Criança, ela pensava que, quando crescesse, a vida seria tal como aprendera nas histórias. Qual Gato das Botas, ardilosa e hábil com as palavras, assim tornaria o mundo um lugar melhor para os outros, e para si. Avisada, nem Formiga, nem Cigarra, saberia escolher uma profissão divertida. Assim seria fácil derrotar os monstros da fome, do escuro e do frio, sem prescindir da folia. A beleza seria o desígnio deste Patinho Feio ultrapassadas as dores do crescimento, uma qualidade natural que um dia se revelaria como um botão de rosa que desabrocha. A verdade sempre seria preferível à mentira, esse nariz de Pinóquio demasiado comprido para disfarçar. Sempre alguém andaria por perto para despertar a sua boa consciência, evitando erros estúpidos. Mas errando, encontraria no erro uma lição a extrair. A vingança, nunca uma maçã venenosa que valesse a pena fazer engolir a alguém. O amor chegaria garboso e valente, numa reluzente armadura de heroísmo. Duraria uma vida e uma morte. Confiava ela que ser uma heroína estava escrito algures num livro monumental e que a sua missão cumprir-se-ia no futuro como num conto de fadas. Se por ingenuidade se achasse na floresta, na boca do lobo, se perdesse o fio à meada do seu destino na encruzilhada dos dias, ou se achasse subitamente confusa num labirinto de escolhas, uma fada madrinha viria em seu auxílio.
Até que, jovem adolescente, acordou cedo, numa madrugada fria, no rescaldo do primeiro desgosto amoroso, com uma certeza que a abalava e combalia: era tudo uma mentira. Estava por sua conta e risco. Só podia contar consigo para derrotar os dragões do medo, da insegurança e da incerteza, e outras criaturas assim, que se atravessassem no caminho do seu triunfo. A realidade já não a deixou dormir. Havia razões para temer o desconhecido. Ser adulta devia ser então aquilo: ter uma vida pela frente, cheia de mudanças abruptas de parágrafo, pontos de exclamação, reticências. Um dia de cada vez. Um ano de cada vez. De improviso em improviso. Até à última página, até ao ponto final, sempre uma constante interrogação. Mesmo sem perceber toda a urgência com que a vida, naquela madrugada decepcionante, a chamava a ser sua protagonista sem rede, mesmo tremendo de frio, e temendo o futuro, intimamente sentia que começava ali a grande aventura. Não entendia ainda bem o que fazer. Apenas o que não fazer. E era um bom princípio.
Tema da semana: Sobre a vida adulta. Ainda não entendi o que é para fazer
O tema desta semana, sei-o já, é a vida adulta. Os Pássaros acrescentaram-lhe um "ainda não entendi o que é para fazer". Desnecessariamente: se alguém entender o que é para fazer, provavelmente terá esquecido que fazer pela vida não é o mesmo que viver, olvidará talvez que fazer e ser são verbos distintos - e não por acaso.
Se não nascemos com destino determinado, como creio, então apenas poderemos ter nascido para ser o que a vontade e as consequências, nossas e terceiras, nos possibilitarem. E nascer para ser não é fácil, há que aprender todos os dias pois todos os dias nascem possibilidades. Possibilidades boas, possibilidades más, impossibilidades... e as escolhas são consequência de outras aprendizagens, em continuidade porque a vida não se interrompe vivendo. E, por mais abruptos que sejam os ressaltos, por mais longe que possamos aterrar, partimos sempre do ponto em que estávamos: quem somos.
Não somos adultos por opção. Não somos adultos por decreto.
Adultecemos.
Um dia, não há muito, perguntaram-me quais as minhas maiores realizações pessoais. Sorri e pensei que nada estava realizado, encerrado. Porque a vida pode ser feita de muitos capítulos, mas nenhum inconsequente. Então, como considerar realização o que em permanente construção, destruição, reconstrução, desconstrução e, de novo, construção?
"Ter um filho, escrever um livro, plantar uma árvore". Metaforicamente, tudo fiz antes de a lei me dizer adulta. Metaforicamente, ainda tudo faço. E faço-o por ser, e por ser vou aprendendo a fazer em cada tempo. Porque adultecer é tarefa para muitas vidas - a nossa e a dos outros.
Nota de rodapé: o AO90 tem 30 anos. Como é possível um acordo ortográfico chegar a esta idade sendo um nado-morto gramatical?
Tema da semana: sobre a vida adulta.... ainda não entendi o que é para fazer
Mesmo a jeito este tema. Assim dá para divagar um bocadinho. A “sociedade” ensina-nos que temos de fazer isto, aquilo e mais um par de botas. E eu, depois de cumprir esses requisitos entrei em negação e confusão geral. Pois nada me fazia sentido. Era como se andasse a deriva, sem qualquer tipo de rumo. E qualquer direção servia. Nada importava. A minha alma gritava de agonia. Confesso, que quando decidi mergulhar mais a fundo no meu Ser, fiquei perplexa com aquilo que descobri. Descobri que tinha pensamentos de morte. Dei por mim a desejar ter uma doença grave, para poder ter uma desculpa para desistir. Dei por mim a desejar morrer, para não ter mais de sofrer com o buraco enorme que sentia no meio do meu peito. Não estava a conseguir encaixar as peças do meu puzzle de vida, e de acordo com os padrões ditos “normais” da sociedade, eu era um completo fracasso. E aceitei passar pelo meu processo e me entregar ao Universo. Não tem sido um processo fácil. É difícil aceitar, confiar e deixar fluir. Ensinam-nos que devemos controlar, lutar, fazer e acontecer. Quando na realidade não é bem assim. (Atenção, para mim, não é bem assim.) E os meus últimos anos têm sido passados a aprender a olhar para tudo de uma forma diferente. E quando estou a sentir muita resistência, tento perceber o que é que o meu Ego está a sentir, qual a emoção dissimulada. Esta fase ainda não está bem definida e fácil. Ainda levo algum tempo a processá-la. Mas está tudo bem. Tenho de dar tempo ao meu tempo. Este ano, o meu desafio pessoal é aprender a valorizar-me, porque sou como sou. O que faz sentido para mim, não tem de fazer para os outros. E está tudo bem. Um passo de cada vez. Uma coisa de cada vez. Preciso trabalhar as relações. A relação comigo e as relações com terceiros. Nos seus diferentes níveis. Foi um longo processo de isolamento e transformação. E agora a borboleta está pronta para começar a romper o seu casulo.
Felicidade na Unidade.
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
A vida não foi lhe simpática. A escola correu por entre as horas vagas do campo. Primeiro o gado, as sementeiras e as colheitas, a feira semanal e tudo aquilo que quem fez do campo lar conhece. Só depois as letras e os números.
Os primeiros traumas chegaram com a guerra. Com 19 anos, Salazar acampado no poder, saiu da metrópole para viver a brutalidade da guerra nos solos e na humidade da Guiné. Deixou os pais em sobressalto e a namorada a rezar pelas noites dentro. Viu colegas a morrerem ao lado e acompanhou estropiados até ao barco que os trouxe de volta com o destino amarfalhado em nome da pátria, atraiçoados por algo que não sabiam bem o que era ou o que representava.
O regresso foi cruel. Vinha diferente, demasiado desconhecido. Até para ele. Ainda assim, a Rosa, muito receosa, não se escondeu e convenceu-o a construírem uma vida conjunta. Embora, por muitas vezes, se sentisse sozinha a lutar por sonhos que, nem sempre, eram de ambos.
A primeira filha, a Conceição, assistiu ao casamento alojada no ventre. Os outros apareceram com os invernos. Todos companheiros na travessia do tempo.
Empregou-se no comércio. As vidas dos clientes atenuavam-lhe os sonhos nas noites de pavor. Começou a esquecer-se. Apenas a rasgos recordava sons e cheiros e os sabores das africanas que muitos pensamentos e tremores lhe aliviaram pelas selvas distantes de Bissau.
Enquanto isso a Rosa suava numa fábrica têxtil, onde tecia panos em teares gastos. Os filhos secavam-lhe as dores enquanto atava os fios que se rompiam pela ação da lançadeira, ainda de madeira.
A sorte surgiu quando o Gervásio o desafiou a caminharem serras fora. Aprendeu uma língua diferente, numa profissão em que memorizou os gestos, afundado num buraco que não se distinguia do estábulo dos animais dos tempos de escola.
No verão seguinte fazia-se acompanhar pela Rosa e os filhos quando cruzou Vilar Formoso e olhou para trás.
Empenharam couro e suor, enquanto sonhavam numa barraca, mais uma num bidonville triste, algures nos arredores de Paris. Muitas noites deitaram-se com um caldo quente, depois de cozinharem para os filhos que os preocupavam pelos amigos a que se juntavam.
Aos poucos os suores retornaram silenciosamente pelo escuro. E, sem surpresas, soube que tinha que abalar.
O Inocêncio, num julho onde o fogo não deu descanso, trespassou-lhe o espaço. (1)
Foi o justificar do retorno ao ventre da mãe terra.
O percurso de operário da Peugeot a taberneiro foi célere, mas não foi fácil. Ainda assim, esforçou-se. Dedicou-se, envolveram-se todos, para que o arrependimento não se intrometesse nos seus silêncios. Por vezes apaziguadores. Muitas vezes não.
Com o negócio a correr melhor, a dar para mais do que a sopa, conseguiu fazer a vida um pouco mais meiga para os filhos. Mesmo que meiguice não tenha abundado pela sua pele e alma. Exceto quando as mulheres africanas, que frequentemente ainda lhe toldavam a imaginação, o faziam sonhar com as noites distantes mas sufocantes.
Nunca foi religioso até porque, tal como a pátria, não sabe bem o que isso representa. Deus, talvez demasiado ocupado, não se cruzou com ele. Ele, demasiado cansado, não se esforçou para o encontrar. Mas tirava um dia por ano para uma incursão a Fátima, onde incluía um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, uma doação nas esmolas e uma vela a queimar no velário que, por vezes, se assemelhava a um dragão a expelir fogo. Mais fumo que fogo, mas pronto. Não tinha a certeza se seria do leitão e do espumante tinto da Bairrada, mas o regresso era sempre melhor.
Mas, como tudo, cansou-se das semanas de 365 dias. Das longas noites que teimavam em repetir-se. Das refeições interrompidas e das sestas onde não se envolveu. Das festas que não comemorou. Das férias que reviu nas fotos dos outros. Dos anos que não sentiu o virar do calendário, dos escuteiros da freguesia, pendurado atrás do balcão de inox.
E também se fartou das malditas ambições que, com vontade própria, esticavam sempre que as alcançavam. Mesmo que a vida, ressentindo-se, não o sentisse ...
E, foi assim, que o meu tio Jacinto resolveu poisar a vida e as ambições em descanso. E aguardar (em pânico como se confessa nos seus silêncios cada vez mais frequentes) por algo ou alguém que o irá conduzir para onde o quiserem. De preferência sem dor. Ou pelo menos enquanto sonha com a macieza da pele quente de uma negra na sua, fria e excessivamente áspera.
Atenua o medo navegando, pela internet, a mais recente descoberta, pelo café, que já foi dele, ou pelas ruas empedradas, da vida que passam em sprint. Esquece os sonhos que não teve, arrastando os pés por caminhos que parecem não ter sentido ou direção, embaralhando as cartas com as mãos gastas à procura do ás de trunfo, saltitando entre imagens que não reconhece, umas e outras sempre com o olhar distante e perdido. Muitas vezes vazio.
Porque a vida não foi lhe simpática. A ele e a muitos outros.
Por causa de um desafio dos pássaros, que parece desesperadamente interminável, fi-lo refletir sobre o seu tempo e o seu espaço. Um silêncio depois disse-me com a voz subtilmente arrastada:
“Sou mais velho que o tempo e estendo-me para além do espaço que imaginamos!”.
E suspirando concluiu:
“Mas sei que só estou bem aonde não estou e só quero ir aonde não vou”.
E veio-me à memória o António que mora em cada um de nós ... (2)
Notas do sapo: (1) Atingiram-se aqui as 400 palavras. A responsabilidade de continuar a ler este texto a partir daqui é exclusivamente sua. A gerência do espaço não se responsabiliza pelos danos que essa leitura adicional lhe possam causar, hoje ou no futuro (2)https://www.youtube.com/watch?v=B_Ij425SMcA
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
E aqui estou na consulta de avaliação final com o psiquiatra.
Acham que já reúno condições para a alta hospitalar.
(Eu não quero! Aqui sinto-me protegida. Convivo melhor com a loucura dos outros do que com a minha, lá fora.)
O Dr. Sousa pergunta-me como me vejo.
(Eu sinto-me um pássaro dentro de uma gaiola de porta aberta e que se recusa a enfrentar a liberdade.)
Mas respondo-lhe que me revejo novamente na alma de uma jovem adulta.
- E para onde vais, quando saíres daqui?
(Ao Alentejo não regressarei. É demasiada vergonha para mim e para os meus padrinhos, depois do que lá fiz. Apesar de ser aquele o pedaço de terra que me torna feliz.)
- Vou para casa dos avós, aqui em Lisboa.
- E o que queres fazer nesta vida adulta?
(A minha avó contava-me que, em criança, a mãe a obrigava a trabalhar continuamente, para que aprendesse a ser uma adulta responsável.
Não tinha ordem de brincar nem de descansar.
No pino do Verão, com a calmaria abrasadora que a telha vã não tapava, a minha avó dormia a sesta debaixo da cama, escondida, para que a mãe não desconfiasse que estava a descansar e julgasse que andava no monte a guardar os perus.)
- Vou voltar a estudar e arranjar um emprego para pagar os estudos. Talvez num supermercado, pois tenho experiência da loja dos meus padrinhos. Não quero dar mais esse peso aos meus avós.
Mas sei que tenho o processo em tribunal, por causa da agressão. O advogado diz-me que o mais provável é passar uns meses a fazer trabalho comunitário. E irei cumprir o acompanhamento médico, aqui na psiquiatria, para não voltar aos surtos psicóticos.
- Sabes, minha pequena, acho que está na hora de voltares à tua vida. Amanhã já terás o papel da alta. Avisa os avós para te virem buscar, que ainda quero falar com eles.
E agora?
O discurso assertivo não condiz com o que sinto cá dentro.
Ainda não percebi o que é isto de ser adulto.
Amanhã começo a procurar uma cama alta, onde me possa esconder, como a minha avó fazia quando dormia a sesta…
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
Eu ainda não entendi o que é para escrever neste tema, como esperam que perceba o que é ser adulto?
Em criança, olhava um tanto deslumbrada para os adultos. Nunca tive pressa de o ser, mas achava que aquelas vidas eram mais interessantes do que a minha e tentava imita-los nas longas tardes em que fazia as Barbies exasperarem-se com o trabalho, os filhos nas escolas e as casas para arrumar.
Padeceram um cadinho as senhoras Mattel.
Os adultos têm que trabalhar, pagar impostos, aturar pessoas chatas... e eu não tenho paciência para nada disso.
Às vezes sinto que estou velha, mas adulta nunca me senti e nem sei se quero.
Os meus olhos continuam a brilhar quando vejo bolinhas de sabão, continuo a gritar quando vejo uma aranha, acredito no Pai Natal...
A única coisa boa de ser adulto é que se pode beber como gente grande.
Os adultos normais, eu não, que sou fraquinha.
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
A sério que vamos começar o ano a falar sobre a vida adulta? Bem, pensando melhor, até que faz sentido numa época em que todos fazemos balanços e estabelecemos novos objectivos e desejos para o ano que agora começa. Existirá coisa mais adulta do que este hábito que, regra geral, acaba em frustração e desilusão?
Não me recordo de, quando criança, ter pensado no que desejava para o ano novo. Certamente, pensava na lista de presentes que gostaria de receber no Natal, mas nunca me ocorreria que a mudança de ano significava alguma coisa na roda dos acontecimentos da minha vida. Assim sendo, este deverá ser o primeiro sintoma de que, no fim das contas, já sou uma pessoa adulta.
Mas existe uma enorme diferença entre ser adulta e entender o que é suposto se fazer nesta fase das nossas vidas. Curiosamente, fui uma criança feliz mas com uma vontade enorme de crescer depressa, na ânsia de ser dona do meu nariz. Quanta inocência... Quem nos contou que os adultos são livres e que podem fazer tudo o que lhes aprouver?
As prisões só se alteram e tornam-se mais subtis, pois não nos chegam através da voz do pai e da mãe. Em vez disso, passamos a ser prisioneiros do patrão, dos amores, do dinheiro, do status social, só para dar alguns exemplos. Até as responsabilidades são capazes de nos colocar grilhões nos pés e nas mãos. Isto sem contar com a moral ou até com a opinião dos outros.
De facto, não acredito que seja possível passear pela vida adulta sem nos agarrarmos a estas âncoras, que nos colocam com a falsa ideia de que estamos em terra firme, com raízes fortes e estáveis. Uma ilusão com um preço demasiado elevado, na minha opinião, sobretudo porque sou apaixonada pela ideia da liberdade, esse conceito maravilhoso e tão utópico.
Os carcereiros da minha prisão na vida adulta são as responsabilidades e o vil dinheiro. Não consigo fugir deles, mesmo quando recuso a todos os outros. Claramente, ainda não percebi muito bem o que é suposto se fazer, mas continuo a procurar as respostas e as perguntas para que este seja um caminho de felicidade de dentro para fora.
Tema da semana: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer
Naqueles tempos, pelos corredores da faculdade, esta estava associada ao casamento e a um conto de fadas trivial. Isto, para alguns, já que outros pretendiam a dependência económica dos seus progenitores e a concretização de sonhos, alguns dos quais bizarros, para aquele tempo. Os sapos surgiram, um dos sapatos não se perdeu no baile de finalistas, o amor deu lugar ao devaneio e o ser perfeito revelou outra face. Nem todas as conquistas foram fáceis ou alcançadas. Os honorários desmoronaram-se, alguns amores tornaram-se impossíveis ou incompatíveis com casamentos previamente traçados por alguém. O Rui não viveu uma história de amor com o João. Ainda hoje há quem diga que estão impedidos de tal e condenados ao Inferno. O Pedro, tão cedo, disse-nos adeus, com o corpo em chamas, face ao tratamento de uma doença que julgávamos associada a maus-hábitos.
Com o decorrer do tempo, compreendi que a justiça é utópica, mas o mais difícil foi constatar que a vida não é justa.
De e para causas, um mar revolto manifestou-se. A esperança e a crença de um mundo melhor, para todos, começou a esvair-se em sangue coagulado. Lágrimas de sedimentos, puras ou não, de acordo com as memórias. Faculdades perdidas, derrotas e quantos erros. A fase adulta chegou e eu, aqui, procuro associar variáveis, resolver sistemas de equações, encontrar uma fórmula mágica para o sentido da vida. A única certeza, a morte.
Enquanto isso, tenho uma mão repleta de pequenos nadas, mas que mesmo assim procuro dar. Envelhecer é um fenómeno biológico irreversível e o abandono o caminho fácil, neste novo mundo desprovido de valores e imerso na falta de afetos.
O que faço, para onde vou ou o que me espera, mantenho gentilmente em frascos de ansiedade, cujo veneno é letal. Potes de amor, na eterna dúvida do Ser.