Ana com a ressaca (a falta) de doces optou por se satisfazer e fazer das horas de cultivo também horas de sexo, de sexo com amor entre as urtigas! E assim viviam ambos sempre satisfeitos de tal modo que a cabana (mesmo que fosse de madeira) continuava intacta. Partiam a loiça toda mas...era outro tipo de loiça.

O Amor, uma cabana… e um frigorífico é tudo o que uma mulher precisa! E...o que um homem deseja.

 

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

Candeias escreve aqui

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Tema #7 Alexandra

28
Out19

Isto está cheio de pó, não me dá descanso à rinite alérgica. Esta loja parece que não passou do ano 1970... O senhor Firmino é bom patrão, mas às vezes apetece-me mandá-lo para o pé do Hitler. Mandou-me encher as prateleiras com os milhentos frascos de compota de abobora com amêndoa, que lhe vendeu o gajo que agora faz publicidade ao Calcitrim, quando ainda era distribuidor da Casa de Mateus. Quer que as venda todas. Estou fodid....

Estava perdida nos meus pensamentos a tirar gelo dos pacotes de ervilhas quando m’entra a Constança pelo estaminé:

- Oh Rosa, ainda há pão?

- Há pois, de forma. Atão ao meio dia é que vens ao pão mulher?

- Era p’ro almoço. Não m’apetece fazer comer ia arranjar umas sandes.

- "Comida". Não te apetece fazer comida.

- Foi o qu’eu disse. A que horas comes?

- Quando o velho chegar. Queres ir almoçar à Glória?

- Pode ser. Já agora, quero uma máscara para o cabelo que estou c'as pontas todas secas. Tens aí o teu catálogo da Avon?

- Esquece isso. Leva esta compota de abobora com amêndoa.

- Com amêndoa? Se fosse com nozes.

- Mas com nozes não te dava para o cabelo.

- Tá parva. Não gozes.

- Não estou a gozar. Ainda por cima és ruiva, nada melhor do que a abóbora.

- Oh Rosa, fala a sério, vá.

- É sério. Não sabes qu’abóbora é rica em vitamina E, excelente para pele e cabelo? Se comeres já é bom, mas se usares diretamente, faz maravilhas. Nutre, hidrata, intensifica brilho e faz a cor natural vibrar.

- Natural? Isto é tinta mulher.

- Para isso vem a amêndoa. Faz uma exfoliação e penetra até às raízes... uma maravilha digo-te.

- Se calhar vou experimentar.

- Experimenta. Leva dois frascos, um para os cabelos e um para comeres com umas tostinhas, quando te der a preguiça de fazer o almoço.

- Está bem. Já agora, levo três que deixo um na minha irmã. No cabelo não lhe deve fazer mal aos diabetes?

- Levas dois pacotes de tostas, qu’o segundo tem 15% de desconto.

- Então espero-te na Glória que vem lá o teu patrão.

...

- Ti Firmino já vendi três compotas.

- Muito bem, já só faltam 97.

- Sacana do velh...

- O quê?

- Vou almoçar e já venho. Até logo Ti Firmino.

 

Tema da semana: A Constança precisa duma mascara capilar mas o teu patrão só quer que vendas compotas de abobora com amêndoa. Convence-a a escolher a compota para usar

Alexandra escreve aqui

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Tema #6 Mia

25
Out19

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Estamos no ano de 2078. Eu e um pequeno grupo decidimos ir mais para norte. Ouvimos que um grande grupo encontrara uma solução para as noites serem seguras. 

Quando chegámos deparámos com um acampamento pequeno, algumas fogueiras, estendais com roupa e pouco mais.

Uma velhinha, pessoa rara nestes tempos, deu-nos as boas vindas e perguntou se estávamos de passagem. Expliquei quais as nossas intenções.

Entretanto começa a chover, para não variar. Agora o tempo era de chuva ou encoberto, sempre muito frio. Já não me lembrava da última vez que tinha vivido um dia de Sol.

Perto do que seria o final dia, chegaram mais pessoas, traziam lenha, alimentos e artigos recolhidos do chão. Metais, pedaços de plástico. Por volta do ano 2035 o plástico tinha sido abolido e agora era um bem precioso.

Chegou perto de nós um homem, o líder do clan, perguntou se vínhamos para ficar. O líder passou a explicar então como funcionavam as rotinas da vida daquele acampamento. Os legumes eram cultivados num lugar ali perto, os peixes eram apanhados na costa. Dividiam-se em grupos para as diversas tarefas.

Disse que dormiam no frigorífico e que á entrada faziam uma grande fogueira, o que ajudava os guardas a afastar algum animal.

No frigorífico?  Lá explicou que chamavam assim á grande caverna de gelo onde dormiam, a temperatura lá dentro era mais ou menos 5ºC como os frigoríficos de antigamente. 

Por detrás de uma entrada pequena, abria-se uma enorme caverna, dezenas de pequenas tendas espalhavam-se pelo espaço. Á noite recolhemos todos ao frigorífico e ajudaram-nos a construir as nossas tendas. Quem tinha par, ficava numa tenda, famílias noutra, quem estava sozinho tinha que arranjar alguém para ficar porque as tendas davam para o máximo quatro pessoas.

Tinham descoberto que conseguiam manter a temperatura corporal, se dormissem nus debaixo da tenda que retia o calor e impedia que se dispersasse pela caverna.

Eu não tinha par, não podia ficar sozinha numa tenda. O líder convidou para me juntar a ele. As vergonhas, tabus e merdisses há muito que tinham ficado para trás.

Passei a desejar a noite, onde me sentia segura, quase quase a raiar a felicidade. Era o meu lugar, onde entre abraços, sonhos, beijos e peidos, sorria e dormia sem medos.

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

Mia escreve aqui

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Tema #6 Triptofano

25
Out19

Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf

Brrrrrrrrrrrmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf....Hrrrf

Brrrrrrrrrrrmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

PPPHHHEEEEEEEEEERRRRRRRRRRRRRRRRRRTT

O ecrã do Nokia 3310 cinzento sujo iluminou-se num triste aviso de que não restava mais do que 10% de bateria. Jocilene alcançou o telemóvel, e num instante mandou uma mensagem a Ícaro.

Amo-te. Estou no lugar seguro. Aguardo que voltes. És as minhas asas que me levarão ao sol.

O ano era o de 3127.

Jocilene encontrava-se sozinha numa pequena cabana, entaipada de qualquer raio de luz ou de olhares curiosos, onde os únicos sons eram os da sua respiração rítmica e o zunido constante do mini-frigorífico abastecido até à exaustão de garrafas de Gatorade laranja escarlate e barrinhas energéticas da Prozis com sabor a chocolate-hortelã e pedaços de amêndoa caramelizada.

Os únicos até o telemóvel ter vibrado relembrando-lhe que em breve ficaria isolada do que restava do mundo.

Volta depressa. Preciso de ti. És a espada com a qual eu luto pela liberdade que ambos desejamos.

Depois de séculos de péssimos governantes, cada um mais demente que o outro, o planeta Terra tinha chegado a um ponto de não retorno, com os recursos naturais a tornarem-se inexistentes.

Numa decisão pateticamente desesperada, os líderes mundiais aceitaram um contacto de uma raça de alienígenas, os Ondasentrons, que pretendiam salvar o planeta da destruição iminente.

Mas na verdade eles apenas estavam interessados no Neotigason, um minério totalmente desprezado pelos terráqueos, mas que os alienígenas necessitavam para estabilizar as baterias de lítio das suas naves que lhes permitam fazer saltos nos buracos do espaço-tempo.

Eu sem ti, quem era eu sem ti, um Inverno sem sinais de Primavera - PRECISO-TE!

Em vez de salvar a Terra como prometido, os Ondansentrons destruíram ainda mais o planeta com uma mineração exaustiva, tendo no processo escravizado brutalmente tudo e todos, independentemente do grau de riqueza ou do número de followers no Instagram.

Jocilene fazia parte de um pequeno grupo de resistentes, que movendo-se nas sombras tentava fazer frente aos alienígenas. Foi no grupo que conheceu Ícaro, e bastou um segundo arrebatador para se apaixonar tresloucadamente.

Onde estás? Quero-te! Onde estás? QUERO-TE! ONDE ESTÁS? QUERO-TE!

Ícaro tinha ido numa missão com outros rebeldes para tentar ganhar controlo duma secção estratégica do planeta, e desde então não tinha dado mais nenhum sinal de vida, deixando Jocilene num limbo entre o desespero da saudade e a loucura da dúvida.

POR FAVOR DIZ-ME ALG....

O telemóvel morreu.

Usava aquele modelo antigo porque a tecnologia primitiva não era captada pelos alienígenas, mas agora tinha ficado isolada do mundo, na total escuridão da cabana apenas interrompida pela suave luz azul-metalizada que provinha do frigorífico.

tmp tmp tmp

Ouviu passos lá fora! Teria sido descoberta?

A glande do seu clitóris emergiu do prepúcio, tornando-se mais acessível ao toque, mas Jocilene não estava sexualmente excitada. Sempre que havia perigo o seu clitóris dava sinal daquela forma, era uma espécie de super-poder mutante que lhe tinha permitido sobreviver até ao momento.

Tacteou na penumbra o taco de golfe, a única arma que tinha conseguido trazer para o refúgio que pensava, ingenuamente, ser totalmente seguro!

A porta escancarou-se num pontapé e a luz banhou o interior da cabana!

PORRA JOCILENE!!! Outra vez este circo???? Quando é que vais começar a tomar a tua medicação como deve ser?

Foram as últimas palavras que saíram da boca escancarada do gerente da Decathlon enquanto o seu corpo pesado caía inerte no chão, vítima da tacada que Jocilene lhe desferiu na ânsia cega de lutar pela liberdade dos terráqueos.

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorifico"

Triptofano escreve aqui

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Tema #6 - A Caracol

25
Out19

A mesa estava posta.
O jantar estava pronto.
O aquecimento estava ligado.
Era mais fácil elaborar a lista de tarefas mentalmente, a última coisa que queria era estragar aquela noite. Afinal, não eram todos os dias que se celebravam 20 anos de casamento.
Olhou em volta da pequena cabana, satisfeita com o resultado.

André ia adorar!

Era o seu lugar preferido, as suas flores favoritas e o seu prato predilecto. Iam ter que apertar o resto do mês, mas pelo menos hoje poderiam refastelar-se na carne tenra de um cabrito assado.
De regresso ao quarto depois de um banho quente, Sara vestiu o vestido verde esmeralda que o marido lhe dera num Natal.
“Condiz maravilhosamente com os teus olhos” – elogiara André.
Estremeceu ao recordar o som pesado da sua contra o seu pescoço. A mãos hábeis que lhe desapertaram o vestido, desembaraçando-se dele de uma só vez. A língua atrevida e destemida, redescobrindo cada pedaço de pele nu, saboreando os seus recantos mais escondidos.
Forçou-se a parar por ali antes que perdesse o controlo e terminou de pentear o cabelo.
O crepúsculo conferia à pequena cabana uma tonalidade alaranjada, quente e aveludada. Acendeu as velas do parapeito da lareira e colocou o castiçal na mesa.
Do velho frigorífico, já gasto e com ferrugem em algumas zonas, tirou um Planalto fresco que abriu sem demora.
- Um destes dias este velhote tem que ir para a reforma. – dizia constantemente André.
Sara refutava, alegando que a idade trazia personalidade e conferia carisma ao velho frigorífico. Era das poucas peças que a cabana possuía quando a compraram, das poucas a que Sara se apegara. Estava com eles desde sempre, tal como aquele esconderijo que há 20 anos se tornara o pequeno tesouro deles.
A noite caiu estrelada, com quarto minguante perfeito.
André iria adorar.  Talvez pudessem observar as constelações, depois do jantar.
De volta à pequena sala, Sara colocou o jantar na mesa. Cheirava divinamente.
Sentou-se, aspirando novamente os aromas familiares e reconfortantes da pequena divisão.
Tabaco, madeira, comida caseira, canela e maçã. Absolutamente perfeito e tal qual se lembrava, desde sempre.
Sorrindo, serviu-se de carne e batatas.
Encheu o copo de vinho, levantando-o num brinde imaginário à figura que a fitava  atravésda moldura colocada no local onde estaria o segundo prato.


- A nós, meu amor. Onde quer que estejas.

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

A Caracol escreve aqui

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Tema #6 A Gorda

24
Out19

O amor tinha-se-me acertado como a rolha descontrolada de uma garrafa de espumante fatela na noite de ano novo.

Tinha dezoito anos, estava fresca como uma alface e arrebitada como um nabo.

A ‘nha tia Graciete convidou-nos para almeçar em casa dela no Bairre do Passarote Amarelo e nós quisemos aproveitar a tarde para laurear a pevide pela Baixa, por isso apanhámes o cacilheire. Maravilhoso, o Tejo todo cagado com lixo e duas ratazanas a nadar bruces em família. Imaginei-nos aos dois, na piscina Municipal de Lavacolhos, a nadar com os nosses patinhes.

Foi então que óvimes um estronde, eu sobressaltei-me e disse pro Adalberto:

- Isto vai ao fundo, de certeza que bateu no ceberg.

- Tás parva?!

Não estava, o cacilheire ia ao fundo e eu não podia deixar que nos afogássemes com todo o amor que tinhames para viver. Empurrei o Adalberto para um barco salva vidas e lancei-nos ao rio. Suspirei de alivio.

- Já viste a merda que fizeste, Custódia!? Tu não vês que o barco só tinha um problema de motor? O que é que a gente faz agora?

Remámes e remámes ainda mais. Fomos dar uma ilha com vista para Lisboa. Olhei à volta e percebi que o meu sonho se realizava.

- Olha Adalberto, estames sós. Amor, uma cabana e...um frigorific.

- Aquele monte de paus que arranjaste não é uma cabana e não sei onde raio estás a ver um frigorífico.

Apontei ao fundo, era azul e até tinha uma alça.

- Aquilo é uma geleira com a merenda de algum pescador que para aí anda.

- Não Adalberto, é um frigorífic. Atira-me contra ele e vais ver como o meu hímen lá fica pespegado. Até pareço uma lembrança do Pragal.

O Adalberto papou-me com força e vontade. Papou-me forte.

Depois começou a anoitecer e percebemos que não íamos sair dali.

- A guarda costeira nunca mais aparece pá!

Exasperava-se o Adalberto. Eu, sempre rata a maquinar construi uma embarcação com uns pedaços de madeira. Convenci o Adalberto a pôr-se lá em cima e fomos Tejo afora. Mas o Adalberto era pesado e eu acabei por lhe dizer que tirasse o cu gordo de cima da jangada. Homem que é cavalheiro afoga-se pela sua gaja.

Quando a guarda costeira apareceu o Adalberto tinha um tampão usado no ouvido esquerdo e uma tainha a mamar-lhe da boca.

Não nos voltámes a ver.

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

A Gorda escreve aqui

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Tema #6 Fátima Cordeiro

24
Out19

Intervenção da narradora-autora: Matilde, a esposa de Guilherme, sentiu o cheiro a cerveja mal ele transpôs a porta nesse dia, uma hora depois de ter saído do café com Guillaume. Havia cheiro a cerveja e suor no ar. O patrão de Guilherme havia ligado para o seu telemóvel: ele não aparecera para trabalhar à tarde! Matilde tinha passado a tarde a trabalhar e a pensar onde estaria o marido desta vez. Teria voltado aos encontros clandestinos com a amante? Esse pensamento não tinha muita lógica – Guilherme nunca faltou trabalho para estar com a amante – mas na cabeça de Matilde as situações já tinham deixado de ter lógica à muito. Deixara de conhecer o marido desde que descobrira as suas traições. Está certo que voltara para casa, a viver com o marido, a ter sexo com ele por vezes. Mas mesmo assim olhava-o sempre como quem olha um desconhecido.

Foi por isso com muita surpresa que Matilde escutou Guilherme nesse dia.

Guilherme: Matilde, ninguém ligou para mim?

Matilde: O teu patrão. Onde tiveste? Andas-me a trair de novo? Quem é ela?

Guilherme: Tive a beber cervejas com um francês que conheci lá na cidade. Guillaume… raio de nome! Ele é gay, portanto, nada de histórias nessa cabeça!

Matilde: Histórias? Tento esquecer o que se passou mas tudo me lembra as tuas traições. Como saber que hoje dizes a verdade?

Guilherme: Eu estou a dizer a verdade! Tens de confiar em mim!… Olha, tive a pensar: e se saíssemos desta casa, desta cidade, destas rotinas e começássemos do zero noutro sítio? Só tu, eu, uma casa vazia e um frigorífico cheio de comida?

Matilde: Queres dizer: ambos desempregados e a viver de favores? Olha que eu já vivi assim. É muito mau. Os outros acabam por pensar que os estamos a explorar, mesmo quando não é verdade.

Guilherme: Oh humor… Pareces a Ana Raquel daquele programa da SIC… O Casados!…

Matilde: Experimenta viver na minha pele durante dois dias seguidos e depois falamos, está bem?

Guilherme: Mas precisamos de reiniciar a nossa relação. Nunca mais te traí desde que voltaste para casa. Acredita em mim! Temos de nos dar uma oportunidade. Queres combinar um fim-de-semana só nosso? Arranja uma data.

Intervenção da narradora-autora (em modo relato de futebol): Depois da surpresa inicial de Matilde, tudo se encaminhou para a discussão básica de todos os dias. Guilherme e Matilde esgrimiram argumentos com mestria, enquanto Matilde preparava o jantar. Infelizmente, nenhum dos dois marcou golo.

 

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Fátima Cordeiro escreve aqui

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Tema #6 - Marina

24
Out19

2001太空漫游

Imagem do filme 2001, Odisseia no Espaço ( Kubrick) in Pinterest

Nunca estivera dentro de um frigorífico daqueles. Era branco por dentro, com luzes brancas e cabia lá dentro um corpo imóvel.

Fechou os olhos e pensou em praias, em ondas calmas como os seus batimentos cardíacos. Naquele momento pensava que estava no cenário do filme “2001, Odisseia no Espaço” de Kubrick, que vira há muitos anos numa versão sensacional no velhinho cinema “Mundial”.

Apesar dos tampões nos ouvidos, escutava aqueles sons tremendos daquele computador “AL” que, tal como no filme, tinha tomado poder sobre o seu corpo naquele “frigorífico humano”.

Fechou novamente os olhos. Pensou no Amor, naquele amor inesperado, tão bom, que tinha tudo: cabana em transumância, riso, entusiasmo, paixão, como se fossem os dois adolescentes.

“Não se esqueça: tem de ficar imóvel, senão tem de repetir. Se não se sentir bem, carrega nessa buzina com a sua mão direita.”

Ali, naquela clausura forçada, pensava como é que todos os dias, milhares de pessoas, em todo o lado, estavam ali deitadas naqueles “frigoríficos”. 

Uma imensa coragem têm todos os que repetem estas idas.

Só pensando no Amor e em todas as cabanas, nos filhos, é que se aguentam aqueles vinte minutos.

“Terminou. Correu tudo bem. Daqui a cinco dias terá o resultado.”

Lá fora, perto das oito da noite, a sala da imagiologia estava cheia.

Tantos, ainda, pensou.

música. "Assim falou Zarathustra", Richard Strauss- tema de abertura do filme "2001, Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrick ( all rights reserved to Richard Strauss).

 

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Marina Malheiro escreve aqui

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Tema #6 Belinha

24
Out19

– Apresento-vos o Marquês. É Português. Vai ajudar-nos à festa, mais logo – disse Luísa, retornando à cozinha.

Na sala, os convidados acercaram-se dele mas isso não impediu o Marquês de notar uma pequena encantadora, de verde esmeralda, no extremo da mesa. A curva pronunciada da sua cintura parecia esculpida mesmo à medida da mão de um homem.

Luísa trouxe o bolo de aniversário por si confeccionado para Norberto. Como se tivesse adivinhado os pensamentos do Marquês, conduziu-o e ao seu objecto de desejo até à cozinha. Fechou a porta e a luz atrás dos dois.

A luminosidade das velas entretanto acesas na sala a todos envolveu numa atmosfera aconchegante ao redor da mesa.

– Parabéns a você... – começou Luísa, logo seguida dos convidados.

O aniversariante, de cabelo acinzentado curto e denso, cantava, sorrindo:

– Nesta data querida…

De repente...

– Muitas fe-fe...

...voltou ao princípio.

– Parabéns a você…

Todos riram. Sempre brincalhão. Mas quando ele deixou cair na mesa a faca de cortar bolo que segurava, agarrando-se depois à cabeça, parecendo ter dores, Luísa, exclamou:

– É um AVC! Chamem uma ambulância! Acendam a luz.

Luísa empurrou a cadeira de rodas para onde havia espaço. Examinava-o procurando acalmar-se, acalmando-o. A boca ao lado confirmava-se.

Norberto ficara em observação. Era cedo para prever o futuro. Chegada a casa, acompanhada pela incógnita, deitou-se. Ela sabia que eram necessários mais exames para apurar a causa do acidente isquémico. O cansaço venceu-a.

A sede despertou-a pela manhã. Na cozinha lavou e fatiou laranjas e maçãs na tábua. Cortou os morangos maduros. Juntou tudo num jarro, mais uns bagos de uva branca e um gole de licor de laranja.

Abriu o frigorífico. A garrafa de Marquês de Marialva estava colada à de água gaseificada. Aquele par lembrou-a do seu casamento, um ano e meio atrás. Norberto vestido de castanho mel, ela de verde, ele, enorme, ainda que sentado, ela, uma miúda. A jovem enfermeira, que viera a Portugal de férias, despedira-se depois do Brasil para casar com um velho aleijado e sem dinheiro. Morariam num R/C degradado com vista para a fábrica, origem da reforma antecipada do operário por incapacidade. O amor era aquilo. Não trocaria aquela cabana por outro lugar no mundo se era onde ele queria estar.

Acrescentou o espumante e a água com gás. Misturou. Faltava o gelo. Dois copos. Encheu-os.

– À nossa! – disse. Bebeu um a seguir ao outro. E outro. E outro. Até conseguir chorar.

 

Tema da semana: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"

Belinha Fernandes escreve aqui

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