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Desafio de Escrita

Último tema - e um dia vocês despedem esta incompente

19
Jul21

Eu juro, juro!, que tinha isto tudo bem agendado, com temas direitinhos, a sair nos dias certos, mas depois veio um ET e obrigou-me a apagar tudo. Era isso ou acabava com os gelados no verão. 

Tangas. Esqueci-me do último. Podia ser pior e o ET existir mesmo, mas não, foi mesmo falha humana. 

Assim sendo, ignoremos todos que a gestão deste desafio já abria insolvência por incompetência e que a CEO devia reformar-se e fiquemos no tema (o último!): 

Um negacionista, um padre e o Gustavo Santos entram num bar... 

Sirvam-se de um ou dois shots, vão precisar. 

Como sempre, o texto deve conter em 100 a 500 palavras, ser composto em prosa ou em verso e em português de Portugal. 

Divirtam-se! 

Tema 3 - Marta

08
Jul21

Estava a vir para casa, depois de um dia de trabalho, pensativa e inquieta.

Ela sempre gostara dele. Desde o início. 

Ele era tudo aquilo que se podia pedir, ou desejar. 

Davam-se bem. Entendiam-se.

Ela tinha orgulho nele, e não se inibia de o mostrar.

Sempre tinham tido uma excelente relação um com o outro mas, ultimamente, as coisas tinham mudado.

Ela não sabia explicar. Não é que já não gostasse dele. Mas já não era como antes.

Agora, a relação estava a tornar-se difícil. Não se andavam a entender.

Havia dias em que ela já não podia olhar para ele. Era difícil lidar com ele. Levar as coisas a bom porto.

As pessoas diziam que ela devia livrar-se dele. Que poderia experimentar outras opções, alternativas. Que se sentiria mais feliz sem ele. Até mais rejuvenescida, a partir do momento em que terminasse aquela relação.

Mas as pessoas não sabiam.

Não era fácil pôr fim a uma relação de tantos anos. E, depois, havia sempre a possibilidade de ele a surpreender. De, um dia, ela acordar e perceber que ele voltara a ser o mesmo de antes. E descobrir que aquele amor ainda se mantinha, apesar de tudo.

Só que, naquele momento, não era isso que ela via.

O que ela via, é que já não havia aquele brilho de antigamente. Aquela vivacidade. Aquela graça.

Cada dia que passava, e tinha que lidar com ele, era um tormento. Ou tentava fazer as coisas resultarem, e terminava esgotada, sem qualquer resultado ou, simplesmente, ignorava-o, o que também não a fazia sentir melhor.

Chegou a casa.

Em modo automático, dirigiu-se à gaveta do escritório, de onde tirou aquilo que precisava.

Entrou no quarto. Lá estava ele. Olhou-o uma última vez, como quem tenta descobrir uma última esperança que a impeça, mas não vê nada.

De repente, fez aquilo que nunca pensou fazer.

- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

E lá estava, ao longe, o punhado de cabelo que ela tinha acabado de cortar!

 

Marta escreve aqui.

Tema 3 - Rita

08
Jul21

Já não sabia há quanto tempo não dormia, não saía do quarto nem se lembrava quando fora a ultima vez que tomara banho ou comera. A colega de casa havia desistido de lhe bater à porta e tentar fazê-la comer qualquer coisa.
 -"Não aguento mais contigo!"- afirmou enquanto o atirava para longe, mas o que queria mesmo era arrancar o coração e fazer o que fez com o diário! Mais uma vez fora iludida por ele!
Sempre se apaixonou rapidamente, e sempre acabou por se magoar. Não percebia porque ainda se deixava levar pela cantiga do bandido!

Conheceu-o num dos encontros semanais de amigos. De repente, apareceu ele, de mota, sem tirar o capacete fez sinal ao namorado da sua melhor amiga. Nunca o tinha visto antes. Lembra-se de pensar "que mal educado, nem o capacete tira para cumprimentar!". Não lhe deu importância nenhuma até que os seus olhares se cruzaram e percebeu, sem saber como nem porquê, que estaria ligada a ele para sempre... o que ela não sabia era que ele sentira o mesmo.
Dali a serem apresentados como deve ser ainda levou algum tempo. E de se conhecerem até terem algo mais tempo passou. No entanto havia sempre aquele embrulho no estômago cada vez que se cruzavam nas reuniões todas as semanas. Só se viam ao fim de semana e ainda assim aquela chama ia crescendo. Sabiam que teriam de ficar juntos um dia, só não sabiam quando.

Tinha passado quase um ano quando recebeu uma mensagem de um número desconhecido. Normalmente ignorava, pensando ter sido engano. Mas aquela mensagem era diferente... era de alguém que a conhecia...
Foi automático: quando deram o primeiro beijo foi como se sempre se tivessem conhecido. Como se os seus corpos tivessem estado desde sempre à espera um do outro.
O tempo foi passando e sempre se sentiram felizes, como um velho casal, já se conheciam de uma ponta à outra. Tinham sido feitos um para o outro. Um completava o outro e estavam verdadeiramente apaixonados.

Um dia, após terem feito amor, ao acordar na cama percebeu que estava sozinha e na almofada dele encontrou uma rosa, e por baixo uma folha: "Desculpa, mas não podemos ficar juntos como queria... Amo-te."... Toda a paixão que sentiam, todo o amor, pareciam não valer nada afinal.
Ficou ali deitada horas a olhar para a rosa. Não para as linhas que ele deixou escritas. Não conseguiu mais tirar aquelas palavras da cabeça, mas para a rosa. Ele nunca lhe havia oferecido flores...

 

Rita escreve aqui

 

Tema 3 - Lu

07
Jul21
- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe."

 

Ela sempre foi assim, e sempre guardava para si mesma as suas  angústias. Oferecia  a sua escuta atenta e as suas ternas palavras aos outros, mas quando lhe tocava a ela era outra história. Sorria na tentativa de dispersar ansiedades que lhe davam  a mão desde  que se entendia por gente. Tinha a sensação, por vezes, que um dia haveria de explodir em mil bocadinhos e aí ser finalmente livre.
No fundo ela sabia que o seu maior problema não existia e era nada mais que uma projecção  irrealista, totalmente criada por si.
O medo - esse marialva vestido de negro, sobranceiro, cheio de si mesmo, corrosivo, atroz.
E sonhava com o dia em que seria capaz de  o enfrentar  e corajosamente o despedir!
 
Lu escreve aqui.
 
 

Tema 3 - Maria

07
Jul21

Domingo de manhã bem cedo, ainda meia a dormir mas há hora combinada lá estávamos.  Prontinhas para mais um treino eu e a Mariana. Uma corrida de dez quilómetros. Pela fresca, se bem que mesmo cedo a temperatura de verão já se fazia sentir. Ambas de calções e mangas cavas, pala na cabeça, bolsa na cintura, sapatilhas e smart watch em modo on. Na verdade andamos nisto há cerca de meio ano. Sem falhas nos dias a que nos comprometemos.  Sempre juntas para uma dar apoio à outra. Semana após semana a analisar treinos mas os resultados não têm sido os pretendidos, confesso. Falo por mim uma pessoa parece que quanto mais faz mais a balança nos vira as costas!

Naquele dia, talvez por cansaço e também por termos madrugado a um domingo, fomos o treino a falar disso mesmo. Treinos e resultados. Logo um tanto ao quanto desanimadas.

A Mariana resmungava por perder menos calorias que as que devia. Eu incentivei que mais cedo ou mais tarde os resultados vão aparecer e também podemos aumentar os treinos. O tempo e as metas.

- E comer? - disse-me em tom de desilusão - o mínimo possível Maria, parece que engordo só de respirar! Deixa-te de coisas Mariana, é impressão tua, tens menos volume e isso vai acabar por refletir no peso. Pelo menos assim espero.

E assim que fizemos os dez quilómetros demos o treino como terminado. E já estávamos ambas com melhor disposição, prontas para aproveitar bem o resto do domingo depois de um bom banho até  que vejo a Mariana a olhar para o relógio e a resmungar por causa das calorias gastas 

não aguento mais contigo!  - afirmou,  enquanto o atirava para longe 

Tem lá calma contigo Mariana. É mesmo isso que queres? O smartwatch não tem culpa e vais lembrar-te disso no fim do gelado logo à tarde - disse enquanto soltava uma risada. 

tens razão - disse-me por entre os dentes enquanto ia apanhar o relógio - é só porque quero comer logo um gelado sem peso na consciência!

Uma mulher sofre!!

 

Maria escreve aqui.

Tema 3 - Carla

07
Jul21

- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

O cão correu atrás daquele pau e, não o encontrando, continuou a correr, convicto, pelo interminável lençol de areia que se estendia à sua frente.

Minutos antes, várias praias depois do local onde o homem espantou o cão, duas adolescentes enchiam um colchão insuflável em forma de tartaruga ninja. 

E, mudamos aqui de narrador. Deixemos falar uma das crianças.

“Tinha acabado de chegar à praia com os meus pais e a minha melhor amiga. 
Acordámos felizes, ainda de noite, para podermos estar ali de manhã cedo. A viagem de carro, longa, as sandes de fiambre feitas com pão fresco acabado de comprar e aquela boia gigante, que eu e a minha amiga tentávamos encher à vez, significavam a felicidade absoluta.

Aos 15 anos eu escondia-me para brincar com as minhas bonecas. Fazia desfiles de moda com as Barbies e roupa que improvisava com meias de nylon antigas. Mas, ali, com 13 anos, não sentia vergonha de querer brincar com uma boia. Muito pelo contrário. Estava até bastante entusiasmada.

Até eles chegarem.

Dois rapazes e duas raparigas, de uns 18 anos, instalaram-se mesmo à nossa frente.

Reparando na nossa atividade, não demoraram muito a rir-se e a mandarem bocas pouco subtis. Não faço ideia do que disseram. O olhar e a forma como se riam destroçaram o meu entusiasmo e a minha confiança. Não sei se a minha amiga foi afetada da mesma forma ou se só os achou tolos (ela sempre foi muito mais inteligente que eu, por isso é provável que os tenha achado apenas uns grandes tolos).

Lembro-me que deixei de encher o insuflável e senti que o meu dia estava estragado. Ter aquelas pessoas à minha frente fazia-me ter vergonha de existir. Restava-me ficar ali e tentar passar despercebida até à hora de regressar a casa.

Nisto, começo a ver tudo a acontecer como em câmara lenta.

Um cão enorme, castanho muito claro, vem a correr pela praia.  Ele correr sem parar, determinado e sem nenhuma emoção. Corre, apenas.

Vejo claramente o cão a pousar as duas patas dianteiras nas costas de uma das raparigas do grupo à nossa frente, e a continuar a sua corrida pela praia fora.

A rapariga queixa-se, o namorado sopra-lhe para as costas. Acabaram os risos, a chacota e a vontade de ficar na praia.

Arrumaram as coisas e foram embora.E a tartaruga ninja insuflável tomou muitos banhos nesse dia.

 

Carla escreve aqui.

 

 

Tema 3 - Sam Ao Luar

07
Jul21

- Não aguento mais contigo! - afirmei, enquanto o atirei para longe.
Aquele vestido já não me serve, não me fica bem. Já nada me fica bem. Já não me reconheço
neste corpo. Desde que o bebé nasceu, que já não consigo olhar para o espelho. A cicatriz ainda
me dói... nem a fralda eu consigo trocar. Tenho que me ajoelhar. Dói-me tanto as costas!
Estou tão cansada. Cansada das fraldas, das mamadas, das fraldas outra vez, das papas, noites
sem dormir, mamas dormentes, cabeça dormente, costas dormentes... Quero fugir.
Já não me lembro de tomar banho, trocar de roupa, maquilhar-me, sair para trabalhar. Aquele
f... despediu-me. Só porque estava grávida! Grande merdoso. Se fosse a esposa dele a ser
despedida, ligava para as autoridades. E agora? O que vai ser da minha vida?
Estou feia, triste, dormente por dentro. Eu vi a conversa dele com ela, on line. Acho que ele não
sabe que vi. Ele também já não deve gostar de mim, por isso lhe falou assim. Nunca conversou
comigo assim. Também precisei tantas vez do seu apoio e ele nunca me encorajou assim. Ele
convidou-a para um café. Eu sei que eles trabalham juntos e que ele chega sempre tarde a casa.
A viagem é tão curta, porque demora tanto tempo? A noite cai tão cedo e eu conto os minutos
todos até ele chegar. Para me sentir acompanhada outra vez... Eu sei que ele não tem saudades
minhas.
Eu sou fria. A mãe disse-me que eu era fria e calculista. Ainda era adolescente e ela tinha razão.
Nunca me ensinaram a ter mimo nem a dar mimo. Não lhe sei dar mimo e ele queixa-se. Será
por isso que já não tem saudades minhas?
Eu sei dar mimo. O meu bebé sabe que eu sei. Aqueles dedinhos tão perfeitinhos e aqueles
olhos que só me apetece beijar, olham para mim como quem olha para quem dá mimo. Eu amo-
o tanto! Não sabia que era possível. Eu ouço mal... e se ele chora a meio da noite e eu não
acordo? Não posso pegar no sono profundo. Estou tão cansada! E se ele precisa de mim?...
Queria tanto mergulhar na banheira. Mergulhar de cabeça e sentir paz e silêncio e sossego...
Vou encher a banheira e acabar com isto de uma vez. Espera, ele tem que chegar a casa
primeiro. O bebé vai ficar sozinho, pode precisar de mim. Eu tenho que ficar aqui... por
enquanto. Ele ainda ficou na festa com os nossos amigos. Ouço os foguetes, mas não tenho
ninguém para festejar. Ainda ontem esteve no café com o pessoal. Porque quer estar com eles e
não connosco?
Vou abrir aquela garrafa. Já está no frigorífico há tanto tempo, deve estar fresco. Vou
adormecer num instante e já não vou sentir mais nada. É isso! Não posso... e se ele chora outra
vez?

Sam ao Luar  escreve aqui.

 

Tema 3 - Lara Monteiro

07
Jul21

Tinha tantas saudades dele. Fazia um ano que ele partira sem deixar rasto, sem dar uma
explicação.
Pensou sempre que ele era o amor da vida dela. Desde o primeiro beijo, à primeira vez
que tinham estado juntos na cama. Era tudo perfeito. Era tudo como ela sempre
sonhara. 
Por vezes, claro, também tinham discussões. Mas nada de grave e sempre resolvidas
passados poucos minutos. Ela tinha uma imensa capacidade de o perdoar...
Nada fazia prever o que acontecera um ano antes. Ela saiu para trabalhar, ele ficara
ainda a dormir. E, quando ela voltou para se arranjar para um jantar que tinham
marcado no seu restaurante preferido, algo estava diferente. E, foi então que percebeu.
As coisas dele não estavam. Nada. Era como se ele tivesse conseguido apagar a sua
existência naquela casa, a casa que partilhavam há mais de dois anos.
 Não havia uma peça de roupa, um calçado ou até algo de higiene. Nada. Nada que a
fizesse acreditar que, realmente, naquela manhã, ele ainda ali estava.
Soube, dias mais tarde, que ele dissera à família dele que simplesmente não queria mais.
E desapareceu. Nunca mais ninguém o vira, mandando apenas algumas mensagens à
irmã de quando em vez, para lhes assegurar que estava vivo.
 
E, desde esse dia vertiginoso, ela nunca mais voltou a ser ela. Faltava-lhe uma
explicação. Faltava-lhe perceber o porquê. O como. E, acima de tudo, faltava-lhe ele.
Faltava-lhe o seu abraço, o seu conforto. O seu amor.
 
"- Não aguento mais contigo!" - afirmou, enquanto o atirava para longe. O retrato dele
que continuava a pesar na sua carteira e, acima de tudo, no seu coração. Este sentimento
era tudo o que ela queria tirar de cima de si. O sentimento de vazio, de tristeza.
Não sabia como o faria, mas sabia que tinha de o esquecer. Hoje à distância, o
sentimento de vazio que sentira naquele dia, há um ano atrás, mantinha-se. E sabia que
precisava de o fazer desaparecer
 
Ele era ainda as suas borboletas na barriga. Era ainda o sonho de uma vida. Era o livro
que tinha começado a escrever e que, repentinamente, tinha sido rasgado. Não sabia
colar a folha, nem continuar a escrever...
 
O que ela precisava mesmo era de um milagre. Um verdadeiro milagre.

 

A Lara escreve aqui.

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 5

02
Jul21

Mais uma fichinha, mais uma voltinha, não é verdade? 

Depois de tanto amorrrrrr, chega a vez de sermos parvos - se é que alguma vez deixamos de o ser. 

Como próximo desafio, queremos uma teoria da conspiração envolvendo Bill Gates, indústria alimentar, Xana Toc Toc e polichinelos. 

Está lançado. Amanhem-se. 

O texto deverá sair no próximo dia 16 de julho, às 15:00, não deverá contar com mais de 500 palavras, nem com menos de 100 e deverá ser em Português de Portugal. Prosa ou verso, 'cês quem sabem. 

Tema 3 - Maria Araújo

19
Jun21

Esquecera-se do guarda-sol, tão importante quanto o protector solar, foi comprar um dos mais baratos a uma loja de chineses.
Estatelou-se à beira-mar, num espaço entre um homem e um casal, os três a uma distância razoável, pois não gosta de estar "colada" às pessoas, como faz a maioria dos banhistas que vai para a praia.
Além disso, a época balnear ainda não abrira, estava à vontade para usufruir do dia, do sol e da leituta.
O mar não convidava ao banho, mas foi sentir a temperatura da água. brrrrr, fria!
Protector solar no corpo, deitou-se a ouvir a playlist do seu telemóvel, trauteava uma ou outra canção que levava para o infinito as preocupações e o cansaço.
Cerca de uma hora e meia depois e deita a gozar o sol, escutou uma voz...
"Não quer que lhe ponha protector solar nas costas?".
Absorta na leitura, não se apercebera que alguém se aproximara. Levantou a cabeça e, de pé, com uma embalagem azul na mão, estava um homem.
Estupefacta, respondeu: "Obrigada, não é preciso."
Ele insistia, ao mesmo tempo que estendia o braço e mostrava-lhe o seu protector: "Mas eu ponho. Está a ficar com as costas queimadas. É perigoso."
Ela respondia: "Obrigada, mas eu já pus. Além disso, eu tenho cuidado. "
" Quando quiser diga que eu ponho" , disse. E afastou-se.
Deitada, imaginou- se no espelho a ver o seu sorriso e os seus olhos brilhantes de situação tão inédita.
Ria-se e pensava: "E esta,hein?! Como é possível? Tanto anos que faço praia sozinha, nunca ninguém tivera a ousadia de se aproximar e perguntar-me se desejava que me pussesse creme nas costas. Até que me dava jeito, pois claro. Ele não era homem de se pôr de lado, não!"
Sentou-se. Não olhava na direcção dele. Só o mar.
Um bom tempo depois, percebeu que alguém se movimentava. Continuou a leitura, até que levantou os olhos e não viu ninguém.
E ficou sossegada a "beber" o sol.
O sol estava mais forte, foi ao saco da praia, tirou o protector solar para pôr nas pernas. O corpo estava debaixo do guarda-sol.
O seu conteúdo era pouco, mas chegava para aquele dia. Virou a embalagem para baixo, agitou-a para que saísse algum produto, e eis que o pouco que tinha saltou para a areia. Apertou uma duas, três vezes, mas nada saiu de dentro.
E chateada porque tinha tido a oportunidade de umas mãos masculinas aplicar-lhe o protector, quiçá fazer-lhe uma massagem nas costas, zangada, diz-lhe: "Não aguento mais contigo!" - afirmou, enquanto o atirava para longe.
Levantou-se, arrumou tudo no saco, fechou o guarda-sol e saiu da praia...Mas foi apanhar a embalagem para depositá-la no contentor da reciclagem.

 

Maria Araújo escreve aqui.