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Desafio de Escrita

Tema #2.2 Bla Bla Bla

12
Fev20

- Ai mulher, não sei como é que tu consegues fazer tanta coisa ao mesmo tempo! Estou cansada só de olhar.

- Ninguém as faz por mim… e ainda tenho muita coisa para fazer hoje e não tenho tempo, não posso parar. Vai falando que seu não estou a olhar mas estou a ouvir.

- Não, não quero nada. Vim só ver como é que estavas, se precisavas de alguma coisa e saber…do Paulo. (Baixa o tom de voz) Como é que ele tem estado? Está melhor?

Laura para de descascar as batatas, respira fundo e vai sentar-se ao pé da amiga já sem conseguir conter as lágrimas que lhe afloravam nos olhos.

- ‘Tá nada. Está cada vez pior Mais de 10 comprimidos por dia e não há meio de o homem melhorar…Eu tento ter esperança, ser forte mas acho que ele não vai aguentar… - desata em pranto.

A amiga acorre a abraçá-la para a confortar.

- Oh miga tem calma. Vais ver que ele melhora! Isso é só o cansaço a falar. És a mulher mais forte que conheço e contigo a seu lado vais ver que ele melhora. Tens de ter paciência e esperança.

- Sim… mas é difícil sabes… ando muito cansada. O trabalho, as idas constantes aos médicos, exames, hospitais, as noites sem dormir à cabeceira dele para cuidar que ele passe bem a noite, é o tratar de casa, fazer-lhe as sopinhas que ele também não aguenta mais nada… Ai tenho que ir acabar a sopa que se está a fazer tarde.

- Eu também tenho de ir querida, só quis passar aqui rapidinho para te dar um beijinho. Se precisares de alguma já sabes.

- Obrigada amiga por vires. Mas vai ligando tu que eu com tanta coisa na cabeça esqueço-me de tudo, nunca me lembro de nada.

- Ligo sim. Vá beijinho e as melhoras para o Paulo.

Respirou fundo. Sentia-se reconfortada. A sua vida não era fácil mas agora havia sempre alguém por perto para a confortar.

Acabou de cozinhar os legumes e passou-os todos. O Paulo só conseguia comer a sopa completamente passada já que o simples ato de mastigar era suficiente para despoletar mais um arranque violento de vómitos.

Pegou num banquinho e subiu-lhe para cima. Era baixinha e só assim conseguia chegar à prateleira mais alta do armário, onde guardava loiça de cerimónia que raramente utilizava.

Afastou e loiça para contemplar os vários frasquinhos de vidro transparente. Estavam ordenados em várias fileiras e continham todos um liquido incolor, sem qualquer rótulo para os identificar.

Apesar de não haver nada que distinguisse os frascos um do outro Laura sabia exatamente o que continham pois decidira organizá-los por ordem alfabética do seu conteúdo.

Agua oxigenada, Álcool, Arsénico, Clorofórmio, Éter, Lixívia, Rícino, Tetrahidrozolina…

Com um sorrido nos lábios escolheu um frasco da última fileira. Era um dos seus preferidos por se tratarem de simples gotas oftalmológicas para os olhos.

Começou a envenenar o marido à alguns anos atrás para o castigar pela sua traição.

Laura nunca o confrontou e ele nunca soube que a mulher o havia visto em posses pouco bíblicas com a colega do trabalho a terem sexo desenfreado no carro.

Nessa altura, com a raiva de mulher despeitada a toldar-lhe o discernimento, não mediu bem o que fazia e o marido quase morreu intoxicado ao 2º dia.

Os remorsos da Laura duraram tanto quanto a braguilha do marido se manteve fechada.

Laura passou a envenenar o marido sempre que tinha conhecimento das suas infidelidades.

Com a prática aperfeiçoou os seus métodos, doses, substâncias... Nunca ninguém desconfiou dela já que era uma esposa extremosa.

Mas os anos passaram e as oportunidades do marido de saltar a cerca começara a diminuir drasticamente até cessarem por completo.

Laura começou a ficar agitada porque gostava da adrenalina mas principalmente porque gostava que toda a gente se condoesse dela e da sua situação, inundando-a de carinho, solidariedade e atenção.

Decidiu então abranger o castigo a qualquer falta que o marido fizesse. Qualquer motivo servia.

O atual castigo estava a ser aplicado por o marido ter feito um comentário levemente depreciativo a respeito do seu peso. E na verdade ele até tinha razão.

Desceu do banco e começou a verter o frasco para a sopa…

- O que estás a fazer Laura?

- Ai Jesus homem! Que me matas de susto! O que é que estás a fazer aqui em baixo? Vai já para cima para a cama antes que piores.

- Vou… o que é aquilo? O que estás a pôr na sopa?

- Aquilo? ... É agua benta homem! O que é que havia de ser?!

- Água benta Laura? Desde quando é que viraste crente?

- E eu lá creio em alguma coisa… mas olha, tentar não custa! Os médicos não sabem nada, nem com os medicamentos melhoras… isso dos médicos, nunca fiando… e assim pode ser que Deus, o Diabo ou qualquer outra coisa te acudam.

Mal não há de fazer!

- Pois… tá bem… mal não há-de fazer não…. Olha queria comer aqui contigo mas já estou a ficar tonto. Vou-me deitar e como um bocadinho da sopa lá em cima, tá bem?!

- Tá! Vai lá mazé antes que priores que eu já ta levo.

Fodasse! Foi por pouco…

 

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

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Tema #2.2 Catarina Reis

12
Fev20

- Mãe vou receitar uma vacina bebível a ver se o seu bebé deixa de estar sempre doente. 

- Obrigada doutora.

Uns dias mais tarde o bebé adoeceu de novo e foi levado à urgência. A mãe explicou o agravamento dos sintomas e recebeu a seguinte resposta.

- Mas quem é que lhe receitou este medicamento.

- A médica de família.

- E a mãe deu a medicação sem questionar. Vai parar já a medicação. Vou receitar antibiótico e um spray para o nariz. Dentro de dias já estará bom. 

O bebé ficou melhor mas tornou a piorar assim que terminou o antibiótico. A mãe resolveu consultar um otorrino. 

- Quem é que lhe prescreveu este spray? 

- Uma médica na urgência. 

- Este tipo de spray empurra o ranho directamente para os ouvidos e origina as otites. Coloque soro, muito soro. Entretanto vou encaminhar o menino para a alergologia porque já são muitas crises. 

- Obrigada Doutor. 

Dias depois vão à dita consulta. Depois de fazer o histórico a médica diz. 

- Gostava de experimentar uma vacina bebível chamada X. Mãe orque está a olhar para mim com um ar tão escandalizado. 

- É que eu já comecei a dar esse medicamento ao meu filho. 

-E então? 

- Ele ficou doente e eu tive que o trazer à urgência. A doutora que nos atendeu disse que nunca deveria ter dado essa medicação. 

- A minha colega disse isso? Fico espantada com os diagnóstico dos meus colegas. Vou receitar um tratamento para a alergia e um spray.

A mãe saiu do consultório incrédula. É que isso de médicos, nunca fiando. 

 

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Catarina Reis escreve aqui

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Tema #2.2 Bárbara

12
Fev20

Nicole levantou-se e sacudiu a areia, e Luca virando-se para ela disse.

 -Agora que já te livraste da areia, estás pronta para ir?

 -Acho que sim - disse enquanto coçava a cabeça - O resto da areia saiu mas alguma ainda ficou no cabelo e está a fazer comichão.

-Quando chegarmos a casa da minha amiga ela ajuda te com isso e depois podemos continuar à procura dos teus pais.

-Isso é ótimo! - disse ela, de novo entusiasmada. - Estou ansiosa por conhecê-la! - exclamou sorrindo .

Luca não disse nada mas sorriu de volta.

 Continuaram a andar um bocado em silêncio até Nicole perguntar.

-Quem é a tua amiga que vamos encontrar?

- Oh! É uma senhora velhinha muito simpática que vive cá à muitos anos.

-Uau. Mas... como é que ela me vai ajudar a encontrar os meus pais?

-Bom, ela conhece este deserto como a palma da mão, e como não passam muitas pessoas por cá ela sabe sempre. - explicou ele - Já agora, uma pergunta , porque é que vieram para o deserto?

-Os meus pais repararam que eu andava a comer e a beber menos do que o costume, e não acreditavam quando eu lhes dizia que apenas estava sem fome e sede. Por isso levaram-me ao médico.

- E o que é que ele disse?

-Disse que eu não tinha nada de errado e provavelmente só estava a fazer birra. - respondeu indignada pelo o médico lhe ter dito isso. - Mas eu não estava a fazer birra! Depois quando voltamos para casa passámos por um amigo dos meus pais, e quando ele me viu fez uma cara de choque e foi falar com os meus pais. Só consegui ouvir ele dizer, " É que isso de médicos, nunca fiando", e depois os meus mandaram-me ir brincar porque estavam a ter uma "conversa d' adultos" . Sem me avisarem, no dia seguinte já tinham feito as malas e viemos para aqui.

- Desculpa, mas ainda não percebi por que é que vieram para o deserto.

-Infelizmente sei tanto como tu - disse ela encolhendo os ombros.

 

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Bárbara escreve aqui

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Tema #2.2 - Alexandra

11
Fev20

- A senhora tem um tumor.

As palavras ecoaram no gabinete mas não na cabeça de quem ouvia. Não faziam sentido. Não se percebeu o que ela disse. Os sons não formaram palavras dentro das cabeças.

- É grave doutora?

- Bom, tem alguma gravidade. É um carcinoma. Mas vamos tratar disso. Agora vai à secretaria com este papel, já pedi consulta de oncologia, depois vai ao -1 marcar...

Mas que raio diz ela que não se consegue processar? Num flash de tempo, sem perceber como, estão de regresso a casa, num caminho estranhamente mais demorado que o habitual e em silêncio.

Quando entraram em casa o estrondo. Caíram num choro profundo que pareceu durar horas. Secaram as lágrimas e juraram que iam combater aquilo.

TACs, ressonâncias, com e sem contraste, análises diversas, sempre adiando um exame tão essencial para o diagnóstico final como perigoso para o que era preciso viver...

a amiga de uma amiga leva os exames a uma médica amiga

Sim, é preciso ter amigos. Na hora da aflição vale tudo.

Alívio.

A “massa” é uma grande "cagada" deixada da cirurgia de retirada de vesícula. Ficaram lá uns "agrafos" de costura "mal amanhados" que formam uma amalgama esquisita... mas é tudo células normais. Não é cancro.

Entretanto chega a consulta com o oncologista.

- A senhora sabe porque veio a esta consulta?

- A dra X disse-lhe que tinha um carcinoma entre o pâncreas e...

- A dra X disse isso assim?

- Sim.

- É que não, a senhora não tem tumor nenhum.

- Nós sabemos. É uma costura defeituosa que…

- Sim, é isso. Aqui que ninguém nos ouve, a minha colega não tem bom olho para exames, mas tem ainda menos sensibilidade na transmissão de “diagnósticos”. Lamento que se tenha assustado. Mantenha a vigilância com análises sanguíneas, é suficiente.

...

De volta à consulta da dra X

- Bem, já sei as novidade. Que bom!! Eu recomendo que faça na mesma uma CPRE, para ficarmos mesmo descansados.

- O dr. oncologista disse ser desnecessário face aos riscos...

- Vocês é que sabem. Há riscos, mesmo de vida é verdade, mas, se não querem fazer o exame vou dar alta, uma vez que sem exames não consigo saber como está.

- Desculpe a honestidade dra, mas parece-me que nem com exames consegue.

Mudou de cor

- Pronto, então acabamos aqui, passe pela secretaria para a alta. E olhe que não tem cancro, mas a diabetes também mata.

 

Esta história é real e nos diálogos nada foi inventado. Talvez o tempo tenha apagado algumas vírgulas e palavras, mas nunca, jamais o contexto.

Em breve faz 10 anos e continua tudo bem.

Para o bem e para o mal, isto de médicos, nunca fiando.

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Alexandra escreve aqui

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Tema #2.2 - Maria

11
Fev20

Numa conversa entre amigos o tema passa pelas viroses típicas da época, pelas constipações e gripes desta vida. E fala-se inevitavelmente no lado dos médicos, dos farmacêuticos e das pessoas - os pacientes/doentes. De como todos lidamos de forma diferente com tudo e com todos, com aquilo que nos dizem e com aquilo que, por vezes queremos ouvir.

A Laura está doente, primeiro passou na farmácia mas não foi lá com uns ben-u-ron nem com xaropes. A coisa agravou-se e foi a dois hospitais no prazo de uma semana. 

- E está melhor?

Nem por isso, passou a noite no hospital e tem uns exames para fazer. Mas entretanto tinha ido a um médico particular.

- A sério? Tanto médico. Mas porque procurou ela outro médico?

Ela diz que o primeiro disse que foi gripe e que o segundo disse a mesma coisa, mas ela continuou sempre a pensar que poderia ser alguma coisa no coração e na verdade, aquelas aflições do coração não passavam e podia ser. É que isso de médicos, nunca fiando. Mas no particular disse a mesma coisa, era gripe, mas já estava ali com qualquer coisa num pulmão.

- E do coração é alguma coisa?

Não. Com o coração estava tudo bem, todos disseram o mesmo com os exames que ela fez. Aquilo eram ataques de ansiedade só.

- Então não fez nada ter ido a tanto médico diferente!

Não. Mas saiu-lhe um peso da consciência, podia ser do coração.

- Mas não foram duas opiniões ainda precisou de mais! - estupefacta.

Sabes como é, há pessoas que acham que sabem o que têm e quando vão ao médico e eles não confirmam aquilo que elas acham, elas pensam que quem está enganado são os médicos...

- Estou a ver ... então se o primeiro médico lhe tivesse dito que era algo do coração não procurava mais opiniões.

Provavelmente não.

 - Mesmo que afinal fosse um problema grave num pulmão.

Pois.

...

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Maria escreve aqui

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Tema #2.2 - Lara Monteiro

11
Fev20

- Avó, tem de ir ao médico. Está na altura de fazer a consulta de revisão...
- Oh filha nem pensar! Ao médico só vou quando estiver a morrer! O teu avô é que adorava ir ao médico e olha...morreu tão cedo e deixou-me sem ele! Eu ando bem! Não vês tudo o que ainda trabalho?

- Avó, o avô não morreu por culpa dos médicos! Morreu porque tinha uma doença grave que não foi descoberta a tempo! Tem de deixar de culpar os médicos pela morte do avô! Eles fizeram o que  puderam!

- Clara, já sabes a minha opinião! Médicos para mim, nunca fiando! Eles também morrem! E alguns bem cedo! Por isso não vou lá fazer nada! E não insistas que se não ainda me vou chatear contigo. Deixa-me ficar aqui sossegada em casa que daqui a pouco tenho o almoço para fazer para esta gente toda que aqui trabalha.

 

A avó era a pessoa que Clara mais amava. Estava a viver num lar, tinha Alzheimer num estado já avançado e estava esquecida de quase tudo. Menos de Clara e do avô, que partira quando Clara era ainda pequena. O Alzheimer tinha-lhe apurado a teimosia também. Já a fizera esquecer dos filhos e dos restantes netos. Já a fizera esquecer que já não trabalhava no hospital, onde sempre fora feliz como enfermeira.

Clara ficava sempre de coração apertado quando ia visitá-la, todas as semanas. Porque nunca sabia como a ia encontrar. Porque sabia que  um dia também a ela a ia esquecer.

 

Mas Clara lembrar-se-ia pelas duas. Porque o amor pode ser esquecido, mas nunca deixa de ser sentido.

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Lara Monteiro escreve aqui

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Tema #2.2 - Triptofano

11
Fev20

Tinha sido por causa de um médico que perdera a sua mãe, a mãe que tanto lhe fizera falta durante a inocência da juventude, a mãe cuja ausência a obrigou a tornar-se mulher muito antes do tempo.

Ela não tinha sequer 30 anos quando lhe disseram que tinha o útero descaído, e que a melhor opção seria remover tudo. Útero, trompas, ovários, e tudo o mais que se pudesse encontrar pelo caminho.

A mãe de Esmeraldina confiava em médicos, confiava tão cegamente que não pensou em pedir uma segunda opinião, confiava tão cegamente que deixou que a abrissem para tirar o mais precioso que tinha dentro dela: a capacidade de gerar nova vida. E foi quando lhe tiraram essa capacidade que ela encontrou a morte.

Uma compressa esquecida. Uma infecção generalizada. Uma morte galopante causada por um médico que na ânsia de ganhar dinheiro tinha inventado uma doença que não existia. 

Esmeraldina não sabia disso, mas não precisava de o saber para não confiar em médicos.

Fez a sua vida sem nunca chegar perto de um centro de saúde ou de um hospital. Encontrou os seus remédios nas ervanárias, nas conversas com as vizinhas, nas folhas desbotadas de um livro da biblioteca itinerante.

A filha teve-a numa parteira, entre gritos, toalhas frias e contracções. Pensou que morria nesse dia mas a força que trazia dentro era maior do que ela, e depois de horas de sofrimento trouxe uma menina ao mundo.

Uma menina que amou e cuidou sem remédios nem vacinas, apenas com o conhecimento que os anos lhe tinham trazido.

Uma menina que agora estava deitada na cama da parteira, sofrendo entre gritos, toalha frias e contracções. 

Esmeraldina não estava preocupada. Tinha aprendido a confiar naquela parteira, nas mãos hábeis que sabiam tirar a vida de um corpo. 

A filha já tinha tomado os comprimidos há mais de quatro horas, não deveria demorar muito até todo o processo ter terminado.

Bastaram apenas mais alguns minutos, breves para ela, eternos para a filha, para que a parteira subtraísse das vísceras um feto avermelhado que rapidamente colocou dentro de um grande saco preto do lixo.

O aborto tinha sido um sucesso.

Esmeraldina olhou com um misto de ternura e desdém para a filha que gemia baixinho de dores - de corpo e de alma - na cama da parteira.

Com 14 anos já deveria ser adulta o suficiente para perceber que não se deve confiar em médicos, muito menos abrir as pernas para eles ao som da primeira promessa de amor eterno.

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Triptofano escreve aqui

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Tema #2.2 - Ana Sofia Neves

11
Fev20

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- Sr. Altivo, está com 50 anos e está na altura de fazer o tão desejado exame. – disse a médica de família.

- Que exame, sra Doutora?

- O exame para ver se está tudo bem com a  sua próstata. Deve ser feito aos 50 anos.

- E como é que é feito? – perguntou inquieto o Sr. Altivo.

- Não se preocupe, apesar de ser um dos mais temíveis exames feitos pelos homens, é indolor e rápido. Não é nada de especial e não tem nada a temer. Venha cá no dia 7 e fazemos logo nesse dia.

- Está bem, sra Doutora.

O Altivo foi para casa e disse à Josefina, sua mulher, que tinha que ir fazer um exame à próstata, de rotina, no dia 7, mas que a doutora lhe disse que não era nada de especial.

- E se gostas, Altivo? Vai ser o nosso fim... – disse a Josefina quase a chorar.

- Se gosto do quê? Do exame?

- Ó homem,  então a doutora não te explicou que te vai meter o dedo no cú?

- O quê? Aqui ninguém mete nada. Ela só disse que era indolor e que não custava nada... – respondeu o Altivo apreensivo.

- Olha, não penses mais nisso, pode ser que seja outra coisa.

- Outra coisa como?!?!

-  Outra coisa, outro exame diferente. Não te apoquentes e não penses mais nisso.

O dia 7 chegou e o Altivo lá foi à doutora.

- Bom dia, Sr Altivo, pronto para o exame?

- Bom dia sra Doutora, como é o exame?

- Não me diga que nunca ouviu falar dele? Eu vou fazer o teste do toque retal.

- Com o quê? – perguntou o Altivo já de pé e pronto para fugir.

-É só o meu dedo, e como pode ver nem é grosso, parece um palito. Prometo que não vai sentir nada. Quando der conta, “já o lá tinha”... Vamos lá começar, dispa-se e coloque-se de lado. Eu vou contar até três e enfio... Um... Dois...

- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, que bom!!! Posso cá vir todos os dias?

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Ana Sofia Neves escreve aqui

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Tema #2.2 - Gabi

11
Fev20

Em casa de ferreiro espeto de pau.

 O que fará um médico quando fica doente?

Vai ver a bruxa, marca uma consulta com o Prof. Mambdu ou assalta outro médico, onde calha de o encontrar, num restaurante, no meio de um jantar romântico (agora pelo dia 14/2) no elevador ou no parque de estacionamento escuro e vazio: “Colega tem um minuto? É que estou aqui com uma dorzita…”

Desconfio que serão como cada um de nós, de todas as cores e feitios, a evitar exames e consultas há não sei quanto tempo, mas já foram anos? Ou hipocondriacamente a correrem para novas consultas: este sinal aumentou 0,000002 mm, não será de fazer alguma coisa?

Talvez também cometam o erro de ir à net quando suspeitam de algo de outra especialidade,  e saiam de lá com a convicção profunda que, ao invés de uma maleita tropical apanhada sem dúvida nas férias do ano passado. ou no anterior, quando até foram a outro Continente (não o do Hipermercado), têm é cinco ou seis doenças inoperáveis e mortais.

E como serão os seus congressos? O que é que oferecem por lá? Férias e medicamentos? Ou um cafezinho em copo de plástico e por 0,70 €?

Será que há médicos a lerem isto?

Se por acaso assim for, tenho o maior respeito pela vossa classe, até poderia ter tentado ser médica (se a ideia de memorizar nomes de doenças, químicos, e procedimentos não me assustasse e ver sangue ainda mais – até quando doava não olhava) e estou anónima - e se algum souber quem escreve neste blogue, não sou eu, algum personagem estranho abeirou-se do computador enquanto eu dormia ao lado, sem me querer ir deitar antes de escrever o texto para o Desafio - escreveu isto e enviou, - que chatice! mas o importante é lembrar: não sou eu (mas conta para o desafio).

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Gabi escreve aqui

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Tema #2.2 - 3ª Face

11
Fev20

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Memórias são como as nuvens. Às vezes, num céu limpo, surgem quase por magia, sem nos apercebermos.

Veio-me à memória o início da doença da minha avó Pulquéria. Mulher determinada e apaixonada pelo marido.

Todavia, quase aos 70 anos, começou a mudar. Tinha dias muito agitados, outros até se esquecia dos nossos nomes.

Contudo lembrava-se de ir, semanalmente, ao médico de família.

Todas as semanas tinha uma dor, desconfiava de uma doença grave, queria fazer um novo exame…

A família começou a estranhar.

Ainda mais que, durante uma valente gripe que a levou à cama por 2 semanas, se recusou a ir ao Centro de Saúde.

Assim que melhorou, lá tratou de marcar consulta, sem antes passar pela cabeleireira para renovar a tinta e fazer a ondulação.

Obrigaram-me a acompanhá- la, com a desculpa de que não poderia ficar sozinho em casa.

Assim que entrou e tratou da ficha no balcão, sentou-se numa cadeira entre 3 senhoras da “sua mocidade” e eu percebi que tinha o lugar reservado.

Recordo-me da conversa e de pensar que não queria nunca chegar a velho.

 

- Atão, Gracinda, como andas com a dor no bucho?

- Ai, Paquéria, até gano com dores com’ós canitos! Vim cá pedir mais Buscopão para ver se aguento.

- E tu,  Cramilda, já te sentas?

- Olha, antes dontem senti-me. Mas o médico custou a fazer o dignóstico. Mandou-me fazer um RX, um taco e chamou-me mentirosa quando me viu sentada na cadêra do sala de espera. Tive que perder a vergonha nas ventas e dizer-lhe que não conseguia era cagar quase há duas semanas!

- Só vistos! Eles pensam c’a gente sabe aqueles nomes estranhos com que falam! Quando me quêxo das dores da cabeça, o dr. pargunta-me sempre se falê-as. Falo com ele, a quem havria mais de falar disso? É que isso de médicos, nunca fiando! – respondeu prontamente a Gracinda.

 

Nisto chamam a minha avó. Levanta-se com ligeireza e ordena-me:

- Pontinha, fica aqui com as minhas amigas!

Mas eu não vou nisso! Agarro-me à saia dela e não largo.

Entramos no consultório e ela corre para o médico:

- Ai sr. doutor, ai sr, doutor, como está bonito!

E carrega-lhe dois beijos repenicados.

 

O médico pede-lhe que se sente e comenta:

- Então D. Pulquéria, não tem aparecido à consulta.

E ainda me lembro da desenvoltura da resposta da minha avó:

- Ai Sr. Dr, não tenho podido vir! É que estive tão doente!

 

(Quase sempre, a realidade supera a ficção. A história baseia-se mesmo em dois episódios reais)

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

3ª Face escreve aqui

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