Não tens as luas todas …
Disse-lhe que não e desliguei sem adeus. Aquela relação fazia-me panicar ...
Chamo-me Beatriz, 30 anos, arquiteta, precária e vivo sozinha (exceto quando a minha mãe e as amigas entram-me pela casa dentro, quase sempre, quando o Tony Carreira atua no Pavilhão Atlântico).
Não tenho animais, embora estejam por aqui alguns bichos que entraram ilegalmente e não estão a querersair.Bom, tinha um gato (ou imaginava), mas já era.Não tenho pachorra para ter plantas.
As regras afligem-me. Talvez por isso não queira ser mãe. Sinto medo de ser incapaz de tratar de uma criança.
O Diogo era o meu gato desde há uns meses. Conhecemo-nos algures, pouco importa.
Solitária, deixei-me ir. Fui gostando e desgostando (nunca uma paixão assolapada). Umas vezes mais, muitas outras menos. Não era o idealizado (nós idealizamos sempre um tipo, mesmo que juremos que não).
Aos poucos fui desesperando. Esperar horas por resposta a uma mensagem tirava-me do sério. Nunca fui acelerada, mas aquele gajoenervava-me.Depois os constantes desvios de conversa. Sentia-me sempre a ser ludibriada. Era apenas uma encenação fraca de uma personalidade medíocre.
Como gaja procurei pela net coisas sobre ele, incluindo redes sociais e tinder. Vivia dependente de qualquer sinal. Anulava-me. Li sobre isso no blog desafio dos pássaros.
Nunca fui miúda de namorar muito. Mas tive os meus casos. Uns melhores. Outros assim. Mas como este nunca. Não podia continuar.
Tinha terminado uma relação pouco sólida. Uma decisão maturada. Fiquei contente comigo.
Nos dias seguintes assaltaram-me dúvidas que me deixaram à toa. Fiz bem? Ese aquelas histórias aconteceram mesmo? E se o “reconstruisse”?
A minha amiga Matilde, trintona também, está a passar pela mesma situação. Temos uma teoria que os gajos são assim porque “aprendem todos pelos mesmos livros”.
Ela refere muitas vezes uma frase do avô: “não caças com cão, caças com gato”.
Possas, é assim? Tem que ser mesmo assim?
Seria da idade? Aquela coisa que nascemos para casar e ter filhos, está-me no sangue? Estas dúvidas acontecem a todas?
Estava nestes pensamentos quando dei por mim a ligar para o Diogo. Desliguei mal ouvi o primeiro toque. Sentia vergonha e afloraram-me lágrimas que teimei em não deixar escorrer.Lembrei-me da minha avóque dizia frequentemente “não tens as luas todas”.
O telemóvel tocou. Atendi de imediato e ouvi a voz dele “vamos sair bebé?”.
E estupidamente recostei-me no sofá, cruzei as pernas e sorria …
Tema da semana: A Beatriz disse que não. E agora?
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