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Desafio de Escrita

Tema #17 Isabel Silva

11
Jan20

E apareceu a luz

estava claro

havia calor

parecia um sol

encontrei alegria

era aberto

continha amor

 

E veio a sombra

estava escuro

havia frio

parecia a lua

encontrei tristeza

era fechado

continha ódio

 

E o claro e o escuro misturaram-se, numa amalgama de tons, na alma sentiram e ouviram uma sinfonia sem sons.

E a luz e a sombra começaram a dançar, valsaram e enlouquecidos rodopiaram sem parar.

E então pararam e assustados, interrogaram, reclamaram, imploraram, e por fim...choraram.

E entre silêncios e gritos, ambiguidades, sentimentos, dúvidas e certezas, foi criado o coração do bicho, coisa, homem.

Tema da semana: Luz e Sombra

Isabel Silva escreve aqui

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Tema #17 Bla Bla Bla

11
Jan20

Quando vi que o ultimo tema da 1ª edição do desafio dos pássaros era “Luz e Sombra” lembrei-me automaticamente de um livro da Isabel Allende com o titulo semelhante, De amor e de Sombra que, não sendo a mesma coisa, remete para o mesmo, afinal o amor é luz.

E é disso que somos todos feitos. De luz. E de sombra.

Somos capazes dos maiores feitos e das maiores atrocidades.

 

Não acredito que hajam pessoas totalmente luminosas e outras totalmente sombrias. Somos ambas. O ideal, como em tudo, é haver equilíbrio.

E mesmo quando tudo parece sombrio, ao fundo, ás vezes muito ao fundo, á sempre uma nesga de luz.

 

...

 

Há alguns anos atrás, quando voltava para casa vinda da escola, já tarde, noite porque estávamos em pleno inverno, fui rodeada por um grupo de rapazes que me derrubaram ao chão e me apalparam até à alma.

Consegui fugir, ainda que à custa de um braço partido.

 

Em casa, com os meus pais, chamou-se a policia, a ambulância, a minha mãe chorava desalmada, o meu pai cegava de raiva e saía para a rua, às cegas, à procura de vingança.

Eu sabia quem eles eram mas nunca disse a ninguém.

Só um dos policias percebeu que as minhas descrições genéricas não se deviam à memória difusa pelo choque mas sim a uma plena consciência das consequências e implicações que uma denuncia direta teria.

Não temia por mim, mas sim por eles.

Porque sabia que o meu pai, certo ou errado, é um pai com letras grandes, e iria querer acertar as suas contas à margem da justiça.

E por isso, mesmo confrontada, neguei, menti, disse que não sabia quem eram e que nunca os tinha visto antes.

 

Mas vi. Antes. E depois.

A primeira vez que os três me viram de braço com gesso ao peito, ficaram muito aflitos, a olhar em volta à procura da policia ou de algum vingador, e fugiram.

A partir daí, e percebendo que eu me tinha calado, evitavam-me.

Nunca mais me olharam nos olhos. Mudavam de lado no passeio. Foi como se nunca se tivesse passado nada.

 

Passaram-se anos.

Vários.

 

Trabalhava num centro comercial, numa loja e levava comigo, na minha singela mala, 3.500,00 € para fazer o depósito. O banco era mesmo na rua em frente.

E como destrambelhada que sou, meti-me à frente de um carro. A culpa foi minha. Atravessei fora da passadeira, à noite, distraída e sem olhar.

Mas, era de noite. Tarde. E na rua não havia ninguém. O carro não parou. Fugiu.

Á partida sentia-me bem apesar das dores pelo tombo. Mas assim que olhei para a minha perna e vi uma fatura exposta desmaiei.

 

Acordei já no hospital. Aos gritos por causa da mala.

Tiveram de me dar qualquer coisa para me acalmar, e lá me explicaram que estava tudo lá fora com a policia e o rapaz que tinha chamado os bombeiros.

Tanto barafustei que precisava da mala que lá os deixaram entrar.

Veio um policia. E o rapaz com a mala. Que era o mesmo que tantos anos atrás me tinha partido o braço. Eu fiquei branca de certeza. Não estava à espera.

O policia disse que ele se chamava X, explicou que tinha sido ele a encontrar-me e a pedir ajuda. Ele percebeu que estava aflita com a mala e disse-me “Está tudo aí.” E estava. Não faltava nem um cêntimo.

Eu apenas consegui dizer obrigada, com lágrimas nos olhos, as emoções de tudo aquilo a virem todas ao de cima.

 

Todos somos sombra, todos somos luz.

Tema da semana: Luz e Sombra

Bla Bla Bla escreve aqui

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Tema #17 Charneca em Flor

11
Jan20

Patrícia estava à beira da arriba. Atrás de si, os pinheiros da Mata dos Medos onde acabara de dar uma das suas caminhadas. À sua frente, lá bem em baixo, a estrada onde passavam alguns carros, a praia e a imensidão do mar encimada pelo azul do céu. Apesar de ser Inverno, o sol brilhava e afastara as nuvens.
No entanto, aquela luz que a aquecia e iluminava não era capaz de dissipar a escuridão que Patrícia sentia no âmago da sua alma.
Quem via de fora, achava que ela tinha uma vida de sonho. O marido adorava-a, os filhos eram espectaculares e nunca tinham dado qualquer tipo de problema. A família era o seu grande rochedo, a sua rede de apoio que nunca a deixava cair. Os amigos eram os mesmos há muitos anos e formavam uma segunda família. Patrícia trabalhava na área que sempre desejara e tinha condições de trabalho invejáveis. Os rendimentos do casal permitiam-lhes um estilo de vida muito confortável.
A imagem que ela transmitia aos outros era o retrato de uma mulher alegre, feliz e luminosa. Quanto mais a sua vida parecia perfeita aos olhos do mundo, mais sentia que as trevas a invadiam por dentro. Não se sentia verdadeiramente realizada nem a nível profissional nem pessoal e culpava-se por isso.
Estes sentimentos tinham-na levado a pedir ajuda profissional e encontrara um diagnóstico de depressão. Começara a tomar antidepressivos mas tinha abandonado o tratamento sem dizer nada a ninguém. Não queria que se preocupassem com ela. Cada vez mais se sentia um fardo quer para o marido quer para a família e para os amigos.
Só se sentia melhor ali na Mata dos Medos. Sempre achara aquele nome curioso. De onde viria? Para ela era o sítio onde se tentava livrar dos seus receios e dos seus pensamentos tenebrosos. Normalmente resultava mas naquele dia não havia maneira de se sentir mais leve. Aliás havia um pensamento que não lhe saía da mente, uma solução para aquela escuridão. Ali, no cimo da arriba, Patrícia sentia-se dividida. Tinha vontade de saltar na direcção da luz que vinha do mar mergulhando nas trevas da morte para acabar, de vez, com aquele sofrimento. Mas também havia algo que a puxava de volta para a sombra acolhedora dos pinheiros e talvez, quem sabe, procurar consolo nos braços daqueles que a amavam.

 

Termina assim a minha participação no 1o Desafio de escrita dos Pássaros. Foi uma óptima experiência. Obrigada à organização e aos outros participantes pela partilha.

Para descobrirem as outras participações é só passar por aqui

P.S - Sempre desejei escrever uma história que se passasse na Mata dos Medos .

Tema da semana: Luz e Sombra

Charneca em Flor escreve aqui

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Tema #17 Ana de Deus

11
Jan20

era uma vez uma mulher que vivia numa bolha. em vez de viver a vida que sonhara. sonhava que estava viva. a bolha era translúcida, mas espessa como uma placenta e, no entanto, a mulher era frágil. como se vivesse em ferida. a bolha apenas a protegia quando a mulher sonhava que estava viva. quando a vida era inesperada, a mulher perdia o rumo. o sofrimento era a bolha em que vivia. a verdadeira placenta é regeneradora. a mulher tinha perdido o chão há muito tempo. tinha criado o sonho de estar viva. há muito tempo. um dia deixara de saber sonhar. apenas restava a bolha. e a memória da verdadeira placenta.

era uma vez uma mulher que vivia numa placenta. em vez de sonhar que estava viva. vivia sonhadora. a placenta era espessa, mas translúcida como uma bolha e, no entanto, a mulher era resistente. como se vivesse em celebração. a placenta protegia sempre, mesmo quando a mulher vivia sonhadora. quando a vida era inesperada, a mulher reinventava o caminho. a placenta era a alegria de viver. a mulher tinha perdido o chão há muito tempo. apenas restava a placenta verdadeira. e a mulher tinha renascido. há muito tempo. um dia deixara de saber caminhar. apenas restava voar. e a memória da paz.

Tema da semana: Luz e Sombra

 Ana de Deus escreve aqui

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Tema #17 Mula

11
Jan20

Rio feliz, com candura, e serenamente,
Limpo as lágrimas e escondo o lenço,
Escondendo no lenço a amargura,
Que na alma se crava, de modo denso.


Porque de dia sou luz, sou alegria e multidão,
Mas à noite sou sombra, sou tristeza e solidão!
Porque de dia sou barulho, sou gente com esplendor.
Mas à noite sou silêncio, sou vazio... Apenas dor!

 

Choro triste, sem pudor, mas ternamente,
Escondo o sorriso envergonhado que à luz espreita,
Escondendo no coração a alegria,
Que na alma brota, de modo puro, tão perfeita.


Aceito-me. Não tenho de viver em contra-luz,
Nem contra a luz, nem contra as sombras.
Aceito os meus sorrisos e os meus olhos raiados.
Aceito os dias felizes e os amargurados.


E o que seriam dos dias sem as noites?
Ou então das sombras sem as luzes?
Bem ou mal eu quero sentir,
Nem que em mil pedaços me tenha de partir!

 

 

Tema da semana: Sombra e luz

A Mula escreve aqui

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Tema #17 Joana Rita Sousa

11
Jan20

a alegoria da caverna

um dos textos mais conhecidos da história da Filosofia é a Alegoria da Caverna. trata-se de um texto que faz parte do livro A República, de Platão. neste livro, como em grande parte dos textos redigidos pelo mestre de Aristóteles, a figura central é Sócrates, o filósofo que nada escreveu e que conhecemos pelos diálogos redigidos por Platão. 

neste texto descreve-se a situação dos prisioneiros que se encontram numa caverna e que olham para uma parede onde estão a ser projectadas sombras de uma realidade que não conseguem ver.

a alegria da caverna

sim, se passarmos uma vida a olhar para uma parede, sem nunca ver outra coisa, é fácil habituarmo-nos a isso e chamar-lhe realidade. no texto há um prisioneiro que se solta e que faz um caminho no sentido de perceber se há vida para lá das sombras. e há. é uma realidade muito luminosa, de tal forma que os seus olhos demoram tempo a habituar-se. dói olhar para a luz, como sabemos. quando acordamos de manhã e abrimos os olhos, o processo de abrir a janela e deixar a luz entrar faz-se com alguma calma.

a sombra, ainda que seja um sinal meio distorcido, não deixa de ser um sinal de que há luz. "onde há sombra, há luz." - tal como o onde há fumo, há fogo.

a verdade da luz, nem sempre alegre

a sombra dá-nos conforto. a luz obriga-nos a passar por alguns momentos de dor, de desconforto e por isso hesitamos entre aquilo que já nos é familiar e o que ainda não conhecemos. é humano viver situações como esta, em que temos de escolher: bazamos ou ficamos