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Desafio de Escrita

Tema #15 - Sónia Figueiredo

12
Jan20

Estava já a fazer a mala para voltar para casa com os presentes que tinha vindo buscar aqui, à Lapónia quando recebo um email dos pássaros. Tinha que ir gravar uma entrevista. Pensei, então mas eles querem continuar fechados na Gaiola?

Que seja, eu prometi à Maria que os lá deixaria até ao final, e eles até estão a ajudar. 

Mas a Rena Rudolfo já tem 80 anos, e também ela está a querer a reforma, vai fazer entrevistas e depois vai descansar para um local com sol. 

Preparei todo o material e fiz sinal a Rudolfo que podia começar.

O candidato entra e diz:

- Boa tarde

- Boa tarde, em primeiro lugar porque se candidatou e porque acha que daria um bom pai natal?

- Porque estou a ficar velho, gordo, com barba e cabelo branco.

- Pois, esse tinha que ser um requisito, e que mais?

- Porque estou a fugir?

- De quem? Da policia?

- Não

-Então?

- De um bando de pássaros

Rudolfo olhou para ele intrigado e pensou que não devia bater muito bem da cabeça.

- Explique-se melhor

- Então tudo começou há 14 semanas, inscrevi-me num clube e desde então a minha vida virou um verdadeiro filme, eu fui único que escapou da Gaiola, há duas semanas e consegui fugir, achei que ninguém viria para aqui, porque aquela gente gosta é de ilhas desertas e sol. E como estou desempregado candidatei-me.

- E quanto tempo acha que aguenta o frio?

- Vê-se mesmo que não conhece aqueles pássaros, vá ter com eles e percebe. Depois daquela experiência aguento qualquer coisa.

- Não sei...parece-me um pouco perturbado, mas conte lá.

- Oiça aquilo era só problemas, para fugir tive que dar um estalo ao que estava mais bêbado na festa para escapar, depois sair do bairro sem perceberem que faltava um pássaro na gaiola, foi uma verdadeira aventura. Ainda encontrei a Beatriz, que me disse que não devia fugir, mas não lhe dei ouvidos, e disse que tinha que ser, ela ainda perguntou: E agora, que vais fazer? eu respondi que até preferia ir para o purgatório para junto do Hitler.

- Valha-me Deus, que aventura, mas continue...

- Pelo caminho ainda resolvi ir para uma ilha deserta, conheci uma rapariga fomos viver para uma cabana, mas um dia deixei o frigorífico aberto, e ela ficou furiosa porque tinha comprado 40 frascos de compota de abobora à Constança e ficaram todos estragados com o calor, meteu-me num barco sem ramos e fiquei à deriva no mar. Sem água e sem comida, apenas tinha no barco um caderno e um lápis e pensava que era o fim e resolvi escrever uma carta à criança que eu tinha sido.

- E porque fez isso?

- Porque as crianças são a melhor parte de nós.

- Mais um ponto a seu favor...mas continue

- Depois adormeci de cansaço, fome e exaustão e acordei numa ilha todo nu e não me lembrava de nada. A primeira coisa que oiço quando acordo é de um barco cheio de gente a chegar à ilha e uma histérica só gritava: Já Chegámos? Já Chegamos. Perguntei onde tinham chegado, pois não sabia onde tinha naufragado. Disseram que era a ilha dos animais encantados

- Como assim?

- Ali os animais falavam com as pessoas, mas acho que era a falta de água e comida, fui à procura de água e comida, e quando encontro, aparece um bando de pássaros a dizerem-me que tinha que voltar, eu pensei tenho que sair daqui o quanto antes, porque eles não se calavam. Senti que estava a viver o final daquele filme do Tom Hanks, o naufrago, porque lá aparece uma alma caridosa de avioneta e me tira dali. Perguntei para onde ia, e disse que vinha para a Lapónia e eu disse que ia, porque não tinha nascido para aquilo. E aqui estou eu.

- De facto viveu muito em apenas 14 semanas. Está contratado.

Brindam felizes, quando eu que estava a filmar a entrevista digo:

- Tudo muito lindo, mas pássaro um vez, pássaro para sempre, vais voltar comigo hoje mesmo

- Nãoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

- Simmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm. E quando lá chegarmos vais direitinho para a Gaiola e depois logo vejo o que faço com vocês todos. 

Rodolfo olha incrédulo para aquilo e pensa:

Mas de onde veio esta passarada? E sem mais vira-se e diz:

- Então e o Pai Natal?

- Mas acha que alguém ainda acredita no Pai Natal?

- Estou velho, cansado e farto de frio e preciso de um pouco de animação e já percebi que isso vocês têm de sobra, por isso vou convosco e ainda vos dou boleia.

- Muito bem, o trenó está pronto?

- Sim, só uma coisa, o pai natal também vai

- Venha, assim passa o Natal lá em casa

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Tema da semana: O Pai Natal decidiu reformar-se e as entrevistas começam esta semana. Descreve uma dessas entrevistas na perspectiva do recrutador de recursos humanos: A Rena Rudolfo.

Sónia Figueiredo escreve aqui

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Tema #17 A Gorda

12
Jan20

- Então Custódia o que tens achado disto mulher?

- Aí eu tenho apreciaide imense este rega bofie – tu saibes que eu goste d’um rega boife – semanal de históiras e coisas c’agente nunca sabe coméque vão acabar. E tu m’lhér tás contente? Ficaste milionária com compotas e tudo!

- Eu achei esta ideia magnifica, se não fosse este desafio das avestruzes nunca teríamos visto a luz do dia.

- Pois não m’lhér, nem a luz, nem a sombra, nem a escuridão da noite que se encandeia com as estrelas.

- Aí que frase tão erudita. Não esperava isso de ti.

- Sabes c’agente tem de usar lá os temas da bicheza, maneiras que eu fintei à esquerda e esmifrei à direita pa meter esta constatalação. Só não gostei que m’ofendesses tá bem!

- Eu não te ofendi. Ser erudito é uma coisa boa, a menos que sejas o Chagas Freitas.

- Quem é esse? Não me digas que é o morenaço do talhe? Ai eu queria cá dar um abafo ao morenaço do talhe. Ele afinfa-lhe com energia nos bifes de tal maneira que eu até se ma fique cheia de caloires.

- O Pedro Chagas Freitas é um escritor que vende muitos livros.

- Deve tar carregadinhe de carcanhol é o q’ué. Mas eu sou uma m’lhér bem casada não quero mais homens na minha vida.

- Tirando o moreno do talho.

- Isse é o Belzabutre a falar p’la nha boquinha santa.

- Santíssima. Devia ter um altar essa matraca.

- Ai podes crer que sim.

- Queres dizer mais alguma coisa?

- Quere d’zer que gostei muite de participar nesta história, sem mim iste não tinha a mesma alegria, o mesme movimente, o mesme suspense. Foi bom e agora tenhe de ir engatar o morene no talhe a ver s’ele m’arranja descontes. E tu, gostastes diste?

- Eu gostei bastante, fiquei a parecer muito mais inteligente que tu, o que não é difícil. Sou milionária por causa de umas compotas e pude assistir às tuas palermices estando sempre de fora.

- E agora?

- Agora voltamos para a gaveta e pode ser que um dia a gente dê uma espreitadela cá para fora.

Tema da semana: Luz e Sombra

A Gorda escreve aqui

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Tema #17 Lara Monteiro

12
Jan20

Desejo-te.


Desejo-te desde o dia em que nos conhecemos. Desde o primeiro dia, soube que eras o homem da minha vida. Aquele por quem sempre tinha esperado. Desde o primeiro dia, o dia em que esse teu olhar penetrante preencheu todo o meu coração. O dia em que, mesmo sem me tocares, todo o meu corpo passou a pertencer-te.


Desejo-te ardentemente, todos os dias. Quero um beijo, um abraço, um carinho...o que for. Quero-te, e ponto final.

Penso em ti. Sempre, a toda a hora. Todos os dias. Penso em nós. Sonho connosco, com o nosso futuro. Não sonho com aquilo que poderemos ser. Sonho com aquilo que poderíamos ser. Sonho com aquilo que teríamos sido se... Merda.

Sonho com tudo. E não tenho nada. Porque és a minha luz, mas também a sombra do meu coração. És o meu tanto, mas também o meu pouco. És o meu copo meio cheio e meio vazio.
És tudo e nada. És luz e sombra. És amor e ódio. És o princípio e o fim.

Afinal, como podemos nós amar alguém que tanto odiamos?

Tema da semana: Luz e Sombra

Lara Monteiro escreve aqui

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Tema #17 Maria Araújo

12
Jan20

Acordou de repente. O corpo dorido da longa viagem que fizera pede mais uns minutos de preguiça. Vira-se sobre si mesma. Pára, aquieta-se.
No silêncio daquele confortável quarto de hotel, a luz da manhã que entra pelo estore da janela forma umas riscas de sombra no seu corpo. Observa esta perfeita harmonia. Sorri.
Ao mesmo tempo que os seus dedos percorrem as sombras do corpo, os pensamentos perdem-se no que fora até então a sua vida amorosa.
Tinha tido vários parceiros, uns mais cultos e bem formados , outros supriam alguma solidão, nenhum conseguira despertar esse sentimento do amor. Há muito que deixara os encontros casuais de meetic, de badoo, de tinder, que pouco ou nada lhe trouxeram de positivo . Mas enquanto não aparecesse aquele por quem o coração batesse forte, estava bem assim, solteira e livre.Também as constantes viagens que fazia não lhe dava tempo para pensar no amor. Mas sentia falta de calor humano.
Espreguiça-se, os braços ajeitam a almofada. O corpo pede mais uns momentos de descanso.
Vira-se de novo. Fica irrequieta.
A luz do dia fá-la sair da cama. A custo, levanta-se.
Aproxima-se da janela e evitando que a luz ofusque os seus olhos, espreita pelas lâminas do estore, quer ver como está o dia lá fora.
Olha o céu, olha o sol, olha o mar.
Tomar um bom pequeno almoço era importante, iria, depois, até à praia estender-se à sombra de um guarda-sol deste hotel em frente à praia, ler o livro, relaxar da viagem, perder o olhar no infinito, apreciar a elegância do vôo das gaivotas.
Umas pegadas na areia chamam a sua atenção. Pegadas de alguém que madrugara cedo, pegadas de alguém solitário.
Abre, então, a janela. O ar fresco da manhã entra pelo quarto. Respira fundo.
Dirige-se à casa de banho, toma um banho tépido, veste uma roupa prática. A manhã está por sua conta.
Já em direcção à praia, volta a olhar as pegadas. Pegadas de solidão que contam segredos, felizes ou infelizes, que ao mar e à praia pertencem.
O seu coração diz-lhe que deve segui-las.
A sua sombra projetada na areia fá-la sorrir. Como se de uma pista se tratasse, quer pisá-las, quer senti-las nos seus pés.
Ela quer que a sua sombra seja a primeira a chegar à última pegada que lhe pode trazer o desvendar de um mistério, quiçá um encontro com um alguém solitário.

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Tema da semana: Luz e Sombra

Maria Araújo escreve aqui

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Tema #17 Fátima Cordeiro

12
Jan20

Intervenção da narradora-autora: E no final, Guillaume voltou para cidade-luz, Matilde mudou-se para a cidade-sombra (1) e Guilherme manteve-se na cidade que fica no Litoral mas toda a gente pensa que fica no Interior. Confusos? Eu explico.

Depois daquela tarde secante no café, com Guilherme, a beber cervejas e a ouvi-lo, Guillaume chegou à conclusão que estava melhor em França, na cidade-luz, no seu apartamento e com o seu namorado. E assim fez. No dia seguinte comprou o bilhete na internet, fez as malas e passados três dias já estava a meter a chave na sua fechadura.

Matilde acordou do coma passado um mês. Vendo-se sozinha, percebeu que a relação com Guilherme não tinha futuro e decidiu divorciar-se. Depois do divórcio conheceu um enfermeiro da sua idade. A sua cara assemelha-se à do Frankenstein boticário dos seus sonhos. Matilde adora-o porque ele a trata muito melhor que Guilherme alguma vez a tratou. O novo namorado trouxe-a para morar na capital do país. Matilde ainda está em período de adaptação à cidade. É tudo demasiado novo para ela. E uma cidade cheia de turistas não é muito acolhedora para os cidadãos do país.

Durante o divórcio, Guilherme vendeu a casa onde morava com Matilde e foi viver para uma residencial, juntamente com Constante. Aos 50 anos + IVA gaba-se de nunca ter sido verdadeiramente adulto. A única coisa que mudou nele, depois das cervejas com Guillaume, foi que deixou de gozar com os homossexuais. Mostra tanto respeito por eles e defende-os tanto, que há que pense na pensão que ele é um deles. Não podiam estar mais enganadas, as más-línguas! Guilherme tem uma nova amante com quem se encontra secretamente.

Tema da semana: Luz e Sombra

Fátima Cordeiro escreve aqui

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Tema #17 Biiyue

12
Jan20

Era parte dela. Uma harmonia entre a luz e a sombra. Mas também uma luta para ver quem iria persistir em grande parte dos dias

Tal como a lua que é mais visível durante à noite, mas "escondida" durante o dia, era assim à sua sombra. Sempre presente, mas empurrada para um canto. Tentativas de adormecer esse seu lado que quando se apoderava do seu corpo, turvava o raciocino e transformava os pensamentos. Emoções e pensamentos reprimidos vinham ao de cima, hábitos há muito deixados gritavam para a dor aparecer e ver sangue correr. Embora ela se encontrar uma espiral até chegar ao fundo do poço quando as sombras apareciam, existia algo de reconfortante. Na escrita que era criada durante esses períodos, as sensações de dor mas de libertaçãoFazia parte da sua essência, não negava, e encarava às suas sombras com brio.

As sombras moldaram-na para conseguir ver a luz. Às vezes mais fraca, outras bem presente a iluminar tudo à sua volta. O seu brilho era por fases, como a lua, ia aumentando e diminuindo. Numa aprendizagem constante, descobria como nutrir a sua luz, como estar em harmonia consigo mesma. Era um trabalho com o seu amor-próprio, a sua intuição, de estar em equilíbrio com as naturezas interior e exterior.

Ela fugia para o seu lugar mágico. Descalça, com um vestido floral pelos joelhos e os cabelos ao sabor do vento, avançava por entre o campo cobertos de pequenas flores amarelas. Ouvia-se os pássaros, os grilos e um riacho a uns metros dela. O céu azul lentamente começava a mudar para tons laranja, a intensidade do vento ia aumentando gradualmente. Recostada a uma árvore, num ponto mais alto daquele campo esverdeado coberto as plantas a dançar sabor do vento, pega no seu caderno com sinais de uso. Abre-o e começa a escrever, deixando-se fundir com aquele ambiente, as cores do céu iam mudando, o som suave do vento a passar por entre o campo, os animais a serem mais ativos com o crepúsculo, o constante passar da água. Timidamente a lua começava a aparecer naquele fogo de artifício de cores.

Onde a luz do dia se deparava com as sombras da noite, ou o contrário?! Quando o sol se escondia para dar lugar à lua. Era uma harmonia perfeita. Ela era como os dias, tinha o seu tempo para a luz e outro para as sombras.

Tema da semana: Luz e Sombra

Biiyue escreve aqui

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Tema #17 José da Xã

12
Jan20

A tela pictórica estendida à sua frente dava-lhe ares a qualquer coisa, mas não se lembrava bem do quê. E já ali estava há um par de horas a observá-la.

De quando em vez um visitante passava, olhava para o quadro e seguia. Outros, tal como ele, ficavam ali mais algum tempo. Sentavam-se ao lado de Malquíades, sorriam para este e raros eram os que partilhavam comentários, sempre em línguas diferentes.

O quadro fora pintado por Beatriz e encontrava-se em exposição numa das mais conceituadas galerias de arte de Barcelona, situada no bairro gótico quase paredes meias com o museu Picasso.

O movimento ao redor da galeria era imenso, essencialmente turistas que passavam, espreitavam, entravam e por fim ficavam espantados com a beleza das telas que a namorada de Malquíades pintara nos últimos anos.

Beatriz, já com uma evidente barriga de grávida, tentava explicar aos visitantes as razões de cada tela num inglês bem pronunciado. Por vezes surgia um ou outro que falava catalão, língua que a pintora também dominava. O problema parecia ser o francês ou o alemão…

Num pequeno intervalo Beatriz sentou-se ao lado do namorado encostou a cabeça a Malquíades e perguntou:

- Há quanto tempo estás aqui sentado?

- Não sei. Perdi a noção dos minutos.

- Gostas deste quadro? – apontando para a tela enorme.

O jornalista luso gostava especialmente daquela tela, mas continuava sem saber as verdadeiras razões da sua preferência. Respondeu à namorada:

- Este desenho é curioso, diferente…

Beatriz ficou em suspenso a aguardar as restantes ideias do namorado.

- A palete de cores com os respectivos contrastes, a profundidade do desenho, aquela silhueta baça…

- Tu davas um excelente crítico de arte – interrompeu Beatriz.

- Nem penses… Não tenho competências para tal…

E mudando rapidamente de assunto:

- Como está a nossa Eva? – e passou com doçura a mão bela barriga redonda da futura mãe.

- Está bem. E recomenda-se… Amanhã vou fazer outra ecografia.

- Vou contigo.

- Acho bem… Ah… ainda não te perguntei… Como foi andar de avião pela primeira vez?

Silêncio.

- Ui… já percebi que não correu bem!

- Correu, correu… Pensei que fosse pior!

Malquíades poisou o queixo nas mãos e perguntou:

- Mas o que será que me lembra este quadro?

Subitamente:

- Como é que se chama?

- “Luz e sombra”!

- Tem piada… este título é o último tema do “Desafio dos Pássaros”!

Tema da semana: Luz e Sombra

José da Xã escreve aqui

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