Tema 3 - Lu
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- Não aguento mais contigo! - afirmei, enquanto o atirei para longe.
Aquele vestido já não me serve, não me fica bem. Já nada me fica bem. Já não me reconheço
neste corpo. Desde que o bebé nasceu, que já não consigo olhar para o espelho. A cicatriz ainda
me dói... nem a fralda eu consigo trocar. Tenho que me ajoelhar. Dói-me tanto as costas!
Estou tão cansada. Cansada das fraldas, das mamadas, das fraldas outra vez, das papas, noites
sem dormir, mamas dormentes, cabeça dormente, costas dormentes... Quero fugir.
Já não me lembro de tomar banho, trocar de roupa, maquilhar-me, sair para trabalhar. Aquele
f... despediu-me. Só porque estava grávida! Grande merdoso. Se fosse a esposa dele a ser
despedida, ligava para as autoridades. E agora? O que vai ser da minha vida?
Estou feia, triste, dormente por dentro. Eu vi a conversa dele com ela, on line. Acho que ele não
sabe que vi. Ele também já não deve gostar de mim, por isso lhe falou assim. Nunca conversou
comigo assim. Também precisei tantas vez do seu apoio e ele nunca me encorajou assim. Ele
convidou-a para um café. Eu sei que eles trabalham juntos e que ele chega sempre tarde a casa.
A viagem é tão curta, porque demora tanto tempo? A noite cai tão cedo e eu conto os minutos
todos até ele chegar. Para me sentir acompanhada outra vez... Eu sei que ele não tem saudades
minhas.
Eu sou fria. A mãe disse-me que eu era fria e calculista. Ainda era adolescente e ela tinha razão.
Nunca me ensinaram a ter mimo nem a dar mimo. Não lhe sei dar mimo e ele queixa-se. Será
por isso que já não tem saudades minhas?
Eu sei dar mimo. O meu bebé sabe que eu sei. Aqueles dedinhos tão perfeitinhos e aqueles
olhos que só me apetece beijar, olham para mim como quem olha para quem dá mimo. Eu amo-
o tanto! Não sabia que era possível. Eu ouço mal... e se ele chora a meio da noite e eu não
acordo? Não posso pegar no sono profundo. Estou tão cansada! E se ele precisa de mim?...
Queria tanto mergulhar na banheira. Mergulhar de cabeça e sentir paz e silêncio e sossego...
Vou encher a banheira e acabar com isto de uma vez. Espera, ele tem que chegar a casa
primeiro. O bebé vai ficar sozinho, pode precisar de mim. Eu tenho que ficar aqui... por
enquanto. Ele ainda ficou na festa com os nossos amigos. Ouço os foguetes, mas não tenho
ninguém para festejar. Ainda ontem esteve no café com o pessoal. Porque quer estar com eles e
não connosco?
Vou abrir aquela garrafa. Já está no frigorífico há tanto tempo, deve estar fresco. Vou
adormecer num instante e já não vou sentir mais nada. É isso! Não posso... e se ele chora outra
vez?
Sam ao Luar escreve aqui.
Tinha tantas saudades dele. Fazia um ano que ele partira sem deixar rasto, sem dar uma
explicação.
Pensou sempre que ele era o amor da vida dela. Desde o primeiro beijo, à primeira vez
que tinham estado juntos na cama. Era tudo perfeito. Era tudo como ela sempre
sonhara.
Por vezes, claro, também tinham discussões. Mas nada de grave e sempre resolvidas
passados poucos minutos. Ela tinha uma imensa capacidade de o perdoar...
Nada fazia prever o que acontecera um ano antes. Ela saiu para trabalhar, ele ficara
ainda a dormir. E, quando ela voltou para se arranjar para um jantar que tinham
marcado no seu restaurante preferido, algo estava diferente. E, foi então que percebeu.
As coisas dele não estavam. Nada. Era como se ele tivesse conseguido apagar a sua
existência naquela casa, a casa que partilhavam há mais de dois anos.
Não havia uma peça de roupa, um calçado ou até algo de higiene. Nada. Nada que a
fizesse acreditar que, realmente, naquela manhã, ele ainda ali estava.
Soube, dias mais tarde, que ele dissera à família dele que simplesmente não queria mais.
E desapareceu. Nunca mais ninguém o vira, mandando apenas algumas mensagens à
irmã de quando em vez, para lhes assegurar que estava vivo.
E, desde esse dia vertiginoso, ela nunca mais voltou a ser ela. Faltava-lhe uma
explicação. Faltava-lhe perceber o porquê. O como. E, acima de tudo, faltava-lhe ele.
Faltava-lhe o seu abraço, o seu conforto. O seu amor.
"- Não aguento mais contigo!" - afirmou, enquanto o atirava para longe. O retrato dele
que continuava a pesar na sua carteira e, acima de tudo, no seu coração. Este sentimento
era tudo o que ela queria tirar de cima de si. O sentimento de vazio, de tristeza.
Não sabia como o faria, mas sabia que tinha de o esquecer. Hoje à distância, o
sentimento de vazio que sentira naquele dia, há um ano atrás, mantinha-se. E sabia que
precisava de o fazer desaparecer
Ele era ainda as suas borboletas na barriga. Era ainda o sonho de uma vida. Era o livro
que tinha começado a escrever e que, repentinamente, tinha sido rasgado. Não sabia
colar a folha, nem continuar a escrever...
O que ela precisava mesmo era de um milagre. Um verdadeiro milagre.
A Lara escreve aqui.
Havia longas horas que Valdemar não tirava os olhos do velho monitor que lhe ocupava metade da secretária. Esta também parecia quase nem existir tal era o profusão de
processos que se alastravam por cima do tampo, uns em cima dos outros, em torres de papel pouco equilibradas, não obstante haver um recado permanente e preso num dossier escrito em letras garrafais por ele próprio e que dizia: amanhã dia de arquivo. Porém todas as manhãs o inspector quando chegava lia o papel e exclamava para si a sorrir: ah é só amanhã.
E assim continuava a bagunça.
Alguns colegas brincavam com ele por causa daquela desorganização, essencialmente pedindo-lhe informações de crimes resolvidos, mas que poderiam estar relacionados com outros mais recentes, no intuito único de o verem vasculhar no meio de tanta celulose. No entanto Val rapidamente sacava do fundo das resmas do tal processo, deixando os colegas quase sempre muito desconfortáveis. Mas naquele serão não eram processos para relatar e arquivar que Valdemar buscava, mas tão-somente algo que lhe desse uma indicação, que lançasse alguma luz sobre o crime que tinha entre mãos.- Que caneco… mas este tipo ou tipa não tem qualquer informação nesta base de dados… nem uma multa de estacionamento…
Nada! – desabafou quase zangado.
Sentiu bater no seu ombro e deu um salto na cadeira. Adormecera sem dar por isso a olhar para aquele monstro informático.
- Bom dia Val… ficaste aqui a noite toda ou vieste directamente da borga? – perguntou-lhe o chefe acabado de chegar à Brigada.
Valdemar sentiu-se levemente ofendido, mas nada devolveu ao chefe, a não ser:
- Bom dia Aquiles, fiquei aqui à procura de algo sobre o assassínio de há um mês… e nada! É desesperante…
- Val… vai para casa! E se não conseguires resolver não serás o único. O que falta no arquivo são casos por resolver…
- Ó chefe parece que não me conhece. Eu quando pego numa coisa não a largo até esmiuçar a situação. Mas esta… tem dado água pela barba.
- Ouve… aceita um conselho… vais para casa, dormes umas boas horas, comes devidamente e quando estiveres recomposto regressas. Estás a perder tempo sem ganhar
conhecimento. Vá pira-te daqui!
- Mas chefe…
- Em vez de conselho passa a ser uma ordem! Desaparece daqui! Chispa!
Valdemar ergueu-se da sua secretária devagar pegou na capa do processo pouco volumoso e…
- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.
As folhas soltas voaram então pela sala e por cima se uma série de secretárias obrigando-o, antes de regressar a casa, a reunir toda a papelada.
José da Xã escreve aqui.
Francisca contratou uma empresa para limpar a casa e só depois começou a telefonar para as lojas onde já tinham comprado a mobília. ligou, pausadamente, para terem tempo de decidir como haviam de dispôr cada coisa. a primeira divisão a mobilar foi o quarto do casal. os pais apareciam com almocinhos vegetarianos caseiros, para matar saudades e acompanharem a transformação da casa.
um dia encontraram os pombinhos desavindos e insistiram em saber porquê. depois de muito suplicarem, Francisca cedeu e disse entre lágrimas: o David vinha a carregar o monitor do computador. o pré-histórico? perguntou a mãe a tentar não rir. de repente, sua excelência o meu marido afirmou: não aguento mais contigo! - enquanto o atirava para longe, no descampado perto de vossa casa mamã.
amor, implorou David, ainda hoje vai chegar uma surpresa que vais adorar. o que é que pode ser melhor que uma memória tangível da minha adolescência!? gritou Francisca. como resposta, batem à porta para entregar um iMac 24'' da nova geração. agora, estou perdoado!? indagou o marido. não aguento mais contigo! exclama a jovem, e acrescenta: anda cá seu parvo, cobrindo-o de beijos.
numa semana a penthouse ficou pronta. estava tudo a decorrer como os dois jovens tinham planeado. a segunda semana era para uma pequena lua-de-mel num hotel em Sintra. prometeram aos pais que no último sábado faziam a inauguração da casa com um jantar só com eles e os avós. tinham escolhido aquele hotel pois a suite da lua-de-mel inclui uma piscina.
David surpreendeu o seu amor com refeições entregues pela catering preferida de ambos, com quem o hotel trabalhava. não tencionavam sair do quarto durante aqueles sete dias, de domingo a sábado. tinham saudades um do outro. com disponibilidade total. ambos eram filhos únicos pelo que, em Lisboa, os pais estavam a viver a sensação de ninho vazio. as mães passavam horas ao telefone.
os compadres decidiram começar a jogar golfe em parceria. era sagrado, todos os dias de manhã. as mães tiveram então a ideia de se juntarem os quatro para almoçar. uma semana na casa de uns e na outra semana na casa dos outros. todas as manhãs, uma das mulheres levava o marido a casa da comadre, e os compadres seguiam para os campos verdejantes do golfe.
estavam a habituar-se a esta nova rotina com facilidade. os filhos iam ficar orgulhosos quando soubessem como em apenas uma semana os progenitores se tornaram amigos inseparáveis. na sexta-feira decidiram experimentar a tal catering vegetariana que os filhos tinham contratado para o casamento. optaram por um buffet para quatro pessoas, ficaram encantados! e felizes: no dia seguinte podiam voltar a abraçar os seus meninos.
Mais uma quinzena, mais uma voltinha no carrossel temático das aves cá do burgo. Preparados para pôr aí a centralina da imaginação a funcionar?
Cá vai:
- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.
Desta vez, a frase deve fazer parte da composição e é em torno dela que a deverão compor, em prosa ou em verso, com mais de 100 e menos de 500 palavras, sempre em língua puramente 'tuga, devendo ser publicado no dia 4 de junho, às 15:00.
Até lá e enquanto atiram e não atiram coisas, podem sempre ler os textos desta quinzena.
Lista de participantes aqui.
Boas escritas!
Tinha apenas 17 anos (certo que quase a fazer 18, mas o que é que se sabe aos 18?) quando entrei na faculdade. Sabia que curso queria seguir desde o 7.º ano. Não me interessava que me dissessem que não tinha “saídas” ou que havia demasiadas pessoas na área. Eu sabia que queria Direito. Mas ter nascido (e viver) numa ilha fazia com que aquele objetivo se tornasse um bocadinho mais difícil de atingir. Não seria a primeira, nem a última, portanto sempre pensei que se os outros conseguem ir, eu também vou. E fui.
Lembro-me que dispensei a companhia do meu pai para me levar porque tinha uma rapariga bem conhecida que entrara para a mesma cidade. Então, juntas de certeza que seria mais fácil, pensava eu.
Mas não foi bem assim. Enquanto não tínhamos tratado do alojamento (que para mim seria uma residência universitária) ficámos na casa de uma amiga da amiga…ora de manhã saíamos e só podíamos regressar ao fim do dia quando a amiga voltasse. Parece que éramos umas sem-abrigo que não tínhamos para onde voltar. Era tão difícil…longe de casa e com esta sensação. Continuo a lembrar-se da sensação como se tivesse sido ontem…
Chorava todos os dias a pensar que queria voltar para casa…era uma angústia constante. A amiga que nos deixou dormir lá em casa ajudou ao nos deixar lá ficar mas…caramba…há menos de um ano ela tinha passado pelo mesmo…como se podia ter esquecido do que era sair de casa e começar uma vida tão diferente…cidade nova, faculdade, colegas…
Pensei que se algum dia me pedissem “abrigo” ao chegar, tentaria fazer diferente…ao menos encaminhar minimamente a pessoa e tornar menos difícil o início.
Depois de encontrar casa e ter finalmente onde colocar as minhas coisas e poder entrar e sair à hora que bem me apetecesse, senti-me logo melhor. Mesmo que tivesse meio quarto (porque era partilhado) era tão bom! Engraçado que a minha colega de quarto também vinha de longe e compreendeu-me bem…ela é, ainda hoje, a minha melhor amiga…
Hoje, 20 anos volvidos desse momento, reconheço que há dores que fazem parte do crescimento, e esta para mim foi uma delas. Das que me ensinou muita, muita coisa.
Tema da semana: Uma aventura/momento que te tenha marcado
Outra escreve aqui
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Uma pequenina aventura
Ou é impressão minha ou os temas estão a ficar mais pessoais?
Mau Maria que o gato já mia.
Problemas, só problemas!
Em Dezembro de 2018, integrado num dos projetos finais de um curso superior, participei na versão fofinha de um rallly-paper, que é um Petpaper as receitas revertiam a favor da Associação Zoófila de Leiria – Fiéis Amigos e o “pagamento” da inscrição era feito em mantas, produtos de limpeza (sem amoníaco), comida ou dinheiro para esterilizações.
A Associação Zoófila de Leiria – Fiéis Amigos é uma associação sem fins lucrativos como tantas outras que existem país fora, que lutam diariamente com dificuldades para cuidarem de animais que são abandonados ou resgatados de maus tratos. Estão permanentemente lotadas e carentes de voluntários e de dinheiro. A limpeza não se faz sozinha nem com vento, o veterinário não é gratuito e comida e o carinho que os animais precisam, não caiem do céu.
Um primo desafiou-me a fazer par com um ele para o Petpaper, agarrámos nos questionários e canetas e lá fomos nós a todo o gás. (mais ou menos devagarinho)
Foi uma forma muito divertida de conhecer Leiria, pois atravessámos a cidade do Castelo ao Moinho do Papel com uns zig zag pela Zona Histórica.
Subimos até à PSP que fica a caminho do Castelo, descemos à Rua Direita, passámos pelo Terreiro, pela Praça Rodrigues Lobo, pelo antigo Banco de Portugal, pela Fonte Luminosa, pelo Jardim… ufa… o dia ameaçava chuva, mas pôs-se uma tarde maravilhosa.
A cidade estava cheia de pessoas e de grupos em atividades diversas, os Escuteiros também andavam a vender biscoitos para angariar fundos para as suas atividades.
Só tive pena que o percurso tivesse que ser feito a dar corda aos sapatos, porque havia tanta coisa interessante para visitar dentro dos edifícios por onde passámos, mas havia um tempo limite para cumprir a prova!
Mesmo assim fomos os últimos a chegar! Aqui a prima gosta muito de fazer perguntas!
Mas não fizemos batota! Errámos respostas, mas foi por aselhice e nabice, porque nos esfalfámos a andar por todo o lado, não tenho uma única foto desse percurso porque estava concentrada no meu papelinho e caneta para anotar as respostas.
Entretanto já passei por 3 desses locais com calma, Sé Catedral de Leiria, Igreja da Misericórdia e a Casa dos Pintores.
Nota: Nas palavras a rosa existem links para postes meus com fotos dos locais que menciono.
Tema da semana: Uma aventura/momento que te tenha marcado
Miluem escreve aqui
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Intervenção da narradora-autora: Passaram-se duas horas. Guillaume e Guilherme beberam seis cervejas (todas pagas por Guillaume).
Guilherme contou como aos 18 anos saiu de casa para trabalhar nas obras e conheceu a sua primeira namorada. Namoraram dez anos. Nessa altura ele mudou de emprego. Depois ela casou com outro e ele casou com a esposa. Guilherme e a esposa tiveram dois filhos.
Aos 40 anos tudo mudou: voltou a encontrar a ex-namorada e tornaram-se amantes. O caso durou 10 anos + IVA. E terminou cinco anos antes desta conversa com Guillaume. A mulher de Guilherme nessa altura descobriu tudo e decidiu sair de casa. Mas a separação durou cerca de nove meses. Nessa altura a esposa voltou, convencida pelos irmãos, que não a queriam em sua casa. Também motivada pelas palavras e atenções de Guilherme, que quase e ajoelhou perante ela! Entretanto a amante foi viver noutra cidade com o marido.
As relações de Guilherme mudaram muito desde que convenceu a mulher a voltar. Teve de abandonar o machismo e aceitar fazer todas as tarefas da casa que a esposa de pedia. E periodicamente havia crises, em que ela se lembrava das traições passadas.
Guillaume não ficou surpreendido com a história. Os seus primos portugueses tinham muitas histórias semelhantes. Perguntava-se o que aconteceria quando decidisse revelar a sua história a Guilherme, o que aconteceu duas horas depois das primeiras cervejas.
Guillaume: Grande história! Ter uma amante… Eu tive… J'aime les hommes ... je suis gay ... Sou gay… J'ai découvert à 12 ans… Será que não se importa de me ouvir?
Intervenção da narradora-autora: Guilherme deixou de beber cerveja. Assustou-se. Pensou ir embora. Tudo isso em dois minutos confusos. Mas decidiu ficar e ouvir Guillaume.
Tema da semana: Uma aventura/momento que te tenha marcado
Fátima Cordeiro escreve aqui
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Melhor que relatar qualquer acontecimento recente, é rever um de há quase quarenta anos.
Estava no ensino Secundário, em Humanidades (Humanística na época) e tinha, nesse ano, duas disciplinas aos Sábados, lecionadas pelo mesmo professor, que se repetiam às Segundas-feiras. Como cristã, criada numa família Adventista do Sétimo, guardo o Sábado, como dia de adoração a Deus e tinha dispensa das aulas ao Sábado. Ninguém se incomodava ou me incomodava com isso, a não ser quando se marcavam os testes, normalmente dois por período escolar.
Lembro-me que normalmente fugíamos dos testes às Segundas-Feiras para podermos aproveitar o fim-de-semana para fazer o que durante a semana não tínhamos tempo para fazer e embora a maior parte da turma, não se importasse de os fazer nesse dia, por minha causa, havia duas colegas especialmente desagradadas com essa possibilidade, que cada vez que se marcava um teste, batiam o pé. Nessa altura, a democracia e a maioria, eram abafadas e deitadas por terra, com as reclamações delas. Ainda recordo a expressão do professor na minha direção e eu a encolher os ombros. Então ficou definido que um dos testes seria em dia de Sábado e o outro à Segunda-feira.
No fim do ano letivo, reunimos à porta da sala dos professores, esperando que o professor desse a nota acompanhada de uma das frases: tem de ir a exame ou dispensou de exame.
Metade da turma foi a exame e a outra metade dispensou. As minhas contrariadoras colegas ficaram na primeira metade e eu fiquei na segunda.
Eu sei que foi a ação do professor que assim o ditou, eu sei que se ele contabilizasse as minhas notas numa média de 6 testes eu nunca seria dispensada de exame. Ele limitou-se a fazer a média pelos três testes que eu fiz, considerando que se tive 13 ou 14 valores nesses, não iria de certeza ter menos de 10 se fizesse os outros.
Escolhi este acontecimento, não para exibir a minha vitória, que foi o que eu fiz nessa altura, perante toda a turma, mas para refletir que não foi vitória minha, foi ação de Deus que usou como instrumento, o meu professor. E nessa altura, eu não percebi, nem agradeci, estava por demais focada em mim e em me exibir perante os meus colegas, em especial perante duas delas.
Tema da semana: Uma aventura/momento que te tenha marcado
Maria João escreve aqui
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