Sentiu o jacto quente a invadir-lhe as entranhas.
Ele tinha-se vindo, sem a avisar ou pelo menos fingir que estava a tentar controlar-se para ela também conseguir chegar ao clímax. Aquelas fodas eram sempre assim, bilhetes de primeira classe para o Nirvana que acabavam por ser viagens em carruagens bolorentas pejadas de caganitas de rato para lado algum, terminando com ela montada num pedaço ofegantemente inerte de carne vascularizada.
Desmontou aquele bardoto mascarado de puro-sangue, e dirigiu-se à casa-de-banho.
A médica tinha-lhe dito que a melhor forma de prevenir as infecções urinárias, que eram recorrentemente dolorosas no seu caso, era urinar depois de cada relação sexual e tomar um comprimido de furadantina.
Engoliu o comprimido e sentou-se na sanita para mijar, libertando um jacto quente, tão quente como aquele que lhe tinha invadido as entranhas poucos minutos antes. Talvez Lavoisier tivesse razão, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Olhou para o gel íntimo com uma embalagem obscenamente resplandecente que o farmacêutico da zona lhe tinha recomendado para lavar a zona genital, porque segundo as palavras dele uma vagina bem limpa é uma vagina supimpa.
Paneleiro do caralho, de certeza que nem nunca tinha chegado perto de uma rata e tinha o desplante de afirmar à boca cheia o que era melhor para a vagina alheia. Tinha-lhe comprado a merda do gel só para não o ouvir e raramente o tinha usado, apesar de ter de admitir que quando o fazia a sensação de conforto com que ficava era desconcertante.
Olhou pela janela da casa-de-banho.
Os primeiros raios de sol começavam a aparecer, aniquilando as sombras que invadiam o seu jardim.
O jardim onde adorava escavar, remexer a terra, sentindo-lhe o cheiro e a textura.
O jardim que fazia fronteira com a casa da vizinha, uma desbocada que tinha tido o desplante de lhe dizer que não conseguia dormir com os gemidos dela, quando na verdade não conseguia era dormir com os gemidos que o marido emitia naquele vídeo que percorreu toda a aldeia, onde em toda a sua repulsiva nudez era penetrado por uma voluptuosa Shemale.
O mesmo jardim onde empoleirados no diospireiro samarrudo viviam meia dúzia de pássaros, meia dúzia de ratos com asas que não se calavam um minuto que fosse, principalmente quando ela entregava-se ao prazer de cavar.
Tinha chegado a atirar-lhes com uma pedra, a ver se eles desapareciam e a deixavam em paz, mas só tinha conseguido umas horas de silêncio, com os pássaros a olhar para ela de forma acusadora, com a ausência de som a ser brutalmente ensurdecedora.
Talvez eles apenas a quisessem avisar de algo, ou fazer companhia, ou serem cúmplices de um segredo que pressentiam que ela abrigava no seu íntimo. De qualquer das formas já os tinha aceitado na sua vida - ou será que eles é que a tinham aceitado a ela?
Um raio de sol atravessou a janela e incidiu-lhe no pulso, fazendo brilhar a pequena tatuagem de um louva-a-deus.
Relembrou a ocasião em que a vizinha abelhuda viu-lhe pela primeira vez a tatuagem, perguntando num misto de sarcasmo e exagerada ofensa moral se também ela era daquelas mulheres que comiam os homens e lhes arrancavam as cabeças depois.
Do quarto ouviu o ressonar profundo do seu bardoto, abandonado a uma simplicidade nojenta de sonhos com mamas e conas, e não conseguiu evitar rir em surdina.
Descarregou o autoclismo, e, abrindo-lhe a tampa, retirou de dentro uma faca do mato que deixava imbuída num pequeno recipiente com uma solução de hipoclorito de sódio.
Ela não era uma daquelas mulheres que comiam os homens e lhes arrancavam as cabeças depois. Ela preferia simplesmente cortar-lhes a garganta.
Tema da semana: Aqueles pássaros não se calam.
Triptofano escreve aqui
Acompanha todos os posts deste desafio aqui
Segue-nos na nossa página do facebook