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Desafio de Escrita

Tema #2.2 - Alexandra

11
Fev20

- A senhora tem um tumor.

As palavras ecoaram no gabinete mas não na cabeça de quem ouvia. Não faziam sentido. Não se percebeu o que ela disse. Os sons não formaram palavras dentro das cabeças.

- É grave doutora?

- Bom, tem alguma gravidade. É um carcinoma. Mas vamos tratar disso. Agora vai à secretaria com este papel, já pedi consulta de oncologia, depois vai ao -1 marcar...

Mas que raio diz ela que não se consegue processar? Num flash de tempo, sem perceber como, estão de regresso a casa, num caminho estranhamente mais demorado que o habitual e em silêncio.

Quando entraram em casa o estrondo. Caíram num choro profundo que pareceu durar horas. Secaram as lágrimas e juraram que iam combater aquilo.

TACs, ressonâncias, com e sem contraste, análises diversas, sempre adiando um exame tão essencial para o diagnóstico final como perigoso para o que era preciso viver...

a amiga de uma amiga leva os exames a uma médica amiga

Sim, é preciso ter amigos. Na hora da aflição vale tudo.

Alívio.

A “massa” é uma grande "cagada" deixada da cirurgia de retirada de vesícula. Ficaram lá uns "agrafos" de costura "mal amanhados" que formam uma amalgama esquisita... mas é tudo células normais. Não é cancro.

Entretanto chega a consulta com o oncologista.

- A senhora sabe porque veio a esta consulta?

- A dra X disse-lhe que tinha um carcinoma entre o pâncreas e...

- A dra X disse isso assim?

- Sim.

- É que não, a senhora não tem tumor nenhum.

- Nós sabemos. É uma costura defeituosa que…

- Sim, é isso. Aqui que ninguém nos ouve, a minha colega não tem bom olho para exames, mas tem ainda menos sensibilidade na transmissão de “diagnósticos”. Lamento que se tenha assustado. Mantenha a vigilância com análises sanguíneas, é suficiente.

...

De volta à consulta da dra X

- Bem, já sei as novidade. Que bom!! Eu recomendo que faça na mesma uma CPRE, para ficarmos mesmo descansados.

- O dr. oncologista disse ser desnecessário face aos riscos...

- Vocês é que sabem. Há riscos, mesmo de vida é verdade, mas, se não querem fazer o exame vou dar alta, uma vez que sem exames não consigo saber como está.

- Desculpe a honestidade dra, mas parece-me que nem com exames consegue.

Mudou de cor

- Pronto, então acabamos aqui, passe pela secretaria para a alta. E olhe que não tem cancro, mas a diabetes também mata.

 

Esta história é real e nos diálogos nada foi inventado. Talvez o tempo tenha apagado algumas vírgulas e palavras, mas nunca, jamais o contexto.

Em breve faz 10 anos e continua tudo bem.

Para o bem e para o mal, isto de médicos, nunca fiando.

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Alexandra escreve aqui

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Tema #2.2 - Maria

11
Fev20

Numa conversa entre amigos o tema passa pelas viroses típicas da época, pelas constipações e gripes desta vida. E fala-se inevitavelmente no lado dos médicos, dos farmacêuticos e das pessoas - os pacientes/doentes. De como todos lidamos de forma diferente com tudo e com todos, com aquilo que nos dizem e com aquilo que, por vezes queremos ouvir.

A Laura está doente, primeiro passou na farmácia mas não foi lá com uns ben-u-ron nem com xaropes. A coisa agravou-se e foi a dois hospitais no prazo de uma semana. 

- E está melhor?

Nem por isso, passou a noite no hospital e tem uns exames para fazer. Mas entretanto tinha ido a um médico particular.

- A sério? Tanto médico. Mas porque procurou ela outro médico?

Ela diz que o primeiro disse que foi gripe e que o segundo disse a mesma coisa, mas ela continuou sempre a pensar que poderia ser alguma coisa no coração e na verdade, aquelas aflições do coração não passavam e podia ser. É que isso de médicos, nunca fiando. Mas no particular disse a mesma coisa, era gripe, mas já estava ali com qualquer coisa num pulmão.

- E do coração é alguma coisa?

Não. Com o coração estava tudo bem, todos disseram o mesmo com os exames que ela fez. Aquilo eram ataques de ansiedade só.

- Então não fez nada ter ido a tanto médico diferente!

Não. Mas saiu-lhe um peso da consciência, podia ser do coração.

- Mas não foram duas opiniões ainda precisou de mais! - estupefacta.

Sabes como é, há pessoas que acham que sabem o que têm e quando vão ao médico e eles não confirmam aquilo que elas acham, elas pensam que quem está enganado são os médicos...

- Estou a ver ... então se o primeiro médico lhe tivesse dito que era algo do coração não procurava mais opiniões.

Provavelmente não.

 - Mesmo que afinal fosse um problema grave num pulmão.

Pois.

...

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Maria escreve aqui

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Tema #2.2 - Lara Monteiro

11
Fev20

- Avó, tem de ir ao médico. Está na altura de fazer a consulta de revisão...
- Oh filha nem pensar! Ao médico só vou quando estiver a morrer! O teu avô é que adorava ir ao médico e olha...morreu tão cedo e deixou-me sem ele! Eu ando bem! Não vês tudo o que ainda trabalho?

- Avó, o avô não morreu por culpa dos médicos! Morreu porque tinha uma doença grave que não foi descoberta a tempo! Tem de deixar de culpar os médicos pela morte do avô! Eles fizeram o que  puderam!

- Clara, já sabes a minha opinião! Médicos para mim, nunca fiando! Eles também morrem! E alguns bem cedo! Por isso não vou lá fazer nada! E não insistas que se não ainda me vou chatear contigo. Deixa-me ficar aqui sossegada em casa que daqui a pouco tenho o almoço para fazer para esta gente toda que aqui trabalha.

 

A avó era a pessoa que Clara mais amava. Estava a viver num lar, tinha Alzheimer num estado já avançado e estava esquecida de quase tudo. Menos de Clara e do avô, que partira quando Clara era ainda pequena. O Alzheimer tinha-lhe apurado a teimosia também. Já a fizera esquecer dos filhos e dos restantes netos. Já a fizera esquecer que já não trabalhava no hospital, onde sempre fora feliz como enfermeira.

Clara ficava sempre de coração apertado quando ia visitá-la, todas as semanas. Porque nunca sabia como a ia encontrar. Porque sabia que  um dia também a ela a ia esquecer.

 

Mas Clara lembrar-se-ia pelas duas. Porque o amor pode ser esquecido, mas nunca deixa de ser sentido.

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Lara Monteiro escreve aqui

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Tema #2.2 - Triptofano

11
Fev20

Tinha sido por causa de um médico que perdera a sua mãe, a mãe que tanto lhe fizera falta durante a inocência da juventude, a mãe cuja ausência a obrigou a tornar-se mulher muito antes do tempo.

Ela não tinha sequer 30 anos quando lhe disseram que tinha o útero descaído, e que a melhor opção seria remover tudo. Útero, trompas, ovários, e tudo o mais que se pudesse encontrar pelo caminho.

A mãe de Esmeraldina confiava em médicos, confiava tão cegamente que não pensou em pedir uma segunda opinião, confiava tão cegamente que deixou que a abrissem para tirar o mais precioso que tinha dentro dela: a capacidade de gerar nova vida. E foi quando lhe tiraram essa capacidade que ela encontrou a morte.

Uma compressa esquecida. Uma infecção generalizada. Uma morte galopante causada por um médico que na ânsia de ganhar dinheiro tinha inventado uma doença que não existia. 

Esmeraldina não sabia disso, mas não precisava de o saber para não confiar em médicos.

Fez a sua vida sem nunca chegar perto de um centro de saúde ou de um hospital. Encontrou os seus remédios nas ervanárias, nas conversas com as vizinhas, nas folhas desbotadas de um livro da biblioteca itinerante.

A filha teve-a numa parteira, entre gritos, toalhas frias e contracções. Pensou que morria nesse dia mas a força que trazia dentro era maior do que ela, e depois de horas de sofrimento trouxe uma menina ao mundo.

Uma menina que amou e cuidou sem remédios nem vacinas, apenas com o conhecimento que os anos lhe tinham trazido.

Uma menina que agora estava deitada na cama da parteira, sofrendo entre gritos, toalha frias e contracções. 

Esmeraldina não estava preocupada. Tinha aprendido a confiar naquela parteira, nas mãos hábeis que sabiam tirar a vida de um corpo. 

A filha já tinha tomado os comprimidos há mais de quatro horas, não deveria demorar muito até todo o processo ter terminado.

Bastaram apenas mais alguns minutos, breves para ela, eternos para a filha, para que a parteira subtraísse das vísceras um feto avermelhado que rapidamente colocou dentro de um grande saco preto do lixo.

O aborto tinha sido um sucesso.

Esmeraldina olhou com um misto de ternura e desdém para a filha que gemia baixinho de dores - de corpo e de alma - na cama da parteira.

Com 14 anos já deveria ser adulta o suficiente para perceber que não se deve confiar em médicos, muito menos abrir as pernas para eles ao som da primeira promessa de amor eterno.

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

Triptofano escreve aqui

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Tema #2.2 - Ana Sofia Neves

11
Fev20

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- Sr. Altivo, está com 50 anos e está na altura de fazer o tão desejado exame. – disse a médica de família.

- Que exame, sra Doutora?

- O exame para ver se está tudo bem com a  sua próstata. Deve ser feito aos 50 anos.

- E como é que é feito? – perguntou inquieto o Sr. Altivo.

- Não se preocupe, apesar de ser um dos mais temíveis exames feitos pelos homens, é indolor e rápido. Não é nada de especial e não tem nada a temer. Venha cá no dia 7 e fazemos logo nesse dia.

- Está bem, sra Doutora.

O Altivo foi para casa e disse à Josefina, sua mulher, que tinha que ir fazer um exame à próstata, de rotina, no dia 7, mas que a doutora lhe disse que não era nada de especial.

- E se gostas, Altivo? Vai ser o nosso fim... – disse a Josefina quase a chorar.

- Se gosto do quê? Do exame?

- Ó homem,  então a doutora não te explicou que te vai meter o dedo no cú?

- O quê? Aqui ninguém mete nada. Ela só disse que era indolor e que não custava nada... – respondeu o Altivo apreensivo.

- Olha, não penses mais nisso, pode ser que seja outra coisa.

- Outra coisa como?!?!

-  Outra coisa, outro exame diferente. Não te apoquentes e não penses mais nisso.

O dia 7 chegou e o Altivo lá foi à doutora.

- Bom dia, Sr Altivo, pronto para o exame?

- Bom dia sra Doutora, como é o exame?

- Não me diga que nunca ouviu falar dele? Eu vou fazer o teste do toque retal.

- Com o quê? – perguntou o Altivo já de pé e pronto para fugir.

-É só o meu dedo, e como pode ver nem é grosso, parece um palito. Prometo que não vai sentir nada. Quando der conta, “já o lá tinha”... Vamos lá começar, dispa-se e coloque-se de lado. Eu vou contar até três e enfio... Um... Dois...

- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, que bom!!! Posso cá vir todos os dias?

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Ana Sofia Neves escreve aqui

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Tema #2.2 - Gabi

11
Fev20

Em casa de ferreiro espeto de pau.

 O que fará um médico quando fica doente?

Vai ver a bruxa, marca uma consulta com o Prof. Mambdu ou assalta outro médico, onde calha de o encontrar, num restaurante, no meio de um jantar romântico (agora pelo dia 14/2) no elevador ou no parque de estacionamento escuro e vazio: “Colega tem um minuto? É que estou aqui com uma dorzita…”

Desconfio que serão como cada um de nós, de todas as cores e feitios, a evitar exames e consultas há não sei quanto tempo, mas já foram anos? Ou hipocondriacamente a correrem para novas consultas: este sinal aumentou 0,000002 mm, não será de fazer alguma coisa?

Talvez também cometam o erro de ir à net quando suspeitam de algo de outra especialidade,  e saiam de lá com a convicção profunda que, ao invés de uma maleita tropical apanhada sem dúvida nas férias do ano passado. ou no anterior, quando até foram a outro Continente (não o do Hipermercado), têm é cinco ou seis doenças inoperáveis e mortais.

E como serão os seus congressos? O que é que oferecem por lá? Férias e medicamentos? Ou um cafezinho em copo de plástico e por 0,70 €?

Será que há médicos a lerem isto?

Se por acaso assim for, tenho o maior respeito pela vossa classe, até poderia ter tentado ser médica (se a ideia de memorizar nomes de doenças, químicos, e procedimentos não me assustasse e ver sangue ainda mais – até quando doava não olhava) e estou anónima - e se algum souber quem escreve neste blogue, não sou eu, algum personagem estranho abeirou-se do computador enquanto eu dormia ao lado, sem me querer ir deitar antes de escrever o texto para o Desafio - escreveu isto e enviou, - que chatice! mas o importante é lembrar: não sou eu (mas conta para o desafio).

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Gabi escreve aqui

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Tema #2.2 - 3ª Face

11
Fev20

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Memórias são como as nuvens. Às vezes, num céu limpo, surgem quase por magia, sem nos apercebermos.

Veio-me à memória o início da doença da minha avó Pulquéria. Mulher determinada e apaixonada pelo marido.

Todavia, quase aos 70 anos, começou a mudar. Tinha dias muito agitados, outros até se esquecia dos nossos nomes.

Contudo lembrava-se de ir, semanalmente, ao médico de família.

Todas as semanas tinha uma dor, desconfiava de uma doença grave, queria fazer um novo exame…

A família começou a estranhar.

Ainda mais que, durante uma valente gripe que a levou à cama por 2 semanas, se recusou a ir ao Centro de Saúde.

Assim que melhorou, lá tratou de marcar consulta, sem antes passar pela cabeleireira para renovar a tinta e fazer a ondulação.

Obrigaram-me a acompanhá- la, com a desculpa de que não poderia ficar sozinho em casa.

Assim que entrou e tratou da ficha no balcão, sentou-se numa cadeira entre 3 senhoras da “sua mocidade” e eu percebi que tinha o lugar reservado.

Recordo-me da conversa e de pensar que não queria nunca chegar a velho.

 

- Atão, Gracinda, como andas com a dor no bucho?

- Ai, Paquéria, até gano com dores com’ós canitos! Vim cá pedir mais Buscopão para ver se aguento.

- E tu,  Cramilda, já te sentas?

- Olha, antes dontem senti-me. Mas o médico custou a fazer o dignóstico. Mandou-me fazer um RX, um taco e chamou-me mentirosa quando me viu sentada na cadêra do sala de espera. Tive que perder a vergonha nas ventas e dizer-lhe que não conseguia era cagar quase há duas semanas!

- Só vistos! Eles pensam c’a gente sabe aqueles nomes estranhos com que falam! Quando me quêxo das dores da cabeça, o dr. pargunta-me sempre se falê-as. Falo com ele, a quem havria mais de falar disso? É que isso de médicos, nunca fiando! – respondeu prontamente a Gracinda.

 

Nisto chamam a minha avó. Levanta-se com ligeireza e ordena-me:

- Pontinha, fica aqui com as minhas amigas!

Mas eu não vou nisso! Agarro-me à saia dela e não largo.

Entramos no consultório e ela corre para o médico:

- Ai sr. doutor, ai sr, doutor, como está bonito!

E carrega-lhe dois beijos repenicados.

 

O médico pede-lhe que se sente e comenta:

- Então D. Pulquéria, não tem aparecido à consulta.

E ainda me lembro da desenvoltura da resposta da minha avó:

- Ai Sr. Dr, não tenho podido vir! É que estive tão doente!

 

(Quase sempre, a realidade supera a ficção. A história baseia-se mesmo em dois episódios reais)

Tema da semana: É que isto de médicos, nunca fiando

3ª Face escreve aqui

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