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Desafio de Escrita

Tema #2.5 - Tótó

01
Mar20

Joana não conseguia processar o que se estava a passar com ela. De repente vê-se num sítio onde nunca esteve, com pessoas que nunca viu e que mesmo sendo uma estranha também para eles, (e louca, segundo o que lhe parece) estão a ajudá-la a regressar a casa. Sem segundas intenções, sem pedir nada em troca. O casal Lurdinhas e Eustáquio Vida Larga, têm sido incansáveis com ela e ela, às vezes tão azeda para eles. 

Joana precisava de entender o que se estava a passar e a Sofia conseguiu acalmá-la ligeiramente. Não estava sozinha. Sofia contou-lhe naquela manhã, que também foi muito atabalhoado o encontro com as pessoas da aldeia, e que também pensava que tinha adormecido, mas ao fim de um ano descobriu que afinal tem estado em coma. Tinha sido o Sr. Eustáquio que a levou ao Padre Serafim, porque começou a perceber que algo estava muito errado. O Padre Serafim parecia ser um bocadinho inconveniente e indiscreto mas ele estava ali com uma única missão, e não era dar missas.

Joana ficou em choque. Estaria ela também em coma? Teria morrido e aquilo era o céu? Mas Sofia aquietou-a. Junto do Padre Serafim aprendeu a distinguir os “perdidos”. Há os sonhadores, os que estão em coma ou inconscientes e os que morreram. Há diferenças entre eles mas não podia ensinar-lhe, podia só dizer-lhe que ela estava bem de saúde, estava só enrolada num sonho e não tardava em acordar.

Ao regressar a casa dos Vida Larga, Joana sentia-se numa ambiguidade, por um lado queria ficar com Sofia e descobrir mais sobre a aldeia e sobre o mistério da distinção de pessoas, por outro só queria voltar à sua vida, por mais reles que fosse. Eustáquio sentou-se a seu lado, pressentindo as suas dúvidas.

- Sabis, o tempo né o relójo que manda, és tu! Tu é que decidis, tá claro, mas sa fossi a ti na ma apressava! É cassim de repenti acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se. Vá, conta-nos o tê dia.

Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia

Tótó escreve aqui

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Tema #2.5 - Joana Rita Sousa

01
Mar20

- A questão é saber se chegas a ter consciência disso. Ou se achas natural.

- Acho natural o quê? – perguntou ele.

- Pronto. – disse ela – Já percebi que não tens consciência.

- Mas consciência do quê? – insistiu nele.

Ela sacou de um cigarro. Negro, com cheiro a baunilha. Nem se percebia bem que era um cigarro, dada a ausência do cheiro a tabaco.

- Não gosto nada de ter que te explicar isto. És um falso. Apregoas aos sete ventos uma coisa que não és. Ainda não percebi se te queres proteger ou se isso é uma forma de ataque.

Ele olhou-a. Sentia-se transparente.

- E não olhes para mim assim. Nem imaginas como me custa ter-te aqui e dizer-te isto na cara. Custa-me tanto saber que és outro. Nem imaginas como isso me chega a irritar. E afasta-me de ti. Só penso em formas de estar longe de ti. Mil e uma ginásticas.

O cigarro estava a chegar ao fim. Era tarde e a alma – que pesava toneladas - pedia descanso. A dela. Já a dele pairava algures naquele quarto a tentar compreender o sentido daquilo que tinha ouvido.

Era (cada vez mais) tarde. Ela puxou o cobertor e o lençol. Apagou a luz. Ele permaneceu sem resposta, com o olhar fixo na escuridão, que era o reflexo da sua própria falta de luz. No outro dia, pela manhã, ele não estava lá. Um bilhete na mesa de cabeceira a dizer "adeus". Ela respirou fundo: realizou-se o que há muito desejava. 

Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia

Joana Rita Sousa escreve aqui

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Tema #2.5 - João Lopes

01
Mar20

Acordei com menos cabelo o que mais desejava, o primeiro assunto que me lembrei, foi do texto que agora escrevo, «Acordas e tudo o mais que desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia». Para além da intromissão na vida alheia, tenho que escrever um texto sobre o meu dia. Escreverei verdades ou escreverei como se de verdades conversasse, quem ler o texto o que pensará da pequena história do meu dia? Vou escrever que o meu dia foi passado entre amigos, almoçamos num bom restaurante, comida boa, vinho excelente e de preço elevado. Só não coloco fotos, dos amigos, da comida e do vinho, porque o texto é sem fotos. Não aconteceu nada do que escrevi, não passei o dia com amigos, almocei na minha casa e bebi água, tenho de conduzir a biblioteca ambulante, segurança acima de tudo. Sem conscientizar o que escrevi, revelei um pouco do meu dia, com as histórias, minhas confidentes, amigas. A intimidade entre mim e elas está presente todos os dias, muita confiança, ao ponto de sermos cúmplices, nas inúmeras viagens já realizadas. Um dia de condução, por estradas largas, por estradas estreitas, distâncias longas, tantas vezes percorridas noutros dias, a indiferença tem alturas que se quer sobrepor. Mas não é bem assim, apesar da repetição dos percursos, os momentos são sempre diferentes, com os panoramas a serem alterados, pelo homem, pela natureza, por mim, olho para eles sempre de maneira diversa quando me aproximo. Um dia em que sou um intruso, ou um amigo, nas aldeias que me acolhem por breves períodos, um dia em que estão todos, ou não está nenhum. Um dia de muito frio,   ou calor, um dia cheio de amor pelo que realizo. Um dia de tristeza pelo que podia realizar e não realizei,um dia que queria ter o que não me querem dar. Um dia sem perder a confiança no futuro, um dia em que as histórias continuam a fazer parte da minha história.

Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia

João Lopes escreve aqui

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