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- O que queres ser, quando fores grande, Pontinha?
Eis a pergunta que mais ouvi desde a Primária.
- Quero ser marido de uma velha rica!
Esta resposta foi-me ensinada pelo tio Dino, quando me queixei do desconforto de responder a tal questão.
Sabia lá eu o que queria ser!
Mais importante era saber quando me nasceria o bigode e o pêlo das pernas…
Então o Dinão, com a sabedoria de quem conhecia o mundo através de uma tela gigante, sugeriu-me essa resposta.
E acertou em cheio!
Os inquiridores, absortos em divagar sobre o assunto, esqueciam-se rapidamente de mim e eu desaparecia, liberto de perguntas sobre um futuro que nem sabia que existia.
Porém, chegada a altura – e não tendo encontrado nenhuma velha rica que quisesse casar comigo – decidi-me pela Enfermagem. Sempre gostei da área da Saúde e durante alguns anos, alimentei a esperança de ser médico.
Mas a média não chegou lá. Muito menos a conta bancária dos meus pais, que não me conseguiram enviar para a República Checa…
Sou enfermeiro, com muito orgulho e alguma desilusão pela forma como a classe profissional é tratada.
Há dias, com o turno a terminar, ainda tive de preparar a admissão de uma doente… à hora de me desfardar, incumbiram-me de mais uma tarefa… sempre o mesmo, têm falta de pessoal e sobrecarregam-nos!
Era uma jovem.
Calada. Com um olhar vazio, como se o mundo fosse apenas céu escuro…
Mas, lá dentro, eu vislumbrei uma estrela…
E nos dias seguintes, vi o Sol.
E o tal calhamaço caiu-me em cima!
Chegava a casa aturdido, revoltado com o que sentia. Triste por terminar o turno. Ansioso por voltar!
- É apenas uma paciente. Em breve terá alta e não regressará – tentava eu responder aos sentimentos!
Perdi o apetite e o sentido de humor. Chegava a casa e, com desculpa do cansaço, deitava-me.
O meu pai foi o primeiro a demonstrar preocupação e ouvi-o comentar com a minha mãe:
- Ele não está cansado. Ele anda é doente! Se calhar pegaram-lhe alguma coisa. Oh não, um vírus outra vez! Deve ser isso, anda por aí um novo vírus que começou na China! Temos de o alertar!
- Descansa querido – serenou a minha mãe. – Este vírus atacou-o pela primeira vez mas já existe há séculos. Umas vezes tem cura, outras não. Só não sei o nome e a cor dos olhos da virose mas ainda hei-de descobrir.
Mãe nem sempre encontra tratamento. Mas raramente erra o diagnóstico...
Tema da semana: Oh não, um vírus outra vez!
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