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Desafio de Escrita

Tema 2 - Marta

30
Mai21

"Certo dia, conversava um casal de namorados...

 

Ele: Tens mesmo que ir?

Ela: Sabes que sim.

Ele: Porque não ficas aqui comigo?

Ela: Porque tenho que ir trabalhar.

Ele: Estou farto de ter que te partilhar com ele. Queria-te só para mim.

Ela: Pois, mas é ele que me garante o dinheiro ao fim do mês.

Ele: Eu também te podia pagar. E não tinhas que o ver mais.

Ela: Já te disse várias vezes que não quero misturar as águas. Uma coisa é a minha relação. Outra, é o trabalho. Além disso, eu gosto do que faço.

Ele: Mas depois, sempre que estou contigo, sinto o cheiro dele. Daquilo que fazes com ele. E fico cheio de inveja, e ciúmes, por não ser eu. 

Ela: Amor, sabes que eu gosto muito de ti, mas nunca na vida poderias ser ele. Nem eu ia querer isso. Prefiro que sejas quem és. Além disso, sabes que partilho sempre contigo aquilo que fizemos juntos.

Ele: Mas não é suficiente. Precisamos de mais tempo para nós. E ele está constantemente a roubar-te de mim.

Ela: E tu estás a querer roubar-me a ele! Não sejas imaturo.

Ele: Não sou imaturo. Sou realista.

Ela: Bem, podes sempre vir comigo e divertimo-nos os três!

Ele: Alguma vez? Não fui feito para isso. Não tenho esse teu dom para aguentar gestos repetitivos, fazer o mesmo uma vez e outra, sem querer fugir.

Ela: Então, não te queixes. 

Ele: E se eu te pedisse para escolher entre eu e ele? Eras capaz de me deixar?

Ela: Tens dúvidas?! Isso seria demasiado infantil da tua parte, até porque também acabas por usufruir daquilo que faço. Mas não me ponhas à prova, porque ficas a perder.

Ele: Traidora! 

Ela: Exagerado! E, por falar nisso, estou atrasada. Tenho mesmo que ir cometer umas infidelidades!

 

E nisto, ela levanta-se, veste-se, e dirige-se ao seu posto de trabalho, na cozinha, onde o fogão a espera, para mais uma maratona de iguarias que ela terá que cozinhar, para satisfazer as encomendas do dia!

 

Marta escreve aqui. 

Tema 2 - Gaivota Azul

30
Mai21

Aromas de ervas mil enchem o ar.

Faz tempo que não cozinho. Sempre ajudou a clarear ideias.

Instintivamente reúno os ingredientes que irei necessitar.

Não preciso medir ou pesar, a mão não me falha.

Anos a fio em torno do fogão fizeram de nós cúmplices.

Lamurias, lamentos, dúvidas, esperanças e lembranças, tudo partilhámos.

 

Hoje olhei a imagem refletida no espelho e não me reconheci.

Acenei-lhe e ela sorriu-me de volta.

Vislumbres de uma vida preenchida, de uma vida feliz!

Imagens tão nítidas que negaria terem-se passado sessenta anos.

Abracei-me. Ainda vivo em mim! 

 

Ocasionalmente passeio-me pelo passado.

Ultimamente agarro-me ao Aqui e Agora.

Tudo é efémero! A começar por mim.

Recuso-me a aceitar a noite eterna.

Obstinada, regresso ao comando daquele que sempre me pertenceu.

 

Frequentemente dou por mim a divagar. Resisto.

Organizo mentalmente os próximos passos.

Gestos rotineiros ensaiados e repetidos até à perfeição (ou exaustão)

Alguém bate à porta. É novamente a Saudade a chegar.

Oiço o que tem para contar. Algo me diz que desta vez veio para ficar.

 

Gaivota Azul escreve aqui.