Tema 3 - Maria Araújo
Esquecera-se do guarda-sol, tão importante quanto o protector solar, foi comprar um dos mais baratos a uma loja de chineses.
Estatelou-se à beira-mar, num espaço entre um homem e um casal, os três a uma distância razoável, pois não gosta de estar "colada" às pessoas, como faz a maioria dos banhistas que vai para a praia.
Além disso, a época balnear ainda não abrira, estava à vontade para usufruir do dia, do sol e da leituta.
O mar não convidava ao banho, mas foi sentir a temperatura da água. brrrrr, fria!
Protector solar no corpo, deitou-se a ouvir a playlist do seu telemóvel, trauteava uma ou outra canção que levava para o infinito as preocupações e o cansaço.
Cerca de uma hora e meia depois e deita a gozar o sol, escutou uma voz...
"Não quer que lhe ponha protector solar nas costas?".
Absorta na leitura, não se apercebera que alguém se aproximara. Levantou a cabeça e, de pé, com uma embalagem azul na mão, estava um homem.
Estupefacta, respondeu: "Obrigada, não é preciso."
Ele insistia, ao mesmo tempo que estendia o braço e mostrava-lhe o seu protector: "Mas eu ponho. Está a ficar com as costas queimadas. É perigoso."
Ela respondia: "Obrigada, mas eu já pus. Além disso, eu tenho cuidado. "
" Quando quiser diga que eu ponho" , disse. E afastou-se.
Deitada, imaginou- se no espelho a ver o seu sorriso e os seus olhos brilhantes de situação tão inédita.
Ria-se e pensava: "E esta,hein?! Como é possível? Tanto anos que faço praia sozinha, nunca ninguém tivera a ousadia de se aproximar e perguntar-me se desejava que me pussesse creme nas costas. Até que me dava jeito, pois claro. Ele não era homem de se pôr de lado, não!"
Sentou-se. Não olhava na direcção dele. Só o mar.
Um bom tempo depois, percebeu que alguém se movimentava. Continuou a leitura, até que levantou os olhos e não viu ninguém.
E ficou sossegada a "beber" o sol.
O sol estava mais forte, foi ao saco da praia, tirou o protector solar para pôr nas pernas. O corpo estava debaixo do guarda-sol.
O seu conteúdo era pouco, mas chegava para aquele dia. Virou a embalagem para baixo, agitou-a para que saísse algum produto, e eis que o pouco que tinha saltou para a areia. Apertou uma duas, três vezes, mas nada saiu de dentro.
E chateada porque tinha tido a oportunidade de umas mãos masculinas aplicar-lhe o protector, quiçá fazer-lhe uma massagem nas costas, zangada, diz-lhe: "Não aguento mais contigo!" - afirmou, enquanto o atirava para longe.
Levantou-se, arrumou tudo no saco, fechou o guarda-sol e saiu da praia...Mas foi apanhar a embalagem para depositá-la no contentor da reciclagem.
Maria Araújo escreve aqui.