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Desafio de Escrita

Tema #2.5 - Mula

29
Fev20

Acordo ainda meia atordoada, não caibo em mim de felicidade, nem acredito que se realizou e que o meu dia chegou. Tanta gente dizia que iria chegar mas eu duvidei, parecia quase impossível, mas essas gentes tinham razão. Chegou!

 

Estou zonza, tanta gente à minha volta a perguntarem-me o que preciso. Perguntam-me como estou. Quem são estas pessoas todas à minha volta? Preciso mesmo desta gente toda à minha volta? Estou confusa e assustada. Feliz, mas confusa e assustada. Dizem que devemos de ter cuidado com aquilo que desejamos porque pode efetivamente acontecer e no fundo é isso, o turbilhão de emoções e de tantos sentimentos e alguns tão contraditórios. Não sei como me sinto, não tenho bem a certeza.

 

E agora? Será que ainda vou a tempo de voltar atrás?

 

E agora? O que é que eu faço?

 

Será que vou continuar a ter os meus amigos do meu lado? E a minha família? E a minha vida? Como será a minha vida daqui para a frente? O que é que eu faço? Tudo será tão diferente agora. Será que vou conseguir? Será que sou capaz?

 

- Força! - Ouço dizerem-me! Mas a voz parece tão distante.

 

- Força! Tu consegues! - Continuo a ouvir sem perceber realmente de onde vem.

 

E olho para todo o lado, não sei se consigo continuar. Já não sei se é isto que quero, apesar de o ter querido toda a minha vida. Neste momento eu já não quero nada, dormir talvez. Sim, preciso de dormir, só 5 minutos talvez... Estou tão cansada!

 

- Força! - Parem, deixem-me em paz.

 

Estou feliz? Já não sei. Assustada? Muito assustada. Parece que tive muito tempo para me preparar, toda uma vida, talvez, mas não é tempo suficiente, talvez nunca seja. Tenho muitas dúvidas, demasiadas creio eu...

 

E agora?

 

Até que a ouvi chorar, e todas as minhas dúvidas e medos se dissiparam.

 

Agora sim, estou em paz e sem dúvidas. Feliz, sem sombra de dúvidas feliz. Como é que alguma vez pude duvidar?

 

Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia

A Mula escreve aqui

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Tema #2.5 - Maria Araújo

29
Fev20

Ela acordou com um desejo de lá ir.
Tinha estado lá três dias, com o calor do mês de Junho, queria repetir, com outras pessoas, ver mais, viver mais, divertir-se. Mas não fora possível.
Acordou nessa manhã com o desejo de lá voltar. Aquela voz dizia -lhe: "vai".
Depois do almoço, já no carro para mais algumas horas de trabalho, os dezasseis quilómetros a percorrer restrigiram-se a pouco mais de trezentos metros.
Quando o sinal verde abriu, avançou. Não foi em frente como todos os dias da semana, mas virou à esquerda, regressou a casa.
Pés ao caminho, foi à rodoviária e comprou um bilhete para Lisboa.
O que poderia, naquele tempo, demorar cinco horas de viagem, foi uma eternidade, o trânsito era demais, arrependera-se de, num impulso, tomar aquela decisão.
Quando lá chegou, seriam dez horas da noite.
Ficou fascinada com o que viu.
Uma multidão de pessoas pensou o que ela também pensara e pusera em prática: "Afinal, não posso estar arrependida. Esta multidão teria feito o mesmo que eu".
O contacto móvel era impossível, linhas bloqueadas. Ou se conseguia a ligação mas ninguém se ouvia.
A entrada foi demorada, o fogo de artifício já estava a decorrer quando conseguiu pisar o espaço.
As pessoas estavam muito felizes, parecia que tudo no universo era bonito, sereno, pacífico.
Sentiu-se bem no meio daquela multidão que sorria, que falava com quem não conhecia.
Finalmente, conseguiu a ligação móvel.
E no meio dessa multidão, encontrou quem queria e a esperava.
Não viu o fogo de artifício, mas realizou o que tanto gostaria de fazer quando acordou naquele dia: passar a noite com a sua afilhada aniversariante.
De manhã cedo do dia seguinte, sem dormir, vieram todas de comboio para casa.
Passaram vinte e um anos e cinco meses.
Hoje, ela adora aquele espaço.
Hoje, ainda o recorda com muito carinho.
30 de Setembro de 1998.
Último dia da Exposição Internacional de Lisboa.

 

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Maria Araújo escreve aqui

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Tema #2.5 - Isabel Silva

29
Fev20

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Mandaram-na desejar, e ela desejou, sonhou e ansiou

E quando olhou para o sol, sorriu

Era outro dia, mas... era diferente...

Tem cuidado com o que desejas, lhe disseram

E ela teve cuidado, desejou muito e bem

A luz era maravilhosa,

com as tonalidades mais belas que se possam imaginar

Cada uma a ser suplantada pela outra

Os sons eram absolutamente divinais

Murmúrios apaixonados da Natureza

Repercutindo notas de amor ao vento

O sentimento de gratidão e felicidade subia gradualmente

Até ser algo que já não cabia

Até extravasar pelos sentidos

Todos os passos foram dados

como se não acontecessem

e não tivessem existido

A brisa pairava e acariciava

e aquecia todas as partículas do seu ser

Era fino, era transcendental, era maternal

Até acordar...

Até perceber que não era

Até a vida se apresentar

Até compreender que a luz que vê

é de um dia cinzento

Que o som que ouve é o da chuva

Que o sentimento é de frustração

Que os passos que têm que ser dados, são obrigação

Que a brisa se transformou num ar gelado

direitinho ao coração

Que o medo existe e não se recomenda

E afinal nem existe a paixão

Foi um dia devorado pela percepção da luz

do som, do sentimento, dos passos e da brisa

Mas, mandaram-na desejar, e ela desejou...

Mandaram-na sonhar, e ela sonhou...

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Isabel Silva escreve aqui

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Tema #2.5 - Biiyue

29
Fev20

Aquele dia tinha finalmente chegado, parecia um sonho para ela tomar consciência que era a realidade e ela tinha conseguido concretizar um dos seus maiores sonhos. Ali estava ela à entrada  da porta, com um sorriso enorme, o coração a transbordar de gratidão e lágrimas de felicidade. O tempo estava bastante agradável, era um daqueles dias com um sol radiante e um vento suave que trazia um pouco de frescura. O vestido preto com um padrão rosa escuros florido esvoaçava gentilmente, contrastando com o seu cabelo vermelho com reflexos laranja provocados pelos raios de sol que se escapavam por entre as folhas das árvores.

Após muitos anos a escrever histórias soltas no seu tempo livre, decidiu que era a altura de tirar umas férias sem limite para se dedicar a uma das suas grandes paixões. Com o que tinha conseguido poupar ate então, conseguiu fazer duas viagens que transformaram ainda mais a sua vida e a forma como via o mundo. Surgiram mais histórias e mais motivação para continuar e não desistir. Ao ter tomado aquela decisão, sabia que a busca por apoios não ira ser fácil, iria ser o mais desafiante e stressante. Passou-se um ano, já tinha tudo escrito e organizado sobre o livro que sempre toda a gente lhe disse para criar, mas continuava sem apoios para o conseguir lançar ao mundo.

Como tinha contas para pagar, voltou a trabalhar as 8 horas por dia, voltou à sua rotina habitual. Sentia uma certa mágoa, mas tinha noção de que tinha tentado o seu melhor e permitiu-se a aceitar. Mais 3 anos se passaram e finalmente aconteceu, chegou o dia de lançamento do seu livro! Já há 2 meses posto à venda e recolhido o feedback, tinha chegado o dia de ela se apresentar ao mundo.

Acordou ao lado da pessoa que sempre a tinha apoiado. Minutos depois recebe os mimos e miaus habituais para ela se levantar e ir abrir o estoro para o felino ver o que se passava fora daquelas 4 paredes. Só tinha que estar pronta a hora de almoço, por isso fez a sua slow morning. A desfrutar do nascer do sol acompanhado pelo café. Um pouco de meditação e ioga para se conseguir focar no momento presente. Estava pronta para sair de casa, quando ele lhe aparece em casa, abraça-a e diz-lhe: "achas mesmo que ia escolher trabalhar, em vez de estar ao teu lado num dia que sempre sonhaste".

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Biiyue escreve aqui

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Tema #2.5 - Ana de Deus

29
Fev20

desafio dos pássaros

querido diário,

nem imaginas o que aconteceu! a minha médica diz que é um caso raríssimo. um milagre, digo eu! estou curada! já não preciso de medicação para nada. tenho casa própria e rendimentos em barda. hoje recebi o meu Jaguar Project 7 personalizado. ando na melhor clínica do mundo a cicatrizar o meu corpo. tenho um personal trainer que me incentiva todos os dias e já perdi toda a gordura visceral. já posso viajar para onde quiser, quanto tempo quiser. a saúde da minha mãe melhorou, deixou de ter dores e é feliz. contratei-lhe um mordomo credenciado, que também cozinha e é o seu motorista particular. finalmente tenho silêncio quando quero, faço questão de ter isolamento acústico em toda a minha casa. é indescritível o quão grata me sinto.

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Ana de Deus escreve aqui

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Tema #2.5 - Mariana

29
Fev20

Acordo sem despertador. A janela ficou aberta e já é possível sentir o sol quentinho. Os lençóis são brancos e leves pois está calor. Olho para o lado e vejo o meu marido ainda a dormir, de barba por fazer (não a faças!) e cabelo despenteado. Ouço a minha melhor amiga ressonar por baixo dos lençóis, no meio de nós os dois. Ela dorme bem e aconchegada. Levanto-me com cuidado para não acordar ninguém. Não sei se existe uma criança ou não, não a consigo imaginar. Ou se calhar não quero, por saber que não há forma de a imaginar ao pormenor. Vou até à janela onde vejo o céu do azul mais lindo que existe. À nossa volta reina o verde da serra, tão calma, tão serena. A nossa casa é um mimo pois é recheada de Amor. É simples e pequena, mas cabemos perfeitamente. As decorações foram escolhidas com muito entusiasmo, mesmo que algumas não sejam esteticamente bonitas. Tomo o meu banho de água morna, tal e qual como gosto, enquanto ouço The Weeknd e canto baixinho. Preparada, volto para o quarto onde encontro os meus amores acordados a brincar. Depois de muitos miminhos, ele vai tomar o banho dele e eu vou fazer o almoço. Comemos enquanto rimos e falamos de boca cheia. Aqui não há frescuras. Após o almoço vamos para o quintal apanhar sol. Passamos parte da tarde sentados na relva a conversar, a jogar joguinhos de tabuleiro e às cartas. Depois entramos de novo, jantamos qualquer coisa feita à última da hora (possivelmente uma omelete com queijo cheddar e um copo gigante de Coca Cola). Eu lavo a loiça enquanto ele a seca e arruma. Seguimos para a sala para jogarmos Playstation e eu levo uma coça no Fifa. Vamos novamente até ao quintal onde, já de pijama e chinelos, observamos as estrelas e a lua. Tiro mil e quinhentas fotos com o telemóvel dele, e damos por terminado o nosso dia. Arranjamo-nos, deitamo-nos e adormecemos na conchinha (a três) mais perfeita e confortável do mundo. 

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Mariana escreve aqui

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Tema #2.5 - José da Xã

29
Fev20

Havia três dias que a chuva não dava descanso. Uma água pesada que encharcava terrenos e homens. A única coisa boa daquela intempérie era que dificilmente saiam do quartel para novas operações de guerrilha. Os terrenos completamente alagados não permitiam que as viaturas e homens circulassem.

Deitado na tarimba por debaixo do camarada Teixoso, um beirão atarracado, valente e tal como ele sem quaisquer receios, Elizário fechava os olhos e de mãos atrás da nuca a fazer de almofada recordava da sua ilha a Fajã, o mar azul como não haveria outro, o canito magro e esfomeado, aqueles cordeiros que largara a pastar na encosta.

Nessa tarde porém:

- Ó Flores… o que é que neste momento te fazia feliz? Conta lá! – perguntou o vizinho de cima enquanto revia pela enésima vez uma revista de pouco pudor.

Elizário estremeceu com o vozeirão de Teixoso e devolveu:

- O que é que perguntaste?

- O que te faria feliz… agora?

- Feliz? O que é isso? – evidenciando que a sua pobreza ia para além da sua própria vida.

- Algo que gostasses que te acontecesse ou de ter?

O açoriano ergueu-se da cama lentamente, sentou-se à beira e ficou a matutar… Nada disse. Voltou a deitar-se, pois não sabia o que responder.

Mas a questão ficou a bater-lhe no coração e na cabeça, qual martelo. Finalmente devolveu:

- Sabes Teixoso… queria que esta porra acabasse… andamos a matar para quê? Já tantos camaradas nossos que morreram…

Após um mui breve silêncio, continuou:

- Só isso é que eu queria… Que isto tudo acabasse!

Teixoso fechou a revista, ficando a matutar.

De madrugada o açoriano acordou com um inusitado alvoroço na rua. Ergueu-se lesto e enquanto se calçava apressadamente Teixoso entrou na camarata esbaforido.

- Flores… aconteceu… aconteceu…

- Eh pá aconteceu o quê?

- Acabou a guerra!

- Não brinques com isso.

- Não estou a brincar…

O coração de Elizário começou a bater mais depressa. Por fim perguntou:

- Como é que sabes?

- O nosso furriel Cardoso recebeu uma mensagem!

- Donde…

- Sei lá… nem me interessa… O que ele disse é que a guerra tinha acabado.

- Assim sem mais nem menos?

- Eh pá já te disse que não sei mais nada… Vamos embora daqui… Finalmente!

- Não acredito… A nossa comissão só acaba no fim do ano que vem e ainda só estamos em Abril.

 

Tema da semana: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia

José da Xã escreve aqui

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