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Desafio de Escrita

Tema #2.1 - Inês Pereira

02
Fev20
Quando sentes que algo não vai correr bem, o mais provável é que isso aconteça de facto. Não sei se será pela lei da atracção ou por termos um instinto que não compreendemos mas que nos alerta para quando alguma coisa está errada. Aquela história de quando há fumo, há fogo talvez seja um caso prático disto que falo. O problema é que o fumo nem sempre é visível a olho nu. 
 
Existem momentos e situações em que precisamos usar outros sentidos para além dos óbvios, como é o caso da visão. Nem sempre a verdade está na frente dos nossos olhos, ao alcance dos nossos dedos. Acontece que a verdade se esconda nas sombras e se mantenha misteriosa. Só que os sinais aparecem e só precisamos de estar atentos para os compreendermos e assimilar. 
 
Neste exacto momento em que te escrevo é isso que estou a tentar fazer. Fecho os olhos e procuro entender os sinais que se encontram subtilmente a pairar e me escapam por entre os dedos sempre que tento agarrá-los. No fundo sei que isto não vai mesmo correr bem, mas continuo à espera que me provem o contrário. Hoje, ainda não foi o dia. Será amanhã? 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Inês Pereira escreve aqui

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Tema #2.1 - Alice Barcellos

02
Fev20

Quantas vezes nas nossas vidas somos travados de agir pelo pensamento de que o passo seguinte não vai correr bem?

Vivemos toldados pela rotina, espremidos entre padrões e temos medo de sair da nossa zona de conforto. Temos um amigo imaginário, tipo velho do Restelo, que está quase sempre a sussurrar aos nossos ouvidos naqueles momentos mais decisivos: “acho que a coisa não vai correr bem”. E, com muita pena, damos demasiadas vezes razão a este ser adverso à mudança e medroso que habita no nosso interior. Qual papagaio pessimista que deixa os ombros mais pesados e impede o nosso navio de se fazer ao mar nos dias de tempestade.

Quantas vezes deixamos de tomar uma decisão por pensar que o resultado não vai ser o esperado, não vai correr bem?

Este pensamento negativo limita muitas ações do nosso dia-a-dia, quer seja simplesmente experimentar uma aula nova no ginásio, mudar o corte de cabelo, mandar uma mensagem a uma pessoa especial; quer seja em decisões mais marcantes, como mudar de área profissional, marcar aquela viagem de sonho ou romper com aquela pessoa que já foi mais especial.

E se começássemos a trocar o “não vai correr bem” por “vai correr bem” e mandássemos o velho do Restelo dar uma volta ao Cabo da Boa Esperança? Se há algo que tem força nesta vida, é o pensamento. É o princípio e o fim de tudo. É o que nos leva a agir e o que nos leva a parar.

Na maioria das vezes, não conseguimos controlar o resultado das nossas decisões e somos surpreendidos pela positiva. Na maioria das vezes, corre bem e ficamos aliviados, simplesmente, porque tentamos, porque tivemos a coragem de arriscar, porque não nos calamos.

No fim das contas, mais vale ficar com as memórias de momentos marcantes, quer sejam bons ou maus, do que com os arrependimentos das decisões que não tomamos. Do salto que não demos, apesar de termos a almofada do tempo para amparar a queda e o dia seguinte para recomeçar.

O velho do Restelo ganha força quando teimamos em não mudar, em ficar sempre no mesmo lugar. A mudança é inevitável e há muitos fatores que não podemos controlar. Mas há algo que podemos tentar reverter e é até bastante simples. Basta apagarmos o “não” e ficarmos só com o “vai correr bem”. Soa muito melhor, não acham?

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Alice Barcellos escreve aqui

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Tema #2.1 - Biiyue

02
Fev20

Ouvia-se perfeitamente os pássaros a guinchar, não a cantar como os que ela estava acostumada, porque afinal eram corvos. O dia estava fria com um nevoeiro cerrado, apenas alguns metros eram visíveis. 

Ali estava ela, com várias camadas de roupa e com imenso frio à espera que a sua companhia chegasse. Inspirar tinha que ser com o cachecol à frente do nariz para o frio não fazer doer e expirar era uma tentativa de aquecer a cara, mas só criava o contraste de vapor entre frio e quente. Os minutos iam passando e a sensação que algo não iria correr bem não parava de a atormentar. "O que seria? Porque é que não conseguia ser mais especifica nestes instintos?"

Os minutos passam para meia hora, farta de esperar e no momento em que se decide voltar para casa, o telemóvel vibra: "Tive um imprevisto e não vou conseguir ir ter contigo". Ainda ponderou durante uns segundos se deveria ir sozinha ou não. Mas estava ali para aventura, por isso seguiu em frente com a ajuda do google maps. O céu começou a passar do típico cinzento para o escuro da noite e ela a andar por ruas completamente desconhecidas numa tentativa de chegar até ao centro da cidade.

Ao fim de uns 15 minutos, consegue encontrar o local. Reúne toda a sua coragem e decide entrar no bar. O ambiente era escuro mas aconchegante, só que precisou de alguns minutos para os seus olhos se ambientarem. Como ficou parada na entrada, foi abordada por uma mulher mais velha que começou a falar uma língua que ela não estava a reconhecer. Bem tentou dizer que não estava a perceber, mas foram esforços em vão. A mulher empurra-a, indicando um caminho por um corredor que ia dar a camarins. Agora ao invés de um espaço escuro, havia imensa luz. Espelhos com luzes redondas, imensas indumentarias, glitter, maquilhagem. "Abortar missão, tenho que conseguir sair daqui!", naqueles instantes de pânico e a tomar consciência da situação, aparece uma nova mulher que em brasileiro lhe pergunta "és a nova rapariga para o burlesque show? Segue-me, vou-te explicar tudo." 

Ela bem sabia que algo não iria corre bem. Como é que iria conseguir sair daquela situação? Tentar fugir e sair daquele lugar sem ficar ainda mais constrangida, ou deveria deixar-se guiar pela adrenalina e todo aquele mundo que sempre a fascinou.

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Biiyue escreve aqui

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Tema #2.1 - Miss Lollipop

02
Fev20

Desde tenra idade que o meu Pop mostrou ser um acérrimo defensor e cuidador de animais, mea culpa, mercê do ambiente em que cresceu, sempre rodeado das mais diversas espécies de animais.

À medida que foi crescendo, foi abrigando formigas, gafanhotos, joaninhas, borboletas, libelinhas, gafanhotos, grilos, que eu lhe convencia a devolver à procedência.

Foi quando descobri debaixo de um armário uma coleção de aranhas, besouros, lagartas, lagartixas, centopeias e afins, já mumificados, que comecei a achar que a coisa não ia correr bem.

E comecei a ter a certeza de tal quando descobri que andava a alimentar um ninho de pequenos ratinhos que descobriu no quintal, quando chegou da escola com um hamster branquinho que foi buscar à loja dos animais, quando começou a trazer pássaros feridos para tratar deles em casa.

Já com idade suficiente para andar a deambular à noite com os amigos, abro-lhe a porta, e salta-me à vista um gatinho aninhado no seu ombro.

- Está perdido, e farto de miar. Deixa-o pelo menos passar a noite. E amanhã logo se vê-

 Acho que a coisa não vai correr bem, pensei.

Incapaz de virar costas a um bichinho, mais uma vez mea culpa, lá o fomos alimentar e brincar com ele. Quem apanhou um susto foi a Lolli quando de manhã acordou com um felino em cima dela.

Para meu desespero, já  faziam planos para comprar brinquedos vários e acessórios adequados quando uma vizinha disse que o queria, podendo assim estar com ele quando quisessem.

Menos mal. Desta vez a coisa correu bem.

E eis que me bate à porta, desta feita com uma rafeirolas creme de olhar meigo, que o tinha seguido durante 3 kms.

- É só esta noite. Amanhã vamos à procura do dono –

Mais uma vez anuí, alimentei-a, e foi para o espaço até então ocupado pela rafeira alentejana que entretanto falecera.

Mais uma vez pensei – acho que a coisa não vai correr bem-.

Sem chip, depois de diversas publicações nas redes sociais, apelos em grupos, cartazes afixados, devidamente cuidada e vacinada, foi registada em nome dele.

E passou a fazer parte da família, juntamente com as 3 cachorras residentes, às quais se juntou mais uma há pouco, salva de morte certa pelo meu Pop, desta feita imediatamente adotada pela minha Lolli.

Eu sabia que a coisa não ia correr bem…

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Miss Lollipop escreve aqui

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Tema #2.1 - Ana de Deus

02
Fev20

há algum tempo que não escrevo um diário e acho que é altura de reatar laços. hoje tenho a minha primeira aula de yoga do riso. sempre quis experimentar mas nunca tinha surgido oportunidade. lembrei-me do Luís sentado no cruzamento a caminho do Estádio Nacional. tinha uma patologia esquizóide e volta e meia começava a insultar uma pessoa ou outra em altos berros. toda a gente o conhecia e na editora onde eu trabalhava, quando o víamos, fazíamos-lhe uma festa. todos os dias ele ia para o cruzamento a caminho do Estádio Nacional e ficava nos semáforos a acenar ao trânsito. a malta acenava-lhe ou buzinava a saudá-lo. de Segunda a Sexta como se de um emprego se tratasse. pensando bem, ele tinha razão. acrescentava-nos um sorriso ao dia.

quando recebi o tema para o primeiro desafio dos pássaros ri até às lágrimas! acho que a coisa não vai correr bem. é a previsão dos pássaros. eu estou mais optimista.

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Ana de Deus escreve aqui

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Tema #2.1 Mula

01
Fev20

Apesar de bloqueada e sem tempo,
No desafio dos pássaros decidi continuar.
Por isso já imaginam...
Como é que isto vai terminar.

 

Com textos sem cabeça nem pé,
Sem fim, sem ponta ou ligação.
A imitar a vida como ela é,
Vai ser pra aqui uma grande confusão.

 

Por isso a cantar vos digo,
Acho que a coisa não vai correr bem,
Mas com certeza confirmo.
É melhor viver a tentar, do que viver sem.

 

Desistir pra Mula não é opção,
Mesmo sem tempo, paciência ou coração.
Por isso aqui vai mais um desafio,
Que espero seguir de fio a pavio!

 

 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

A Mula escreve aqui

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Tema #2.1 Mariana

01
Fev20

Nelito está pronto para a sua primeira vez. Escolheu Madalocas, a sua namorada, para lhe tirar algo tão íntimo e pessoal. Madalocas é experiente, já o fez com e a várias pessoas... Homens e mulheres. Sabe o jeito certinho, a intensidade certinha, cada movimento.

— Espera, espera Madalocas! Não sei se sou capaz...

— Amor, relaxa... Eu sei o que estou a fazer. Garanto-te que só custa a primeira. Confias em mim?

Nelito está tenso. Não vai correr bem, ele sabe! Mas também sabe que algum dia tem de acontecer, e se pode ser hoje, para quê adiar?

— Ok, vai... Mas devagar Madalocas, devagar!

Nelito vira-se de costas para Madalocas e coloca-se em posição. De repente, sem ele contar, ZÁS!

— AI CARALHO FILHA DA PUTA MAL COMIDA DE MERDA!

Madalocas finge que não é nada e continua a bombar. Uma, duas, três! Nelito grunhe de dor enquanto pingos de suor deslizam pela sua face.

De repente... Tudo acalma. Madalocas aparece à sua frente e, com ar angelical mas sorriso traquino, pergunta:

— Então, amor, foi assim tão mau?

Nelito jurou para si mesmo que nunca mais deixaria a namorada espremer as suas borbulhas das costas.
​​​​​​
 

Personagens:

Manuel Caroço (Nelito) - 27 - mecânico

Madalena Carolina (Madalocas) - 24 - esteticista

 

 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Mariana escreve aqui

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Tema #2.1 Charneca em Flor

01
Fev20

Olha, olha, o desafio dos Pássaros voltou. Desta vez vou escrever poesia. O mote para esta semana é “Acho que a coisa não vai correr bem”. Pois eu proponho provar que a coisa vai correr mesmo muito bem. Vamos a isto:

 

E, de novo, vão começar as hostilidades

Um novo desafio, os Pássaros estão a lançar

Obviamente, não se esperam facilidades

Eu, pela poesia, decidi recomeçar

 

À prosa, estou eu habituada

Conseguirei com as palavras brincar?

Sinto a criatividade travada

Não consigo estas linhas embelezar

 

Ai de mim, que isto não corre nada bem

Eu queria muito mas não consigo

Não sei se vocês percebem…

Escrever poesia é um desejo antigo

 

Já escrevi poemas há muito

Há tanto tempo que nem me lembro

Não estou a conseguir o meu intuito

Com este poema a ninguém assombro

 

Eu bem disse há pouco

A coisa muito mal correu

Se alguém gostar desta coisa é louco

É que a minha veia poética já morreu

 

- Charneca, eu bem te disse para não te aventurares. Eu logo vi que a coisa não ia correr bem – disse a minha amiga joaninha.

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Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Charneca em Flor escreve aqui

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Tema #2.1 Joana Rita Sousa

01
Fev20
o que queres ser? 
 

quando somos pequenos perguntam-nos tantas vezes: "o que queres ser quando fores grande?". vamos para a escola, seguimos a universidade ou entramos no mercado de trabalho e deixam de fazer essa pergunta. assume-me que aquilo que fazemos, em adultos, é aquilo que queremos ser. e quantas vezes não é? 

seguimos pela vida adulta adentro, por aí fora, a cumprir com as metas disto e daquilo. umas metas são nossas, outras tornam-se nossas por vicissitudes da vida. seguimos caminho. e aquela pergunta desaparece e não volta mais.

envelhecemos. a pele fica enrugada, os joelhos começam a doer, a memória começa a falhar. e aquela pergunta não regressa.

eis que surge uma pergunta aterradora: o que queres ser quando morreres?  

"sei lá eu. acho que com isso da morte a coisa não vai correr bem. morremos e pronto." 

e já pensaste mesmo nisso? pensar no que queremos ser quando morrermos obriga-nos a pensar um bocadinho no que queremos ser enquanto vivemos. e confesso que não sei qual das perguntas me assusta mais. 

 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

Joana Rita Sousa escreve aqui

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Tema #2.1 José da Xã

01
Fev20

Sentado no peal de um prédio devoluto e que clandestinamente o albergava, Elizário mantinha a caixa de papelão no chão com uma simples moeda, sempre à espera que alguém se condoesse e deixasse uma redondinha, como ele gostava de lhe chamar.

Passara mais de meio século desde que partira da sua terra num velho navio de carga para vir cumprir o Serviço Militar Obrigatório para o Continente.

Saíra da Fajã de Santo Elói dois dias antes, pois a subida até ao cimo das Lagoas era obra dura e requeria persistência. Um naco de broa, um de inhame frito e uma botelha de vinho era tudo quanto carregava consigo quando trepou pela encosta íngreme por carreiros estreitos e perigosos enquanto olhava atrás de si o mar azul e infindável.

Certo dia perguntara ao Padre Josué o que havia depois do mar. O Padre teve dificuldade em responder a alguém que nunca soubera ler nem escrever quanto mais saber outras ciências.

Elizário não percebera a resposta, mas ali de cima via cada vez mais mar dando razão à sua ideia de que para lá do horizonte não existiria mais nada... senão mar.

Chegou à vila no dia seguinte e procurou no pequeno porto o navio que o levou. Embarcou para o fundo de um convés mal cheiroso e onde encontrou outros ilhéus.

- Viva boa tarde…

Acordado das suas tristes e longínquas memórias o açoriano não respondeu até que insistiram:

- Olá boa tarde... como se chama?

- Está falando comigo, senhor? - nunca perdera a forma delicada de falar da sua ilha.

- Estou sim. Como se chama?

À terceira lá veio o nome:

- Elizário, senhor!

- Não tem família?

- Nã' senhor!

Assentara praça num qualquer quartel e depressa partira para África ainda a tempo de apanhar o auge da guerra. Não a temeu. Pelo menos ali, tinha que comer, vestir, calçar e uma cama para dormir, em vez da enxerga pobre e peçonhenta que partilhava com um rancho de irmãos. E depois a morte sempre fora algo com a qual convivera toda a vida. Havia sido quatro irmãos, um tio, uma avó ou simplesmente muitos dos seus famintos companheiros que por entre inhames e milho corriam atrás de algum coelho descuidado.

Mas o seu maior receio fora mesmo o regresso à metrópole. Desse tempo padrasto guardou para sempre um pensamento: acho que esta coisa não vai correr bem!

 

Tema da semana: Acho que a coisa não vai correr bem

José da Xã escreve aqui

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