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Desafio de Escrita

Tema#11 FatiaMor

11
Dez19

Querido diário,

140 dias transcorreram desde que eu adoptei estes humanos. Não tem sido um processo fácil, especialmente, porque estes humanos reproduzem-se mais do que coelhos e têm três crias pequenas que acham que eu sou um boneco de peluche.

Reconheço que a minha estratégia de me fazer de morta, quando começam a correr na minha direcção, talvez reforce essa crença. Acho que tenho de começar a utilizar tácticas defensivas mais agressivas para garantir que os meus humanos, mais velhos, só me servem a mim.

Vê bem, querido diário, que ainda antes de me limparem a areia e me colocarem comida e água fresca, andam para aqui aos gritos, para estes pequenos energúmenos se sentarem, pacificamente, a comer. Não preciso que ninguém me grite. Basta colocar lá a comida que eu como, civilizadamente.

Seja como for, querido diário, os humanos que eu adoptei são uns queridos. São bem-comportados, fazem-me festas e recentemente fizeram por mim algo que nunca ninguém tinha feito!!

Sabes aqueles arranhadores que eles têm para aqui, modelo básico, claramente adquiridos no chinês? Pois bem, acho que se redimiram de não me terem colocado um Chanel no quarto e puseram-me um arranhador gigante, cheio de bolas e luzes, na sala, mesmo ao lado daquela coisa a que eles chamam televisão!!

Ai querido diário, se pudesses ver como é lindo. Está todo colorido. E eles têm um jogo engraçado que consiste em dizer-me que eu não posso ir lá tirar as bolas. Mas eu sei, querido diário, eu sei que quanto mais bolas eu tirar de lá, mais pontos ganho!

Tem sido uma verdadeira aventura. Agora, tenho de ir ronronar um pouco. Os meus donos acabaram de se sentar no sofá, e eu tenho de ir garantir que não vem para aí mais nenhum humano.

Com estes dois, nunca se sabe!

Tema da semana: Um dia na tua família… do ponto de vista do teu animal de estimação

FatiaMor escreve aqui

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Tema #11 Peixe Frito

06
Dez19

Ela é de facto alguém com um parafuso a menos, mas nós amamos ela na mesma.

«Tenho fome. Tenho fome. Tenho fome. Tenho fome. Mas será que ela não chega a casa? Onde andará ela??» enquanto isso, andam as feras às voltas pelo seu estaminé, a virar tudo do avesso: plantas a serem desenterradas, pedras fora de sítio, castelos tomados e de patas para o ar, no fundo, um ver se te avias.

Finalmente ouvem-se as chaves na porta - eu Peixa, quero pensar que eles ouvem, mas duvido - a porta fechar e um:

- Olá meus amores! - seguido de uns gestos de ondular com as mãos.

«Não há dúvida que adoramos quando ela chega! É um festim!! Ficamos todos doidos de um lado para o outro, pomos os narizes e o dorso fora de água e respingamos tudo por todo o lado! Mas mas... E comer, que é bom?? Onde ela vai?? Hey, hey os flocos pá, gaja?! Ahhh está a voltar. Vamos encher a pança!

Isto é assim todos os dias. Chega a casa e antes de nos dar os flocos, vai para ali baixar as persianas, como se isso fosse o mais importante! E descalçar-se. Ó ó, mas então agora vai à casa-de-banho. Mas que anda ela a fazer?

O que vale, é que depois vêm para o sofá e vemos todos televisão. Embora não a deixemos descansada... enquanto ela está na sala, é só barafunda neste aquário! Queremos que ela se meta connosco, nós gostamos tanto! Adoramos quando dança para nós e canta também! Embora por vezes pareça uma sereia desafinada com dores de costas, a cantar com uma voz das grutas... não deixamos de dar todos um pé de dança.

Todos os dias é uma paródia. Somos todos muito felizes aqui por casa!»

Dizem que os animais são um espelho dos donos e eu não tenho dúvidas, que os meus são mesmo!" 

 

Tema da semana: Um dia na tua família… do ponto de vista do teu animal de estimação

Peixe Frito escreve aqui

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Tema #11 - A Caracol

05
Dez19

 

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- Oh, valha-me deus... Que horas são, Berlinde?

- Não sei, mas ainda está escuro... 

- A patroa já anda ali no pátio de vassoura na mão... Hoje não é domingo? 

- Deve ser... Fazes perguntas muito difíceis, meu. Acabei de acordar. 

- FOGE BERLINDE!!!!! 

- O quê? Como? Mas... 

Ah, foda-se! A mangueira outra vez! Pelo amor de deus, eu acabei de acordar ainda nem vi o estado do meu pêlo no reflexo da taça da água, tampouco lambi as remelas e esta gaja já anda aqui a lavar o pátio! 

- Ela não lavou o pátio ontem, Cusco? 

- Anteontem. Com líxivia. 

- Credo! Até parece que somos assim tão porcos. Tu pronto, às vezes roças ali a badalhoquice, mas eu?! Eu?! O canídeo mais asseado e aprumado que existe?

- Berlinde, tu mijas em cima da minha cauda quando estou a fazer o nº 2. 

- Isso é porque tu escolhes sempre o MEU lado do pátio para o fazer. 

- MANGUEIRA NAS ESCADAS! ENCOSTA-TE!

- Ufa! Obrigada, meu! Foi por pouco. Esta gaja é doida. Ela não vai à missa? De toda a gente que nos podia calhar na rifa, tinha que mesmo que ser esta? 

- Metemo-nos à frente sem querer, enquanto sobe as escadas? 

- É melhor não... Já na semana passada caiu num degrau, que por acaso me soube muito bem visualizar, outra queda é desnecessário. 

- Pois... E agora são duas. Já pensaste quando nascer e crescer? Vai ser MESMO fixe! Olha, o Caracolinho! 

- Ya... Muito fixe... Estou em pulgas... 

Caracolinho! Tive tantas saudades tuas! Já não te via desde ontem à noite! Que jantaste miúdo? Estás enorme! Tens aí pão?  

Pão? Disseste pão? Olha bem para os meus olhos... Bem lá no fundo... Isso... O pão mais fresco é para mim. Lindo menino, muito bem!

Adoro este cacete de domingo, tu não Berlinde? 

- Deixa-me comer. 

- Eu já acabei. 

- MAS EU NÃO!

- Mau feitio... Vais comer aquele bocadinho al...

- VOU! BAZA! 

- Oh, boa! Olha Berlinde! Um gato! Vamos ladrar-lhe e saltar contra a rede para ele perceber quem manda neste pátio! 

- Vai indo, vai indo Cusco. Eu vou só aqui ver testar a temperatura do sol neste degrau.

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

A Caracol escreve aqui

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Tema #11 Belinha

28
Nov19

Beijador (Helostoma temminckii)

 

Bom dia. Permitam que me apresente: Chernobyl, peixe kinguio japonês. Ganhei o meu nome quando desenvolvi uma enorme bola na cabeça, um tumor. Até aí era simplesmente tratado por “Peixinho”. Hoje, com 13 anos, e 20 cm de comprimento, seria ridículo. Todavia, a única radioactividade a que fui exposto é a música clássica da Antena 2 que o namorado da mulher com quem partilho apartamento põe a tocar ao sábado, mal chega a casa. Nesse dia, a rotina altera-se radicalmente. A voz dele ecoa pelo ar e faz tremer as paredes de vidro do meu aquário. Um vero Parvarotti e um beijoqueiro. A primeira vez que o vi beijá-la pensei que ele a fosse matar. Na loja do shopping, há muito tempo, conheci um peixe-beijador. Guardava respeitosa distância, embora ele fosse agressivo apenas para com os da sua espécie. Afinal o homem é inofensivo, aquilo não era briga, antes preliminar do acasalamento. (Nunca os vi a procriar, nem quero.)

À hora do almoço, ele é um mãos largas com os grânulos, diferente da mulher, sempre com a mania da dieta, uma unhas de fome. Espero em vão por coração de boi, cozido e esmigalhadinho com ervilhas semi-cozidas, levemente amassadas! Anseio por artémias, larvas de mosquito, moscas de fruta! Mas só me dão enlatados industriais. O pior é vê-los à mesa a devorar os meus semelhantes. Inicialmente, atemorizado, até julguei que me destinavam ao estômago. Vi douradas, robalos, sardinhas, e muitos outros, a chegarem ali a fumegar em bandejas metálicas! Sacrilégio! No meu país natal são mais civilizados: comem-nos crus, e até vivos, bem frescos, como deve ser! Não sei que barbárie é esta, mas a cena repete-se duas vezes por dia. Ao jantar até acendem velas na mesa como se tudo aquilo fosse um sacrifício aos deuses.

Chega a noite, novo suplício. Sentam-se abraçados no sofá a ver filmes de terror. Lá por não ter pálpebras, não quer dizer que não durma. De sono leve, a cada grito sobressalto-me, dou meia volta e provoco um tsunami. Ignoram-me. Cada vez se agarram mais um ao outro: deve ser o medo, não? E voltam aos beijos antes de se irem embora dali, apressados, sem sequer saber como a história acaba. A TV fica acesa, a luz ligada. Que desperdício. Resto eu. E que tédio: morreram todos novamente! Que filmes mais previsíveis. Humanos! E dizem-se eles os seres mais evoluídos do planeta. Pff!

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Belinha Fernandes escreve aqui

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Tema #11 Sónia Figueiredo

28
Nov19

- Agora sim, já podes tirar a venda

Maria abriu os olhos e viu uma escola 

- Porque me trouxeste a uma escola?

- Já foi uma escola, agora é um abrigo de animais abandonados. Está na hora de teres um amigo ou amiga de quatro patas.

- O quê?

- Não discutas, entra e não te preocupes, não vais ser tu a escolher, vai ser ele ou ela. 

Maria entrou, olhou viu vários gatos e houve um que captou a sua atenção, era uma gatinha tigre cinza de olhos verdes. A gata veio ter com ela encostando-se nas suas pernas. Maria não teve duvidas, era aquela. 

- É esta

- Viste, como foi ela que te escolheu, foi a que veio ter contigo e tu sentiste uma conexão. Qual o nome que lhe vais dar?

- Não sei

- Não me parece um nome, pensa lá

- Lady

- Parece-me bem. Então vamos tratar da papelada, das questões do veterinário para ver se está tudo bem e vamos levá-la para casa.

- Mas tenho que comprar uma serie de coisas, caixa de transporte, comida, casa de banho, e sei lá mais o quê

- Não te preocupes, já está tudo no carro. Eu comprei, pois acreditei que ias aceitar o desafio e se não o aceitasses doava à instituição.

- Tens mesmo muita confiança em ti e em mim.

Lady chegou a casa de Maria e começou por fazer o reconhecimento a todo o espaço, andando de divisão em divisão, cheirando e roçando o seu focinho em determinados pontos.

Viu a sua nova mãe a preparar a comida, a água e a casa de banho. Achou que era estúpida e que não tenho sensores apurados e tentou explicar-me como tudo funcionava. Falou, falou e eu queria era encontrar um sitio quentinho para dormir. 

Coitada, ela estava muito nervosa, percebe-se que nunca teve um animal de companhia, muito menos um gato, pois nós não fazemos o que nos diziam, mas o que quisermos, por isso só está a perder tempo. Mas vou ter que a acalmar, antes que tenha um ataque nervoso e me devolva. Depois de tanto falar lá se sentou no sofá a observar-me e eu fui ter com ela e mostrar o meu agrado. Saltei para as suas pernas e comecei a ronronar em troca de festas está claro. Esperando que ela se acalmasse. 

Ela acalmou e adormeceu, coitadinha e eu fui novamente explorar a casa. Olha que sitio bom este ao pé da lareira, e até tem umas almofadas e daqui tenho uma boa panorâmica da sala. Agora quem vai dormir sou eu. 

Acordei com o cheiro a comida, ela estava a preparar o jantar para aquele amigo que me foi buscar de manhã. Fiquei quieta, observando o que fazia.

A campainha tocou e ele entrou e veio ter comigo para me dar uma festa. Foram os dois jantar, conversam imenso, entre uma garfada e um gole de vinho, por fim foram ambos com os copos de vinho para a sala e lá continuaram nas suas conversas e algumas gargalhadas. Resolvi procurar um sitio mais sossegado. Fui até ao quarto e estava quentinho, enfiei-me debaixo da manta e adormeci. 

Ouvi um grito e acordei num salto...o que foi que aconteceu?

Sai da cama e não estava a acreditar no que via.

Querem saber o que vi? Então têm que esperar uma semana. A culpa não é minha é dos pássaros, eu sou só, uma gata.

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Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Sónia Figueiredo escreve aqui

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Tema #11 Inês Norton

28
Nov19

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Eu com saúde versus Eu no último internamento (Nov.2019)

Olá eu sou a Lili, tenho quase 16 anos e este tema caiu no colo da dona logo no dia em que a Veterinária sugeriu que antes de eu entrar em sofrimento deveria ser eutanisiada por isso embora hajam mais animais cá em casa outra cadela, a Mel, um cão o Fisher e uma gata energica de nome Alma, a cabeça e a rotina dos donos só estão viradas para mim pois infelizmente eu estou a morrer…

 

Tenho um sopro no coração e desde do mês passado fico volta e meia uma semana internada a soro, depois volto para casa passa-se uma duas semanas em que estou bem, depois passo dias a vomitar e volto a ficar internada e o meu corpo está a desistir, o meu coração já causou problemas renais e gastrointestinais, já estou com um ligeiro edema plumunar, e os donos resolveram que eu iria para casa até à próxima consulta, pois embora se tenham passado 12 anos desde que fui abandonada e o meu dono recolheu-me da rua eu vivia no pânico de novo abandono. Mas nesta casa só tive amor e cuidado.

 

A dona trabalha fora mas conforme o horário passeia os manos antes e depois do trabalho, o dono é o responsável pela medicação e por me alimentar que eu já não como por mim e perdi tanto peso que se não for assim não estava ainda aqui.

 

Eu vou vivendo cada dia como o milagre que é ainda cá estar, mas sei que os donos sofrem com a minha iminente partida, que nem este texto está a sair como a dona pretendia, mas o que importa é eu saber que fui amada e que eles estão a fazer tudo para que eu parta sem sofrimento e junto deles em casa como aconteceu ao Tico e não longe de casa a sentir novo abandono. Ainda assim eu sei que tive mais sorte que muito animal que nunca chegou a ter um lar ou amor depois de ter sido descartado pelos donos originais.

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Inês Norton escreve aqui

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Tema #11 Osapo

27
Nov19

Já perceberam que sou um cachorro ...

Fui encontrado na rua. Tenho pelo castanho, comprido, que escurece no verão quando ando à solta pela areia da praia ou pela relva do jardim.

A minha dona encontrou-me quando andava pelas ruas, abandonado e desprotegido. Vive sozinha. É ruiva e deve ter 30 e poucos anos.

Levou-me para casa nesse dia e tem tratado de mim. Nunca confiei nos humanos, mas confio nela. Na verdade conseguiu que aos poucos vá confiando um pouco mais nas pessoas.

A Margarida gosta de mim. Sorri-me, fala comigo e faz-me festas. A minha dona chama-se assim. Não sei o que faz, mas gostou de mim mal me viu. Fugi dela quando a vi. Achei que era um perigo para mim. Mas, aos poucos, com a sua voz doce, fez-me aproximar e levou-me para casa dela.

Foi muito estranho. Não sei como, mas entendia o que me dizia e ela parecia perceber os meus latidos.

Sim, já perceberam que sou um cachorro.

Gosto quando me dá o banho e me esfrega o shampoo ao longo do meu pelo. Gosto quando me seca com a toalha e me dá mimos enquanto fala docemente.

Durmo no quarto, desde o primeiro dia. Comecei por ficar no tapete, mas acordei na cama dela. Sou eu que a acordo. Às vezes levo a coleira na boca. E ela, não sei como, sabe o que quero.

Nem todos os dias fica em casa. Sai de manhã e volta quando anoitece. Quando a vejo chegar é uma festa. Rebolo-me e salto-lhe, erguendo as patas para ela. Não tem medo de mim e não foge. E gosto do mimo que me dá. Gosto do beijos que me dá quando me agarra o focinho. Gosto muito do cheiro dela.

Disse-me que tem que escrever um texto para um desafio duns pássaros. E que já vai atrasado. Devia ter mandado ontem, mas andou muito ocupada. Vai falar de nós ...

Admiro e elegância do voo dos pássaros e gostava de poder voar. Quem sabe há diferentes formas de voar. Se pudesse voar ia para uma ilha, que eu sei.

Gosto de a ver deitar-se. Gosto quando se abraça a mim.

Quando se deita nua, já sei que me vai puxar para ela enquanto me diz:

Quim, meu cachorro lindo … ama-me como só tu o sabes fazer … e faz-me voar!

E eu levo a minha dona até à tal ilha …

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Osapo escreve aqui

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Tema #11 Insensato

27
Nov19

A gata que ganhou asas

A racionalidade é frequentemente posta em causa pelos humanos, em diferentes contextos, numa sintonia de verborreias.
O insulto é a comiseração das fraquezas. Os atos perigam a insanidade, uma vez que estes designam a grandeza e a diferença.

Linda pressentiu a dissemelhança daquele dia, pelo que se posicionou no sofá de frente para a cama da dona. O último mês decorreu de forma inusitada, uma vez que ela recusava a comida, já não gritava nem reagia às brincadeiras do neto, e a filha tinha grande dificuldade em desempenhar as tarefas como cuidadora informal.

 

A certa altura, Linda abriu os olhos e fixou-os na dona deitada no colo da filha, com o neto a tentar detetar eventuais batimentos cardíacos. Prantos de dor fizeram-se sentir, num seio dolente, ofuscados pela intensidade. Num gesto de dignidade, alheia a muitos, a gata, de vinte e três anos, manteve-se durante dois dias naquele sofá, ausentando-se somente por questões fisiológicas prioritárias.

 

Passado este tempo, começou a dormir na cama dos descendentes da dona, vagueando, à noite, entre quartos. Não admitia ficar sozinha em casa. Um dos seus maiores prazeres consistia em estar com a família, na mesma divisão da casa, se possível a ver alguma série. Apesar da idade, Linda era ativa e de tudo tentou para atenuar o mutismo dos lutos circundantes

 

O tempo é volátil. Por vezes, atroz e a vida nem sempre é justa.

Inesperadamente, Linda começou a regredir, um pouco à semelhança do que aconteceu, de início, com a sua dona. Certo dia, ganhou asas e voou para uma dimensão próxima da nossa, por forma a manter-se atenta a todos os que ama.

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Insensato escreve aqui

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Tema #11 Fátima Cordeiro

27
Nov19

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Intervenção da narradora-autora: Quando pensara num fim-de-semana fora da rotina, romântico, Guilherme pensara em sexo e comida. Já Matilde pensara em comida, conversas que começassem de manhã e terminassem de madrugada e algum sexo. Mas nenhum teve o que quis. Isto porque depois de quatro horas de expresso, mais uma hora para encontrar o hotel, uma hora para check-in e uma sesta (que ninguém é de ferro) e meia hora para um almoço rápido na tasca mais próxima, apareceu um animal nesta história. Chamava-se Constante, era um cão vadio e tinha acompanhado Pedro Orce na Jangada de Pedra. O cão veio gorar todos os planos do casal, como o próprio vos explica:
Constante: Fui ter com eles quando estavam a sair do restaurante. Falavam pouco. Havia tensão no ar. Mas ao mesmo tempo andavam de mãos dadas, como dois namorados. Fui atrás deles, era irresistível. Eram novos na terra, por isso não me mandaram uma pedra para eu fugir. Andei atrás deles por três ruas até que ela deu por mim. Ela tinha uma sandes que eu comi. Foi tudo o que eu quis! Continuei atrás deles enquanto eles visitavam a cidade.
Quando entravam em monumentos eu ficava cá fora e depois que saiam, continuava atrás deles. Foram lanchar a uma pastelaria e ela pediu um croissant para mim. Mas ele já começava a ficar cansado da minha presença e chateou-se com ela. Depois saíram da pastelaria. E eu atrás deles. E ele zangado. Mas ao mesmo tempo começou a olhar para mim com outros olhos. Continuei atrás deles: mais umas voltas à cidade e anoiteceu. Eles decidiram ir jantar ao hotel. Eu continuava atrás deles.
E então ele tomou a decisão mais inesperada (isso disse ela depois): trazer-me para o hotel escondido. Eles jantaram no bar do hotel. E tudo o que sobrou trouxeram para eu comer.
Nessa noite nenhum de nós dormiu. Eles preocupados que eu fizesse barulho.
O último dono deixou-me nesta “Cidade dos Arcebispos”. Cidade cheia de gente hostil porque conhecem a minha gula infinita. Ah, verdade. Não dormi porque estava com fome. O jantar sobre a pouco. Ele teve de vir ao bar do hotel buscar alguma coisa para mim às 5h da madrugada.
A vida de cão vadio é boa, mas um cão também precisa de quem cuide de nós. Por isso quando o dia nasceu tive esperança de finalmente ter encontrado novos donos.

Tema da semana: Um dia na tua família... do ponto de vista do teu animal de estimação.

Fátima Cordeiro escreve aqui

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