Estava a vir para casa, depois de um dia de trabalho, pensativa e inquieta.
Ela sempre gostara dele. Desde o início.
Ele era tudo aquilo que se podia pedir, ou desejar.
Davam-se bem. Entendiam-se.
Ela tinha orgulho nele, e não se inibia de o mostrar.
Sempre tinham tido uma excelente relação um com o outro mas, ultimamente, as coisas tinham mudado.
Ela não sabia explicar. Não é que já não gostasse dele. Mas já não era como antes.
Agora, a relação estava a tornar-se difícil. Não se andavam a entender.
Havia dias em que ela já não podia olhar para ele. Era difícil lidar com ele. Levar as coisas a bom porto.
As pessoas diziam que ela devia livrar-se dele. Que poderia experimentar outras opções, alternativas. Que se sentiria mais feliz sem ele. Até mais rejuvenescida, a partir do momento em que terminasse aquela relação.
Mas as pessoas não sabiam.
Não era fácil pôr fim a uma relação de tantos anos. E, depois, havia sempre a possibilidade de ele a surpreender. De, um dia, ela acordar e perceber que ele voltara a ser o mesmo de antes. E descobrir que aquele amor ainda se mantinha, apesar de tudo.
Só que, naquele momento, não era isso que ela via.
O que ela via, é que já não havia aquele brilho de antigamente. Aquela vivacidade. Aquela graça.
Cada dia que passava, e tinha que lidar com ele, era um tormento. Ou tentava fazer as coisas resultarem, e terminava esgotada, sem qualquer resultado ou, simplesmente, ignorava-o, o que também não a fazia sentir melhor.
Chegou a casa.
Em modo automático, dirigiu-se à gaveta do escritório, de onde tirou aquilo que precisava.
Entrou no quarto. Lá estava ele. Olhou-o uma última vez, como quem tenta descobrir uma última esperança que a impeça, mas não vê nada.
De repente, fez aquilo que nunca pensou fazer.
- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.
E lá estava, ao longe, o punhado de cabelo que ela tinha acabado de cortar!
Marta escreve aqui.