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Desafio de Escrita

Tema 3 - Maria Araújo

19
Jun21

Esquecera-se do guarda-sol, tão importante quanto o protector solar, foi comprar um dos mais baratos a uma loja de chineses.
Estatelou-se à beira-mar, num espaço entre um homem e um casal, os três a uma distância razoável, pois não gosta de estar "colada" às pessoas, como faz a maioria dos banhistas que vai para a praia.
Além disso, a época balnear ainda não abrira, estava à vontade para usufruir do dia, do sol e da leituta.
O mar não convidava ao banho, mas foi sentir a temperatura da água. brrrrr, fria!
Protector solar no corpo, deitou-se a ouvir a playlist do seu telemóvel, trauteava uma ou outra canção que levava para o infinito as preocupações e o cansaço.
Cerca de uma hora e meia depois e deita a gozar o sol, escutou uma voz...
"Não quer que lhe ponha protector solar nas costas?".
Absorta na leitura, não se apercebera que alguém se aproximara. Levantou a cabeça e, de pé, com uma embalagem azul na mão, estava um homem.
Estupefacta, respondeu: "Obrigada, não é preciso."
Ele insistia, ao mesmo tempo que estendia o braço e mostrava-lhe o seu protector: "Mas eu ponho. Está a ficar com as costas queimadas. É perigoso."
Ela respondia: "Obrigada, mas eu já pus. Além disso, eu tenho cuidado. "
" Quando quiser diga que eu ponho" , disse. E afastou-se.
Deitada, imaginou- se no espelho a ver o seu sorriso e os seus olhos brilhantes de situação tão inédita.
Ria-se e pensava: "E esta,hein?! Como é possível? Tanto anos que faço praia sozinha, nunca ninguém tivera a ousadia de se aproximar e perguntar-me se desejava que me pussesse creme nas costas. Até que me dava jeito, pois claro. Ele não era homem de se pôr de lado, não!"
Sentou-se. Não olhava na direcção dele. Só o mar.
Um bom tempo depois, percebeu que alguém se movimentava. Continuou a leitura, até que levantou os olhos e não viu ninguém.
E ficou sossegada a "beber" o sol.
O sol estava mais forte, foi ao saco da praia, tirou o protector solar para pôr nas pernas. O corpo estava debaixo do guarda-sol.
O seu conteúdo era pouco, mas chegava para aquele dia. Virou a embalagem para baixo, agitou-a para que saísse algum produto, e eis que o pouco que tinha saltou para a areia. Apertou uma duas, três vezes, mas nada saiu de dentro.
E chateada porque tinha tido a oportunidade de umas mãos masculinas aplicar-lhe o protector, quiçá fazer-lhe uma massagem nas costas, zangada, diz-lhe: "Não aguento mais contigo!" - afirmou, enquanto o atirava para longe.
Levantou-se, arrumou tudo no saco, fechou o guarda-sol e saiu da praia...Mas foi apanhar a embalagem para depositá-la no contentor da reciclagem.

 

Maria Araújo escreve aqui. 

Tema 3 - José da Xã

19
Jun21

Havia longas horas que Valdemar não tirava os olhos do velho monitor que lhe ocupava metade da secretária. Esta também parecia quase nem existir tal era o profusão de
processos que se alastravam por cima do tampo, uns em cima dos outros, em torres de papel pouco equilibradas, não obstante haver um recado permanente e preso num dossier escrito em letras garrafais por ele próprio e que dizia: amanhã dia de arquivo. Porém todas as manhãs o inspector quando chegava lia o papel e exclamava para si a sorrir: ah é só amanhã.

E assim continuava a bagunça.

Alguns colegas brincavam com ele por causa daquela desorganização, essencialmente pedindo-lhe informações de crimes resolvidos, mas que poderiam estar relacionados com outros mais recentes, no intuito único de o verem vasculhar no meio de tanta celulose. No entanto Val rapidamente sacava do fundo das resmas do tal processo, deixando os colegas quase sempre muito desconfortáveis. Mas naquele serão não eram processos para relatar e arquivar que Valdemar buscava, mas tão-somente algo que lhe desse uma indicação, que lançasse alguma luz sobre o crime que tinha entre mãos.- Que caneco… mas este tipo ou tipa não tem qualquer informação nesta base de dados… nem uma multa de estacionamento…

Nada! – desabafou quase zangado.


Sentiu bater no seu ombro e deu um salto na cadeira. Adormecera sem dar por isso a olhar para aquele monstro informático.

- Bom dia Val… ficaste aqui a noite toda ou vieste directamente da borga? – perguntou-lhe o chefe acabado de chegar à Brigada.


Valdemar sentiu-se levemente ofendido, mas nada devolveu ao chefe, a não ser:


- Bom dia Aquiles, fiquei aqui à procura de algo sobre o assassínio de há um mês… e nada! É desesperante…


- Val… vai para casa! E se não conseguires resolver não serás o único. O que falta no arquivo são casos por resolver…


- Ó chefe parece que não me conhece. Eu quando pego numa coisa não a largo até esmiuçar a situação. Mas esta… tem dado água pela barba.


- Ouve… aceita um conselho… vais para casa, dormes umas boas horas, comes devidamente e quando estiveres recomposto regressas. Estás a perder tempo sem ganhar
conhecimento. Vá pira-te daqui!

- Mas chefe…


- Em vez de conselho passa a ser uma ordem! Desaparece daqui! Chispa!


Valdemar ergueu-se da sua secretária devagar pegou na capa do processo pouco volumoso e…


- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

As folhas soltas voaram então pela sala e por cima se uma série de secretárias obrigando-o, antes de regressar a casa, a reunir toda a papelada.

 

José da Xã escreve aqui. 

Tema 2 - Lu

19
Jun21

 "Afinal havia outro.........."

Pista: rima com chão.

 

_ Ora bem, é de comer?
_ Não.
_Então, não é pão!

 

_É animal?
_Não.
_Então, não é cão!

 

_É um país?
_Não.
Então, não é Japão.

 

_É de gastar?
_Não.
_Então, não é tostão!

 

_É de morrer?
_Não.
_Então, não é caixão.

 

_É de amar?
_Não.
_Então, não é coração!

_OH pá não chego lá. Pode ser tanta coisa. De canhão a anão, de ração a vulcão! Sei lá. Outra pistinha talvez?  Queres ver que vou "matar" a minha cabeça para no final me dizeres que afinal, havia outro... fogão!

_Nem mais, acertaste.

A Lu escreve aqui.

 

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 4

19
Jun21

Caramba, todos conseguiram cumprir o desafio anterior! E eu quase que conseguia publicar o próximo tema a tempo e horas... 

Para o próximo dia 2 de julho, vamos pedir-vos que descrevam: 

Um encontro entre um anão e uma bodybuilder, marcado por ele, através do Tinder.

 

Maluco? Nah. Imaginem que vos pedíamos para vender compota de abóbora com amêndoa como máscara capilar? Isso sim, doidice pura. Agora isto? Só a normalidade dentro da anormalidade que é este desafio. 

Vá, vão lá enfardar as sardinhas e a broa qu'inda têm tempo antes do dia 2 de julho - às 15:00, como sempre. 

Sempre em Português de Portugal, prosa ou verso e nunca com mais de 500 nem menos de 100 palavras. 

 

Divirtam-se! 

 

(E obrigada ao sapinho mais fofo e querido pelo destaque da tag! )

Tema 3 - Ana de Deus

05
Jun21
 
 

Francisca contratou uma empresa para limpar a casa e só depois começou a telefonar para as lojas onde já tinham comprado a mobília. ligou, pausadamente, para terem tempo de decidir como haviam de dispôr cada coisa. a primeira divisão a mobilar foi o quarto do casal. os pais apareciam com almocinhos vegetarianos caseiros, para matar saudades e acompanharem a transformação da casa.

um dia encontraram os pombinhos desavindos e insistiram em saber porquê. depois de muito suplicarem, Francisca cedeu e disse entre lágrimas: o David vinha a carregar o monitor do computador. o pré-histórico? perguntou a mãe a tentar não rir. de repente, sua excelência o meu marido afirmou: não aguento mais contigo! - enquanto o atirava para longe, no descampado perto de vossa casa mamã.

amor, implorou David, ainda hoje vai chegar uma surpresa que vais adorar. o que é que pode ser melhor que uma memória tangível da minha adolescência!? gritou Francisca. como resposta, batem à porta para entregar um iMac 24'' da nova geração. agora, estou perdoado!? indagou o marido. não aguento mais contigo! exclama a jovem, e acrescenta: anda cá seu parvo, cobrindo-o de beijos.

numa semana a penthouse ficou pronta. estava tudo a decorrer como os dois jovens tinham planeado. a segunda semana era para uma pequena lua-de-mel num hotel em Sintra. prometeram aos pais que no último sábado faziam a inauguração da casa com um jantar só com eles e os avós. tinham escolhido aquele hotel pois a suite da lua-de-mel inclui uma piscina.

David surpreendeu o seu amor com refeições entregues pela catering preferida de ambos, com quem o hotel trabalhava. não tencionavam sair do quarto durante aqueles sete dias, de domingo a sábado. tinham saudades um do outro. com disponibilidade total. ambos eram filhos únicos pelo que, em Lisboa, os pais estavam a viver a sensação de ninho vazio. as mães passavam horas ao telefone.

os compadres decidiram começar a jogar golfe em parceria. era sagrado, todos os dias de manhã. as mães tiveram então a ideia de se juntarem os quatro para almoçar. uma semana na casa de uns e na outra semana na casa dos outros. todas as manhãs, uma das mulheres levava o marido a casa da comadre, e os compadres seguiam para os campos verdejantes do golfe.

estavam a habituar-se a esta nova rotina com facilidade. os filhos iam ficar orgulhosos quando soubessem como em apenas uma semana os progenitores se tornaram amigos inseparáveis. na sexta-feira decidiram experimentar a tal catering vegetariana que os filhos tinham contratado para o casamento. optaram por um buffet para quatro pessoas, ficaram encantados! e felizes: no dia seguinte podiam voltar a abraçar os seus meninos.

 
 
Ana Deus escreve aqui

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 4

04
Jun21

Desculpem tardar no lançamento do próximo tema. Tentei atirá-lo para longe, mas não consegui. Sempre fui fraca em arremesso. 

Ora portantos, para d'hoje a quinze dias, dia 18 junho, teremos a seguinte premissa de orientação: 

"Caramba, quase que conseguia!" 

 

Desenvolvam a ideia, utilizando no texto as palavras preso, sangue, saco e tesoura. 

Já sabem: em português de Portugal, não excedendo as 500 palavras, nem contendo menos de 100. Prosa ou verso fica ao vosso gosto. 

Acima de tudo: divirtam-se qu'isto está quase a acabar! 

Tema 2 - Dona Redonda

02
Jun21

Juntos há doze anos era sempre Ana que cozinhava. Carlos pouco sabia de cozinha e ela fazia tudo tão bem que ele se habituou. Ajudava-a às vezes a lavar a louça ou a metê-la na máquina. 

Para Carlos estava tudo bem até que começou a reparar que Ana andava estranha. Queixava-se do fogão, que os discos estavama pifar, que já ninguém arranjava aquilo. Parecia deveras aborrecida, mas depois ia arranjar-se e trazia comida de fora.

Ultimamente parecia-lhe que ela lhe queria dizer alguma coisa, mas depois não dizia o que era.

Começou com o ser importante sair da rotina, mudar para o que é novo e vai daí perguntou-lhe se podiam adiar as férias, e utilizar o seu subsídio para outra despesa. Respondeu-lhe logo que sim. Ela pareceu feliz com a sua resposta, o que o deixou ainda mais preocupado. Será que ela não queria mais que passassem férias juntos?

Haveria outro?

No dia seguinte quando regressou a casa do trabalho ela já lá estava e parecia muito feliz. Anunciou-lhe: "tenho uma surpresa, segue-me" E ele seguiu-a...até à cozinha. No lugar do antigo, estava agora um novo fogão de placas vitro-cerâmicas!

Havia outro, e com ele continuaram a viver os dois felizes para sempre.

 
Dona Redonda escreve aqui.
 
 
 
 

Tema 2 - Rita

02
Jun21

Naquele dia, decidiu finalmente aprender o maravilhoso segredo da Alquimia. Sempre se sentiu atraída pela magia e pelo desconhecido. Tudo o que sabia vinha do que tinha lido nos livros. Queria aprender, saber e quem sabe um dia ela própria ensinar os seus alunos. Tornar-se Mestre!
Tinha-lhe sido informado que o velho Alquimista vivia no cimo da montanha Verde, para lá do bosque Encantado. Já percorrera mais de 500 kms a pé. Estava exausta e com fome e nem sombra da dita cabana. Sabia que vislumbraria de longe o fumo a sair da chaminé, tal como a Professora lhe havia referido durante a longa conversa durante o encontro combinado ao fim dos longos 6 meses de espera. Teve de fazer um "pequeno" curso (como a Professora gostava de lhe chamar) antes de ser considerada apta a entrar no núcleo.

Chegara finalmente o momento por que tanto desejara e agora que estava quase lá a sua única vontade era de dar meia volta, voltar ao seu quarto na velha estalagem e tomar um banho!

Sentia-se esgotada e enganada! Percorrera um longo caminho para ali chegar e agora que aqui estava parecia que o seu objectivo estava cada vez mais longe de ser alcançado! Queria desistir!
Mas não o iria fazer. Já há muito tempo que sonhava com isto não iria agora perder esta oportunidade!

Continuou, assim, a subir pelo caminho de pedra até que se sentiu de repente vigiada. Parou por um breve minuto e olhou para trás. Não viu ninguém, nem as folhas das árvores pareciam mexer-se. Ao voltar-se de novo, um homem alto com uma longa barba branca olhava para ela com um sorriso nos lábios.

- Pensava-a já perdida, menina!- disse este continuando a sorrir e voltando-se de seguida na direção oposta.

Ela ficou por momentos imóvel sem saber se estava ainda a respirar, o coração parecia ir salta-lhe do peito. Como sabia ele que ela chegaria? Pelo que a Professora lhe tinha contado, o velho Alquimista não tinha qualquer contacto com a civilização, à parte os peregrinos que de tempos a tempos percorriam longos quilómetros para verem com os seus próprios olhos se era verdade a lenda que lhes era contada desde crianças.

Quando voltou a si já o Alquimista ía a uns bons passos de distância em direcção a um pequeno portão quase imperceptível entre dois grandes carvalhos. Percorreu um pequeno jardim muito florido e entrou numa pequena casinha de madeira.

A primeira coisa que lhe veio à cabeça ao entrar na pequena casa, ao contrário do que sempre imaginara que aconteceria quando finalmente chegasse a este momento, não foi, afinal, onde estaria o fogão onde faria todos as suas experiências químicas, mas sim que não lhe parecia ali haver espaço nem para duas pessoas se sentarem, quanto mais para aprender alguma coisa de Alquimia!

No entanto, entrar na cozinha seguindo o velho, percebeu, olhando pelo canto do olho, que não era naquele fogão onde iria começar esta fase da sua nova vida!

 

Rita escreve aqui

 

Tema 2 - Totó

01
Jun21

No primeiro dia que Joana pisou a calçada daquela vila, pressentiu que não ia passar despercebida e que não haveria de ter muito descanso.  Dona Custódia estava encostada à paragem do autocarro, com os olhos fixos em cada pessoa que o descia. Soube logo que era ela e aproximou-se.

- Olá, boa tarde. Sou a Custódia, a sua vizinha do rés-do chão e tenho muito gosto em acompanhá-la até casa. Só não consigo ajudar com as malas, por que sabe...dores da idade. 

- Boa tarde, agradeço-lhe imenso mas tem a certeza que sou a pessoa que tem esperado? - disse Joana, com dúvidas da senhora idosa, vestida de negro e de bengala na mão.

- Então não sei! É a Joana, a comandante do posto da GNR aqui da vila. Filha, que orgulho ter uma mulher a pôr os bandidos em sentido! Foi a minha nora que me disse que ia ter uma vizinha da GNR e que chegava hoje à tarde na carreira de Louriça. Vamos andando, fiz-lhe uma sopinha de feijão muito boa que até os meus netos se lambuzam com ela. Também fiz um bolo de laranja para comermos logo ao serão com um cházinho. 

"Chá! Serão!" pensou Joana. Ainda mal tinha assente os pés naquela terra e já estava amarrada à velhota. Joana estava incrédula a observar aquela senhora, enfezadita mas cheia de força na língua.

Quando chegaram à nova casa de Joana, Dona Custódia fez a visita guiada, justificando-se de que tinha trabalhado para o senhorio quando era nova, fazendo visitas aos apartamentos do prédio e de outros prédios dele, por isso conhecia os cantos todos da casa. Joana agradeceu e depois da visita guiada, disse-lhe que precisava de um banho quente e de começar a arrumar as suas coisas.

- Claro, menina. Esteja à vontade. Eu vou até lá abaixo a casa, preparar o seu jantarinho. Esteja à vontade.

A verdade é que a casa não era realmente de Joana mas se ia pagar renda, era como se fosse dela. O "esteja à vontade" pareceu-lhe demasiado invasivo e previu problemas de privacidade.

Depois do banho, encaminhou-se para a sala que partilhava uma pequena cozinha e voilá, Dona Custódia, sem bengala e de passo ágil andava de volta de uma chaleiraA seu lado, na bancada, havia uma panela e um prato com um bolo de cor bonita e que estava a adocicar o ar do pequeno espaço. Joana recordava a sua avó, já falecida, a fazer o mesmo quando ela era pequena. 

- Não consigo pôr a água a ferver com esta coisa. Não assenta no bico do fogão.

- Dona Custódia, se me permite, vou explicar-lhe. É que este aparelho é elétrico, liga-se à tomada.

- Ai filha, obrigada. Estou tão desatualizada com estas coisas. Que disparate!

Ligou a ficha e soltou um animado "Ah! Afinal havia outro fogão!". Ambas riram-se muito.

Joana sabia que a sua vida dali para a frente não ia ser fácil mas também era bom ter companhia.

 

Totó escreve aqui.

Tema 2 - Introvertida

01
Jun21

Adelaide saiu de manhã cedo. Eram poucas as ocasiões que a faziam arranjar-se com o cuidado que fizera naquela manhã. Era a mais nova de 10 irmãos e a única que não emigrou. Gostava de rever toda a família mas não deixava de se sentir um tanto envergonhada pela sua modéstia em contraste com a pompa que os seus irmãos exibiam. Prometeu ir ajudar a irmã a preparar o almoço de família daquele domingo. Tinham, finalmente, a casa perfeita para acolher a numerosa prole que continuava a crescer a olhos vistos. O almoço anual tornou-se um ritual logo após a morte da matriarca há cinco anos. Olinda marcou várias gerações através do seu trabalho como costureira e o seu trabalho tornou-se famoso na região logo após o seu retorno de Paris antes da guerra estourar. A sua progénie prometeu celebrar a vida de sua mãe logo no dia do seu enterro e, apesar de dispersos pelos quatro cantos do mundo, tinham, anualmente, dia e hora marcada para se reencontrarem, recordarem e criarem novas memórias.

Alice voltara às origens há um ano. Ao final de quase quarenta anos nos Estados Unidos voltou à terra que a viu crescer depois de terminada a construção da sua mansão. Acostumara-se a viver o sonho americano e mesmo não tendo necessidade de tanto espaço para si e para o marido, avançaram com o projeto. Assente numa pequena colina, o largo portão da entrada em ferro trabalhado dava acesso à porta principal da casa através de um caminho estreito em pedra calcária. A casa de três andares e traça moderna destoava das construções em redor, típicas daquela zona do país. Chamava a atenção pelos relvados e estatuetas da fronte mas apenas os mais próximos de Alice sabiam do seu orgulho nas roseiras que tinha no jardim das traseiras da casa. Adelaide adorava cozinhar mas a cozinha era a parte de que menos gostava na casa da irmã. Demasiado grande, revestida pelo que lhe pareciam milhares de portas que escondiam todos os equipamentos de um cozinha comum. Queria muito ajudar mas sentia-se perdida e frustrada por não saber ali navegar à vontade.

Parte da família já estava instalada e enquanto os miúdos brincavam no jardim e se preparava o churrasco, o resto da família ia chegando em intervalos cada vez menores. As duas irmãs preparavam o banquete e a elas se iam juntando mais membros, a conversa ficava mais ruidosa e animada.

- A mesa já está posta! - anuncia Daniela, uma neta - Posso começar a levar a comida?

- Podem começar a levar tudo, já está tudo feito, só falta uma perna de perú que ainda está no forno mas já vou desligar - responde Alice, de sorriso nos lábios, satisfeita com o trabalho daquela manhã e de coração cheio com a animação e amor que sentia com todo aquele rebuliço.

- Falta ainda fazer a comida do António! - exclamou Adelaide, meio em pânico porque estava à espera que o fogão fosse liberado para cozinhar a dieta do marido - Ele só pode comer cozidos...

- Oh Lai, já podias ter dito, não tinhas de esperar - respondeu Alice por entre gargalhadas. - Está ali outro fogão, podias ter usado.

- Sabia lá que havia dois fogões... Por que raio havia uma casa de ter dois fogões? - ripostou Adelaide.

 

Introvertida escreve aqui.